No presente trabalho pretende-se discutir sobre o contexto da circulação de ideias no Brasil no século XIX com objetivo de compreender como determinados conceitos e visões se difundiam entre os mais diferentes círculos intelectuais da época. Partindo do pressuposto de que as ideias no Brasil sofriam forte influência de construções teóricas provenientes dos ambientes intelectuais europeus, é possível notar uma espécie de vinculação da História Intelectual brasileira com a europeia. Todavia, essa vinculação não é mais tratada como se as ideias tivessem sido importadas sem qualquer tipo de filtro, como por muito tempo se pensou. As ideias que adentravam nos círculos intelectuais brasileiros sofriam processos de apropriação e ressignificação por parte dos sujeitos, uma vez que esses as liam e as interpretavam de acordo com seus anseios e visões de mundo, e as utilizavam em sua retórica de acordo com os próprios interesses. Assim, este trabalho visa analisar essa dinâmica de circulação de ideias de modo a perceber como determinados conceitos eram apreendidos e ressignificados nos círculos letrados brasileiros. Para tal, parte-se da concepção de que os setores intelectuais e políticos no Brasil Oitocentista eram indissociáveis e que, ao entrarem em contato com ideias estrangeiras, não as reproduziam de forma acrítica e vazia, mas procediam a uma apropriação intelectual que correspondesse tanto aos seus interesses pessoais quanto aos do estrato social ao qual pertenciam. Como exemplo para tal fenômeno, analisa-se o pensamento de Alberto Torres (1865-1917), um intelectual brasileiro que viveu na transição dos séculos XIX e XX e que possuía uma larga trajetória política e intelectual. Por meio da investigação tanto de sua produção intelectual quanto de outras fontes históricas que permitem compreender sua trajetória, pode-se compreender aspectos do seu pensamento político que são pertinentes para analisar o ambiente intelectual do século XIX, principalmente no que diz respeito à ideia de raça, uma vez que na época, havia intensos debates e posicionamentos em torno de conceituações cientificistas e racialistas que pressupunham a hierarquização das raças. Percebe-se que, em sociedades escravistas, como o Brasil no século XIX, esses debates encontravam terreno fértil. Entretanto, o que se quer destacar é que, em autores como Alberto Torres, é possível encontrar formulações teóricas que rompiam com a vertente do racismo científico, apesar de haver um forte teor determinista.
O 4º Seminário de Pensamento Social Brasileiro: intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, será realizado entre os dias 2 e 6 de junho de 2025, no formato híbrido. A programação presencial será realizada nas dependências do CCHN-Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, enquanto a programação virtual será transmitida pelas páginas oficiais do evento no YouTube e pela DoityPlay. Nesta edição contaremos com Conferência de Abertura, Grupos de Trabalho (modalidade virtual) e Conferência de Encerramento. Esperamos retomar o diálogo proposto nas edições anteriores do evento (1º SPSB, 2º SPSB e 3ºSPSB) que resultaram na publicação de livros oriundos das áreas temáticas presentes anteriormente (Coleção Pensamento Social Brasileiro-Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4), publicarmos novos livros oriundos desta edição do evento e que novas conexões possam ser criadas. Com esses sentimentos de alegria e reencontro, lhes desejamos boas-vindas!