Em grande medida, o conceito de contracultura é relacionado a acontecimentos e práticas sociais, culturais e políticas advindas da década de 1960. Geralmente, o conceito é associado as ações de subversão da juventude em alguns recortes geográficos específicos, como Paris, Nova Iorque ou mesmo o Brasil. O conceito de contracultura possui também outros elos que caracterizam as ações e produções de grupos que, mesmo separados, partilhavam do comum sentimento de que era necessário criar algo de novo e que os caminhos da política tradicional e partidária, embora importantes, não correspondiam plenamente como estratégias os seus anseios de mudanças sociais mais imediatas.
Teorizada a partir dos estudos de Theodore Roszak, que até onde se sabe, é um dos elementos base sobre a possibilidade de teorização do termo, uma vez que se constituiu como referencial para um amplo debate sobre a conceitualização que ocorreu no âmbito das ciências humanas e artes em geral, o desenvolvimento do conceito de contracultura a partir da década de 1960 foi se transformando em uma ideia mais geral, por vezes anárquica e niilista, sendo notado e devidamente referenciado em várias outras partes do mundo, pautado por um sentimento crítico sobre a sociedade conforme estabelecida.
Neste sentido, pensando a partir de seus conceitos paralelos como os de “alternativo” e “underground”, a ideia de contracultura neste trabalho será apresentada a partir de uma postura política de contestação ou de resistência à visão dominante, por meio provocações artísticas advindas das histórias em quadrinhos que se colocaram como mais uma opção para o público (ou segmento de público) dentro do mercado. Estas provocações tinham como base o uso da estética do grotesco permeadas por representações de sensações de niilismo que circularam nas páginas da Revista Animal, Feio, Forte e Formal, produzida na cidade de São Paulo na segunda metade da década de 1980.
Para tanto, compreendemos que ideias e atitudes que congregam o conceito de contracultura ganharam contornos diferenciados a partir do que é definido como seu momento de criação, ou seja, a década de 1960. De acordo com o contexto social em que foi entendida, a ideia de contracultura apresenta especificidades que a diferenciam, caracterizam e a definem mediante características próprias. No caso da Revista Animal, Feio, Forte e Formal, postulamos que os principais artistas republicados na Revista eram muito envolvidos com movimentos sociais, e se caracterizam como pertencentes a um grupo contracultural por pautarem a crítica social usando elementos advindos da estética do grotesco e do niilismo, onde é possível perceber os recursos do deboche, do exagero da realidade, da metalinguagem, na intenção do questionamento acerca da importância da suposta autoridade moral e dos bons costumes do cidadão de bem conforme pretendida discursivamente pela então Ditadura Militar brasileira.
Abrindo espaços para quadrinistas de vários outros países, a Revista Animal, Feio, Forte e Formal se constituiu, na década de 1980, como um interessante espaço de circulação de um modelo de pensamento social brasileiro contracultural, construído a partir das histórias em quadrinhos e da prática do fanzine.
Pelo momento de desenvolvimento deste trabalho, tensionamentos, no seio desta temática, tem causado inquietações, sendo que estas arrepsias serão levadas para a apresentação no Seminário e também para o texto final, como as que seguem:
A Revista Animal, Feio, Forte e Formal pode ser considerada um exemplo de contracultura no Brasil do imediato pós Ditadura Militar como sintoma oposto (um outro) à cultura no interior da qual a mesma surgiu ou como possibilidade propiciada pelas brechas existentes nessa mesma cultura, sendo, portanto, dela constituinte?
O 4º Seminário de Pensamento Social Brasileiro: intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, será realizado entre os dias 2 e 6 de junho de 2025, no formato híbrido. A programação presencial será realizada nas dependências do CCHN-Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, enquanto a programação virtual será transmitida pelas páginas oficiais do evento no YouTube e pela DoityPlay. Nesta edição contaremos com Conferência de Abertura, Grupos de Trabalho (modalidade virtual) e Conferência de Encerramento. Esperamos retomar o diálogo proposto nas edições anteriores do evento (1º SPSB, 2º SPSB e 3ºSPSB) que resultaram na publicação de livros oriundos das áreas temáticas presentes anteriormente (Coleção Pensamento Social Brasileiro-Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4), publicarmos novos livros oriundos desta edição do evento e que novas conexões possam ser criadas. Com esses sentimentos de alegria e reencontro, lhes desejamos boas-vindas!