Entre Lembranças e Esquecimentos: O Papel dos Historiadores Campistas na Produção da Memória Regional na Primeira Metade do Século XX.

  • Autor
  • Sophia Rodrigues Saraiva
  • Resumo
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    A presente pesquisa busca analisar a influência da produção intelectual de Alberto Frederico de Morais Lamego (1870-1951) e seu filho Alberto Ribeiro Lamego (1896-1985) na primeira metade do século XX em Campos dos Goytacazes, cidade no interior do Estado do Rio de Janeiro. A escolha de tais personagens se deu pela importância destes na memória local de Campos, a partir dos vários lugares de memória (Nora, 1993) existentes e as constantes referências públicas regionais que, até nos dias de hoje, utilizam as obras de pai e filho para pensar a cidade. É a partir das obras que percebemos uma determinada visão do que é ser campista. Por isso, questionamos até que ponto as ideias destes intelectuais expostas em sua produção foram e são legitimadas pelos poderes públicos locais ao dialogarem com a construção de uma sociedade específica.

    Ao pensarmos o espaço geográfico e/ou político, sendo este uma determinada região ou território estabelecido por fronteiras, como o próprio sujeito da história, buscaremos estudar os homens no tempo e no espaço (Barros, 2017). Nesse sentido, entende-se que os laços de pessoalidade e identidade são incorporados na vivência para que indivíduos, que não necessariamente possuem relações de parentesco entre si, considerem-se um só grupo – que nesse caso são os “campistas”. 

    Para tanto, faz-se necessário observar a questão do contexto histórico de publicação das obras selecionadas para análise: Terra Goytacá (1913), A Planície do Solar e da Senzala (1934) e O Homem e o Brejo (1945). Desse modo, busca-se pensar a construção de uma identidade regional a partir desses livros que possuem como foco tratar da geo-história da cidade.  A partir da comparação da produção intelectual de pai e filho, tem-se também como objetivo historicizar a formação e consolidação dos campos disciplinares da História e da Geografia no Brasil durante a primeira metade dos novecentos. Nesse sentido, buscaremos compreender como as disciplinas eram entendidas, visto que Alberto Lamego é considerado um dos maiores historiadores que escreveu sobre Campos, enquanto seu filho, Alberto Ribeiro Lamego, era lido como geógrafo, mesmo que as distinções entre os campos disciplinares não fossem claras até o início dos anos 1940 (Guimarães, 1996).  

    Nas obras que serão analisadas, observa-se uma subjetividade com o local de pertencimento e com a história que está sendo produzida, ao mesmo tempo uma constante necessidade de validação a partir de fontes documentais. Desse modo, a abordagem de pesquisa volta-se para uma perspectiva de história cultural, pensando em uma metodologia baseada na sociologia dos textos, tal como apresentada por Roger Chartier (1992). Nosso viés, nesse sentido, será não o de “celebrar” os grandes feitos do passado da forma como são narrados pelos dois autores, mas sim atentar justamente para o que é festejado, ou rememorado (NORA, 1993, p. 14), de modo a problematizar escolhas que implicam em lembranças e em esquecimentos. 

     

    Ademais, entendemos a importância de instituições nacionais, internacionais e regionais como o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, a Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos e a Academia Fluminense de Letras na validação desses intelectuais. Apesar de tais instituições letradas terem perdido a exclusividade como meios de produção intelectual em História e Geografia após a construção dos cursos de graduação e, posteriormente, de pós-graduação, permaneceram importantes espaços de sociabilidade em torno da pesquisa.  Por fim, a pesquisa se justifica, pois colabora positivamente ao maior entendimento sobre o passado do município e na forma como, no presente, seus habitantes se enxergam como parte de uma coletividade, mostrando que todo pensamento social é construído e, por isso, passa por escolhas que constroem intencionalmente um modelo cívico que precisa ser problematizado historicamente.

  • Palavras-chave
  • História Regional, Memória Social, Identidade, Representação
  • Área Temática
  • GT9 - Pensamento Social Brasileiro e Historiografia: problemas, aproximações, possibilidades
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