O presente trabalho compartilha achados e aprofunda a análise feita em um capítulo teórico da tese de doutorado intitulada “Maré Conservadora e Educação: Análise de Discurso Crítica sobre Políticas Educacionais no Brasil e em Vitória-ES (2010 a 2022)” (VILA REAL, 2023). No recorte temporal de 2010 a 2022, destacam-se especificidades da agenda conservadora para a arena educacional nos períodos pós-impeachment de 2016 e pós-eleição de 2018.
Por meio de revisão bibliográfica, narra-se o processo histórico que compõe o contexto de avanço da maré conservadora no Brasil, caracterizando os atores da nova direita que dele emergem, e situando os think tanks, ao lado das reformas educacionais, como recursos acionados para a disseminação de ideias formativos na educação básica brasileira. No entanto, neste texto avançamos na caracterização desta nova direita para destacar seus traços populistas, visto que justificam a defesa de suas ideologias como sendo a “vontade do povo”, e expandem para a esfera pública suas premissas privadas de cunho conservador: meritocráticas, punitivistas, intolerantes e moralistas.
Neste sentido, a revisão teórica do presente trabalho perpassa a ascensão do conservadorismo no Brasil concomitante ao cenário internacional de crise da democracia, de expansão neoliberal e de processos de desdemocratização. Deste cenário, destaca-se a nova e/ou extrema direita brasileira como ator central, mesmo com perfil heterogêneo: bancadas parlamentares conservadoras (Bala, Evangélica e Empresarial), influenciadores digitais, setores do judiciário e empresariado midiático. Para a promoção de suas ideologias, criam e financiam think tanks que disseminam frames anticorrupção/antipetismo e usam redes digitais para a mobilização social e reconfiguração de percepções públicas.
Além disso, interferem na produção de políticas educacionais organizando grupos de pressão durante consultas públicas e estabelecendo parcerias público-privadas para vender produtos e serviços de gestçao educacional, monitoramento de resultados e formação de professores. Percebe-se que atores conservadores combinam estratégias tradicionais e inovadoras, que perpassam ruas, think thanks, redes sociais e alianças institucionais para disseminar seu ideal de formação humana.
Compreendemos a educação como campo de disputa narrativa entre grupos hegemônicos que almejam reconfigurar projetos pedagógicos da educação básica pública brasileira, de modo que delimitem os ideais de formação humana e direcionem mudanças estruturais mais amplas na sociedade. Neste campo, atores conservadores interferem na implementação de políticas educacionais, favorecendo aquelas que fragilizam princípios de gestão democrática, tais como a militarização de escolas, o fortalecimento do projeto Escola Sem Partido, o incentivo ao homeschooling e reformas como o Novo Ensino Médio.
Por fim, o trabalho discute as dimensões morais, securitárias, neoliberais e intolerantes do conservadorismo contemporâneo, demonstrando que essas forças articuladas produzem uma transformação estrutural no campo educacional, ameaçando a diversidade, os direitos humanos, a gestão democrática e a formação crítica cidadã. Em síntese: conceituamos o conservadorismo, caracterizamos seus atores e situamos think tanks e reformas educacionais como recursos acionados para reconfigurar percepções ideológicas moldando ideais de formação humana na educação básica brasileira.
Conclui-se que é preciso reconhecer a velocidade em que foram implementadas políticas da agenda conservadora no campo educacional e suas respectivas consequências para as pautas de inclusão das diversidades: sofrem retrocessos, censuras e apagamentos. Aos que desejarem fazer frente a essa agenda moralizadora, punitiva, meritocrática e intolerante, é necessário desmistificar a ideia de “povo” composto por normatividades hegemônicas, e destacar nossas heterogeneidades, reconhecendo as diversidades de credo, classe, raça, gênero e sexualidade que compõem a população brasileira.
O 4º Seminário de Pensamento Social Brasileiro: intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, será realizado entre os dias 2 e 6 de junho de 2025, no formato híbrido. A programação presencial será realizada nas dependências do CCHN-Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, enquanto a programação virtual será transmitida pelas páginas oficiais do evento no YouTube e pela DoityPlay. Nesta edição contaremos com Conferência de Abertura, Grupos de Trabalho (modalidade virtual) e Conferência de Encerramento. Esperamos retomar o diálogo proposto nas edições anteriores do evento (1º SPSB, 2º SPSB e 3ºSPSB) que resultaram na publicação de livros oriundos das áreas temáticas presentes anteriormente (Coleção Pensamento Social Brasileiro-Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4), publicarmos novos livros oriundos desta edição do evento e que novas conexões possam ser criadas. Com esses sentimentos de alegria e reencontro, lhes desejamos boas-vindas!