Como se dá a construção do cânone da História do Pensamento Brasileiro? O que esse processo investigativo costuma revelar sobre as rupturas, permanências, conflitos e consensos da intelectualidade na história do nosso país? Ademais, especialmente quando objetivamos interpretar esses problemas tanto sociologicamente quanto historicamente, quais são as fontes que nos permitem reconstruir parcialmente as relações diacrônicas e sincrônicas nas quais os grandes quadros intelectuais da sociedade nacional foram consagrados como tais por seus pares?
De fato, essas questões, quando alinhadas à uma proposta que nos compele a crítica à História do Pensamento Brasileiro nos convocam de imediato a uma reflexão sobre o tipo de relações políticas e a subsequente forma de organização institucional da qual o resultado é a associação da identidade de uma dada classe e grupo racial às virtudes epistêmicas de uma área de pesquisa. Esse questionamento, com o devido método, não imputa uma simples contestação do cânone, por vezes fundamentada em um historicismo biográfico que nunca chega plenamente a uma crítica profunda da história política das tradições intelectuais, pois consegue apenas desenvolver-se até uma análise ultra recortada de uma única figura, que embora possa vir a dizer muito, não comunica de maneira abrangente sobre as transformações na correlação de forças entre os partidos intelectuais no curso do tempo. Virando assim mais uma nota de roda pé em uma produção científica marginalizada, porque superficial e limitada a uma discussão rasa sobre representação dentro do regime de científico vigente. Logo, uma reflexão sobre as variáveis que estruturam a elaboração de uma memória disciplinar através da produção de uma bibliografia responsável por autorizar e evocar sujeitos com predicativos de raça e classe não pode cair no historicismo laudatório, no essencialismo da particularidade. É preciso ambicionar a investigação da totalidade, ou da totalização, do conjunto de coisas, objetos e ações que sistematizados numa dada racionalidade excludente produzem nos artigos, nas dissertações, nas teses e currículos, os espaços de consagração de alguns poucos mestres brancos, a partir da exclusão de muitos cujos predicativos de raça, ideologia, classe e gênero não integram a composição do grupo intelectualmente dominante.
O 4º Seminário de Pensamento Social Brasileiro: intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, será realizado entre os dias 2 e 6 de junho de 2025, no formato híbrido. A programação presencial será realizada nas dependências do CCHN-Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, enquanto a programação virtual será transmitida pelas páginas oficiais do evento no YouTube e pela DoityPlay. Nesta edição contaremos com Conferência de Abertura, Grupos de Trabalho (modalidade virtual) e Conferência de Encerramento. Esperamos retomar o diálogo proposto nas edições anteriores do evento (1º SPSB, 2º SPSB e 3ºSPSB) que resultaram na publicação de livros oriundos das áreas temáticas presentes anteriormente (Coleção Pensamento Social Brasileiro-Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4), publicarmos novos livros oriundos desta edição do evento e que novas conexões possam ser criadas. Com esses sentimentos de alegria e reencontro, lhes desejamos boas-vindas!