O presente trabalho propõe-se a analisar as monografias dos cadetes formandos da Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende - RJ. Sendo a instituição de entrada na vida do oficialato do Exército Brasileiro, a AMAN é central no processo de socialização, formação, instrução e desenvolvimento dos oficiais militares. Ao mesmo tempo, ao analisar o processo de socialização e de ensino nesta instituição, tem-se a condição mínima de se refletir sobre os valores, as ideologias e as visões de mundo que circulam no meio militar e que, dado o caráter necessariamente opaco destas instituições, são difíceis de perceber no cotidiano. Enquanto cadetes formandos, os jovens em último ano de AMAN devem produzir uma monografia para, ao se formarem, fazerem jus ao título de graduados em Ciências Militares. Dado que se passaram pelo menos 40 anos desde a transição política do último general militar para um civil, José Sarney, em 1985, muitos acadêmicos e membros da sociedade civil insistiram que os militares teriam se "adaptado" à democracia, e que as tensões com o meio civil teriam ficado para trás. Entretanto, a chegada ao poder de Jair Bolsonaro e seu grupo de militares do alto comando em seu entorno, trouxe a confirmação de que aquela opinião encontrava-se equivocada. Se os militares deixaram a Presidência do país, se se afastaram do governo (ou governos) de ocasião, nunca saíram da política ou deixaram de fazer política. Mas, para retornar ao ponto de vista anterior, muitos acreditaram que os militares eram outros, que os tempos seriam novos. Assim, era de se esperar que os militares produzissem monografias com temas e visões de mundo diferentes daquelas que lhes foi passada na AMAN, ou melhor, era esperado que nem aprendessem informações ou visões de mundo militares radicais nas salas de aula de seus cursos de formação. Nesse sentido, esperava-se que ideias intervencionistas, golpistas e conspiracionistas não estivessem presentes nos textos dos cadetes, nem no conjunto simbólico e doutrinário da formação da AMAN. Visando estudar tal questão, a saber, como os militares formandos analisavam as temáticas de história e política no Brasil (com o objetivo central de verificar se e como o golpismo ou intervencionismo militar permaneceria circulando na caserna), esse estudo foi realizado, a nível de doutorado, considerando as monografias disponiveis no site da AMAN que datavam do ano de 2016 a 2023. Através da análise de conteúdo e do estudo da formação dos cadetes da AMAN, buscou-se entender como os militares analisavam a democracia no Brasil. Para tanto, as monografias foram selecionadas a partir da busca na base de dados da própria AMAN. Após a entrada no site, buscou-se a aba de “monografias”, no canto direito inferior. Após a abertura da opção, realizou-se a busca no sistema eletrônico do site a partir da utilização dos termos “história” e “política”. Do total de 1.420 monografias, separadas por ano de 2016 até 2023, a busca revelou 153 e 116 resultados, respectivamente. Deste total de 269 monografias (algumas repetidas, pois apareceram nas duas buscas realizadas nos site), selecionou-se 20 monografias, cujos temas mais se aproximaram da História política do Brasil, estudos sobre tradicionalismo e patriotismo militar, ética, moral e o meio militar e guerras culturais e o papel do Exército, que qualitativamente entendeu-se relacionarem-se ao objeto da pesquisa. Os resultados apontam para a permanência um ideário intervencionista tanto no aspecto da formação dos militares quanto na produção desses cadetes. Os valores, normas, ensinamentos e tradições permanecem ativas formal ou informalmente na AMAN, orientando e formando novos cadetes segundo normas e princípios intervencionistas. Além da questão intervencionismo político, destaca-se nos resultados a constatação de que há um componente social no modo de intervenção dos militares. Colocando de outra maneira, um dos aspectos centrais do intervencionismo militar é a defesa da estrutura social brasileira. Nesse sentido, pode-se afirmar que há um diálogo dos militares com o pensamento culturalista conservador, caracterizado pela interpretação de que a história produziu aspectos sociais que devem ser mantidos e inalterados. Todos os movimentos de transformação dessas estruturas sociais são vistos como ataques aos valores fundantes da sociedade, e portanto, legítimos de serem debelados. Nesse sentido, a formação e a produção dos cadetes apresenta diversos elementos desse conservadorismo culturalista, que mantém a perspectiva intervencionista ativa dentro da caserna.
O 4º Seminário de Pensamento Social Brasileiro: intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, será realizado entre os dias 2 e 6 de junho de 2025, no formato híbrido. A programação presencial será realizada nas dependências do CCHN-Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, enquanto a programação virtual será transmitida pelas páginas oficiais do evento no YouTube e pela DoityPlay. Nesta edição contaremos com Conferência de Abertura, Grupos de Trabalho (modalidade virtual) e Conferência de Encerramento. Esperamos retomar o diálogo proposto nas edições anteriores do evento (1º SPSB, 2º SPSB e 3ºSPSB) que resultaram na publicação de livros oriundos das áreas temáticas presentes anteriormente (Coleção Pensamento Social Brasileiro-Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4), publicarmos novos livros oriundos desta edição do evento e que novas conexões possam ser criadas. Com esses sentimentos de alegria e reencontro, lhes desejamos boas-vindas!