O PENSAMENTO SOCIAL NA “AMAZÔNIA”: Os casos de Arthur Cézar Ferreira Reis e Samuel Benchimol

  • Autor
  • Sonayra dos Santos Carneiro
  • Resumo
  •  

    Na presente pesquisa analisaremos as trajetórias, a produção escrita e os posicionamentos sobre a “região amazônica” de Artur Cézar Ferreira Reis e Samuel Isaac Benchimol, ambos intelectuais amazonenses que contribuíram com a formação do pensamento social na Amazônia. Eles foram localizados em um universo mais amplo composto por outros dez agentes, igualmente professores universitários, a partir de um mapeamento nos repositórios dos programas de pós-graduação em ciências sociais. Por meio de fontes obtidas através de blogs, jornais, livros e plataformas de mídia como YouTube, apreendemos dados relacionados às suas origens sociais, recursos, carreira e produção escrita. 

    Ao circularem entre domínios políticos e culturais, esses agentes estão diretamente envolvidos nos embates visando a produção e a imposição de visões e de princípios de divisão do mundo social, sendo as disputas pelas definições das “regiões” um caso paradigmático (BOURDIEU, 1989).  No caso da “região” e de suas fronteiras, a imposição de suas definições conhecidas e reconhecidas resulta da afirmação, com autoridade, de uma verdade, e produz uma existência daquilo que enuncia (BOURDIEU, 1989). Essas classificações são, por vezes, operadas e representadas por agentes que mobilizam estratégias para usufruir de suas multinotabilidades, podendo então conservá-las, transformá-las e difundi-las nos mais diversos domínios da vida social (GRILL e REIS, 2016).

    As disputas em torno dos critérios legítimos da definição de “região” estão diretamente associadas às estratégias ou aos “projetos” dos “intelectuais” em diferentes domínios, nem sempre excludentes, podendo adquirir contornos mais “culturais” ou “políticos” (CORADINI, 2003). Nesse contexto, destaca-se a importância da reflexão em torno do universo desses produtores de bens simbólicos, dos condicionantes históricos, culturais e institucionais, assim como das condições sociais e concorrenciais que dão oportunidades de se afirmaram como "intelectuais” e das suas modalidades de atuação (REIS, 2013, p. 21).

    Com a análise dos dados, identificamos que tanto Arthur Reis quanto Samuel Benchimol desde o início de suas carreiras demonstraram especial preocupação com a integração da “região” ao restante do Brasil e com o surgimento de uma “identidade amazônica”. Na época em que os agentes estão produzindo intelectualmente sobre a “Amazônia”, as narrativas deixaram de serem “raras” e foram intensificadas em forma de relatos, narrativas em jornais, livros sobre a formação da “região” e o seu papel na composição do Brasil (MUNARO, 2019).

    Nesse contexto, Arthur Cézar Ferreira Reis atuando no Amazonas privilegiou, em seus estudos, a formação do Brasil e da “Amazônia”. Seu primeiro livro intitulado a “História do Amazonas” trata das primeiras representações da “região amazônica”. Entretanto, foi em “A Política de Portugal no Vale Amazônico”, lançado em 1939, que o autor aprofunda seus conhecimentos e estudos sobre a “Amazônia”, demonstrando uma preocupação em valorizar a contribuição portuguesa para “região”. Além disso, como governador, buscou canalizar recursos para ela, fez parte de instituições e centros de pesquisa, como o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA).

     

    Assim como Reis, Benchimol era pertencente a uma elite política, intelectual e econômica da “região”. Agindo em um contexto político após 1964, avaliará positivamente a atuação do governo de Arthur Reis em seus escritos (SILVA, et. al., 2019). Além da “Amazônia”, permaneceu alinhado a assuntos relacionados ao desenvolvimento econômico e publicou, em 1957, “Problemas do desenvolvimento econômico: com especial referência ao caso da Amazônia”. Em outra publicação intitulada “Amazônia: um pouco-antes e além-depois”, enfatiza suas preocupações intelectuais e políticas entre a década de 1940 a de 1970. Estas se direcionavam para “formulação de uma estratégia amazônica”, horizonte teórico e prático para o equacionamento dos “problemas regionais” (SILVA et al., 2019, p. 37). A análise dos perfis e produção escrita dos agentes são reveladoras dos investimentos que produziram ao longo de seus percursos sobre a “Amazônia”, principalmente a formação de um “pensamento social amazônico” e a participação nas formulações de uma “identidade amazônica”. Diante disso, buscamos refletir sobre os princípios de seleção e hierarquização que estruturam os domínios políticos e culturais, bem como as principais formas de representações produzidas sobre a “Amazônia”.

     

  • Palavras-chave
  • Intelectuais, Amazônia, Pensamento social, identidade regional.
  • Área Temática
  • GT6 - Identidades nacionais, a tradição de Pensamento Social Brasileiro e seus críticos
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