Este trabalho se debruça sobre os jogos discursivos travados no âmbito da imprensa periódica brasileira durante o Primeiro Reinado, com ênfase no biênio 1824-1826. Tal contexto foi marcado por profundas e inflamadas discussões públicas acerca da configuração de um Estado nacional brasileiro. Debatia-se, assim, quais características o novo corpo político deveria adotar para si e, concomitantemente, quais traços deveria rechaçar. Em suma, gestava-se, naquele momento, uma identidade política brasileira. O processo foi marcado por disputas tanto bélicas quanto linguísticas, sendo a imprensa um substancial locus para a configuração de variados projetos. Nos ateremos, aqui, aos empreendimentos públicos encetados por atores históricos conhecidos como áulicos, isto é, homens que dedicaram considerável parte de suas trajetórias políticas à apologia do governo imperial, corporificado pela efígie de Dom Pedro I. Aqui, buscamos investigar como tais sujeitos proveram as bases de um plano identitário específico para o Brasil. Na leitura por eles concebida, os pilares dessa identidade seriam a ordem social, a unidade territorial, a homogeneidade de sentimentos e a aparência de solidez político-administrativa perante o concerto internacional. Para substanciar a proposta, os jornais escritos pelos áulicos em lide recorreram a métodos variados, como a negação de notícias que colocassem em xeque a estabilidade do império. Do mesmo modo, eram divulgadas informações que enalteciam as ações do governo pedrino. Nessa trama narrativa, os rumores, os desmentidos e os esquecimentos voluntários cumpriram papel indispensável. Foram destacados os informes e prognósticos acerca da província Cisplatina (ou Banda Oriental do Uruguai), porção do império que experimentou diversas convulsões políticas e sociais, sendo a Guerra da Cisplatina (1825-1828) o episódio mais expressivo. Outrossim, o tópico do reconhecimento internacional da Independência foi mobilizado pelos homens de letras com o fito de cristalizar o aspecto de ordem e constância preconizado em seu projeto identitário. Diante do exposto, nos interessa averiguar as nuances das linguagens políticas formuladas por tais redatores e as intencionalidades a elas subjacentes. Para cumprir esse objetivo, lançamos mão da metodologia analítica do Contextualismo Linguístico. Representada mormente por Quentin Skinner e John Pocock, a escola de História do Pensamento Político assevera a indissociabilidade entre os significados dos textos do passado e seus contextos originais de produção. Logo, cabe ao pesquisador evidenciar aspectos da vida política, social, cultural e intelectual dos autores investigados, sublinhando as maneiras pelas quais seus escritos reforçaram, rechaçaram ou até mesmo ignoraram os processos históricos ao seu redor. Por fim, sinalizamos que serão analisados jornais das seguintes províncias: Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Maranhão.
O 4º Seminário de Pensamento Social Brasileiro: intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, será realizado entre os dias 2 e 6 de junho de 2025, no formato híbrido. A programação presencial será realizada nas dependências do CCHN-Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, enquanto a programação virtual será transmitida pelas páginas oficiais do evento no YouTube e pela DoityPlay. Nesta edição contaremos com Conferência de Abertura, Grupos de Trabalho (modalidade virtual) e Conferência de Encerramento. Esperamos retomar o diálogo proposto nas edições anteriores do evento (1º SPSB, 2º SPSB e 3ºSPSB) que resultaram na publicação de livros oriundos das áreas temáticas presentes anteriormente (Coleção Pensamento Social Brasileiro-Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4), publicarmos novos livros oriundos desta edição do evento e que novas conexões possam ser criadas. Com esses sentimentos de alegria e reencontro, lhes desejamos boas-vindas!