Intelectuais e os discursos do militarismo: a alcunha revolucionária e sua continuidade entre os movimentos tenentistas e a ditadura militar a partir da atuação de Godofredo Tinoco na região fluminense entre as décadas de 1930 e 1960

  • Autor
  • Taiany Felipe
  • Resumo
  •  

    Este trabalho propõe uma análise da atuação intelectual de Godofredo Nascentes Tinoco (1897–1983) na consolidação e difusão de discursos militares ao longo do século XX, com ênfase no período entre 1930 a 1960, a partir da cidade de Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro. Tinoco, advogado, jornalista, escritor e homem público, foi protagonista na articulação de ideias que defenderam sucessivamente os movimentos tenentistas e, décadas depois, a ditadura civil-militar de 1964. Considerando esse contexto de atuação, a pesquisa toma como ponto de partida a constatação de que o conceito de “revolução”, amplamente utilizado por Tinoco para referir a eventos como 1922, 1930, 1932 e 1964, revela uma tentativa de se criar uma linha de continuidade ideológica que sustenta a legitimidade da presença militar na política brasileira. A proposta se insere no campo da história intelectual, especialmente pela chave metodológica do contextualismo linguístico (Quentin Skinner) e pelas formulações de Antonio Gramsci sobre o papel dos intelectuais na disputa pela hegemonia social. O objetivo principal da investigação é compreender como Tinoco buscou  construir, ao longo de mais de três décadas, um discurso coerente ao atribuir ao militarismo um papel regenerador e necessário para os rumos do país, mesmo em contextos políticos bastante distintos. Dessa forma, pretende-se identificar os mecanismos simbólicos e linguísticos que sustentaram essa narrativa, bem como os espaços sociais e institucionais onde ela foi reproduzida. A metodologia baseia-se na análise documental, tendo como fonte principal o acervo pessoal de Godofredo Tinoco, depositado no Arquivo Nacional, que reúne mais de 5 mil itens textuais e iconográficos. Dentre eles, destacam-se as correspondências e a coleção do jornal O Dia, fundado e dirigido por Tinoco, que funcionou como importante veículo de propaganda das ideias militaristas e nacionalistas entre 1924 e 1951. A pesquisa também pretende contextualizar o papel de Campos dos Goytacazes como núcleo simbólico de identidade regional e como território estratégico nas disputas políticas do estado do Rio de Janeiro, uma vez que Aa articulação entre local e nacional mostra-se como chave explicativa para entender o papel de elites regionais, como o grupo nilista do qual Tinoco fazia parte, na produção e circulação de projetos políticos de alcance mais amplo. Assim, o estudo contribui para a compreensão da participação ativa de intelectuais civis na legitimação de regimes autoritários no Brasil e para o debate sobre a construção discursiva da ideia de revolução como um projeto permanente ou linear.  Ao iluminar uma trajetória intelectual ainda pouco explorada pela historiografia, a pesquisa amplia os horizontes da história intelectual brasileira, oferecendo uma leitura sobre como os discursos militaristas foram elaborados e naturalizados no espaço público por agentes civis e regionais. Em tempos em que o papel dos intelectuais e das ideias políticas volta a ser tema de debate público, o estudo de Godofredo Tinoco mostra-se pertinente para refletir sobre a persistência de certos discursos autoritários na cultura política brasileira e campista.

  • Palavras-chave
  • discurso-militar; intelectuais; Godofredo Tinoco; tenentismo; ditadura militar; revolução
  • Área Temática
  • GT12 - Raízes intelectuais das novas direitas latino-americanas
Voltar

O 4º Seminário de Pensamento Social Brasileiro: intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, será realizado entre os dias 2 e 6 de junho de 2025, no formato híbrido. A programação presencial será realizada nas dependências do CCHN-Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, enquanto a programação virtual será transmitida pelas páginas oficiais do evento no YouTube e pela DoityPlay. Nesta edição contaremos com Conferência de Abertura, Grupos de Trabalho (modalidade virtual) e Conferência de Encerramento. Esperamos retomar o diálogo proposto nas edições anteriores do evento (1º SPSB2º SPSB e 3ºSPSB) que resultaram na publicação de livros oriundos das áreas temáticas presentes anteriormente (Coleção Pensamento Social Brasileiro-Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4), publicarmos novos livros oriundos desta edição do evento e que novas conexões possam ser criadas. Com esses sentimentos de alegria e reencontro, lhes desejamos boas-vindas!

  • GT1 - Brasil: encruzilhadas na defesa da democracia
  • GT2 - Cinema e Quadrinhos como categorias de análise acerca do Pensamento Social Brasileiro
  • GT3 - Elites, poder e instituições democráticas
  • GT4 - Estabelecidos e Outsiders do Pensamento Social Brasileiro
  • GT5 - Estudos em música popular e sociedade no Brasil: teoria, método e análises
  • GT6 - Identidades nacionais, a tradição de Pensamento Social Brasileiro e seus críticos
  • GT7 - Indisciplinando o cânone: diálogos, legados e resistências a partir do pensamento afrodiaspórico brasileiro para a compreensão da(s) realidade(s)
  • GT8 - Movimentos sociais, protestos e participação na democracia brasileira contemporânea: perspectivas teóricas e metodológicas
  • GT9 - Pensamento Social Brasileiro e Historiografia: problemas, aproximações, possibilidades
  • GT10 - Pensamento Social Brasileiro nos currículos da educação básica e superior
  • GT11 - Políticas de Ações Afirmativas e o Pensamento Social Brasileiro Contemporâneo
  • GT12 - Raízes intelectuais das novas direitas latino-americanas
  • GT13 - Retomando o Pensamento Social Afro-Brasileiro: Por que agora Crítica dos intelectuais negros ao seu lugar no pensamento brasileiro
  • GT14 - Tecnopolíticas e Sociologia Digital
  • GT15 - Temas, argumentos e arenas na construção das narrativas da Nova Direita
  • GT 16 – Apresentações Coordenadas.