Sob outro compasso: ocidentalização da América Latina no pensamento de Octavio Ianni

  • Autor
  • Meire Mathias
  • Resumo
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     INTRODUÇÃO

    Diferentes autores utilizam a metáfora do labirinto como referência da América Latina, o que significa certo consenso quanto à adoção do mito de origem, ou melhor, da ideia de aprisionamento de uma criatura em um labirinto como forma de conter a sua bestialidade. No caso do mito, temos a prisão do Minotauro em um labirinto construído por Dédalo no palácio de Cnossos, em Creta. No caso da América Latina, a simbologia teve início na obra de Octavio Paz, O Labirinto da Solidão (1950), ensaio sobre a filosofia e cultura mexicana, quiça, sobre as origens da identidade latino-americana.

    A despeito do uso inicial e seus elementos, a metáfora do labirinto segue sendo empregada por autores latino-americanos como Alejo Carpentier, Jorge Luis Borges, Anibal Quijano, entre outros, e igualmente por Octavio Ianni que, a partir do labirinto, avista uma configuração da América Latina que dá sentido à noção de emaranhado, de algo preso em rede, feito de tramas. No modo labiríntico do pensamento de Ianni, a compreensão da região latino-americana e as ilhas do Caribe, implica que se leve em conta a heterogeneidade de seus elementos sociais, políticos, militares, culturais e linguísticos, o que não significa recusa à sua dimensão integral ou a ideia de unidade, mas o reconhecimento da complexidade de uma realidade histórico-social que demanda a consideração de diferentes dimensões que compõe a noção do conjunto da região.

    Na agenda de pesquisas dedicadas a compreensão desse labirinto, ao longo de décadas, Octavio Ianni constrói a ideia de América Latina como algo que compendia diversos temas, distintas perspectivas explicativas, diferentes e/ou divergentes visões da história e o uso de múltiplas categorias sociológicas. Verifica-se que em seus estudos, o pensamento social ganha centralidade, porque, não só expressa, como também constitui a noção de América Latina, visto que é uma sinopse das diversidades e antagonismos presentes no processo de constituição e transformação da região. Não sendo possível, portanto, abandonar a consideração deste pensamento na construção da problemática latino-americana como ideia e história.

    Isto posto, neste escrito, nosso objetivo é apresentar no pensamento de Octavio Ianni uma parcela de suas elaborações na construção da ideia de América Latina, em especial os fundamentos da análise sobre os sentidos do processo de ocidentalização na região. Para tanto, parte-se do pressuposto que, na concepção do autor, a história da América Latina pode ser vista um tópico da história da ocidentalização do mundo, inclusive, porque lança reflexões desafiadoras para se analisar na contemporaneidade. Contudo, seu interesse pelo tema está em compreender as concretizações desse processo nos países latino-americanos em níveis sociais, dado o entendimento de que, na medida em que se opera no sentido da ocidentalidade as contradições emergem, pois, redefini-se até mesmo anula-se realidades e heranças indo, afro e até mesmo ibero-americanas.

    Além disso, na interpretação de Ianni, a ocidentalização da América Latina é um processo múltiplo e contraditório, com projeções e assimilações díspares, que tanto o pensamento latino-americano revela quanto o pensamento europeu identifica, mas não alcança. Nesse sentido, refletimos se a particularidade da ocidentalização na América Latina pode ser compreendida enquanto um capítulo da história da ocidentalização do mundo?  A resposta afirmativa para essa questão implica que se adote determinada linha de raciocínio em que tanto se admite que a partir do século XIX o processo de ocidentalização ganhou proporções totalizantes, quanto se reconheça que apesar do alcance o processo se realizou com distinções para além do assentamento cartográfico, de fato, significativas em suas dimensões histórica e social.

     

    DESENVOLVIMENTO

    De início e forma breve, faz-se necessário esclarecer que a reflexão acerca do modelo de civilização ocidental mobiliza considerações acerca do processo histórico e político que baseiam interpretações analíticas sobre organizações sociais no âmbito das relações entre sociedade e Estado, sem deixar de ressaltar que o ordenamento ocidental corresponde à consolidação do Estado e ao espírito capitalista. Dito em outras palavras, a racionalidade econômica orienta o sentido da ciência, das ideias e o trabalho, determina a estrutura social e as formas de sociabilidade em uma sociedade de classes, tendo em vista impetrar a modernização de maneira cabal, a partir de uma determinada organização do poder político no Estado.  

    Em seus estudos sobre a Sociologia e a modernidade, ao analisar o Mundo Moderno, Ianni registra discordância das interpretações sociológicas que veem a modernidade como espetáculo, algo que possui uma força maior, que arrasta as pessoas e as coisas, “uma espécie de pathos assustador e fascinante” (IANNI, 1988, p. 34). Evidente que ele não se contrapõe a ideia da “força das coisas na modernidade” que estabelece relações, processos e estruturas que determinam componentes da vida social, o desacordo está na não consideração de que as relações entre dominantes e dominados, dirigentes e subalternos, estão atravessadas por forças que carregam indivíduos, grupos e classes sociais, além de ideais, utopias e ideologias. Em suas palavras, “na sociedade burguesa a luta pelo poder comanda o destino dos homens, incutindo-lhe o mistério do pathos” (p. 34). A sua divergência com essa ideia funda-se na avaliação de que está em causa, na interpretação sociológica, apreender as transformações e crises, bem como, impasses do Mundo Moderno. De outra parte, interpreta que a história da modernidade é a história da luta de classes, que produz uma sociedade com desigualdades, muitas vezes, encobertas ou explicadas pela narrativa das diversidades entre indivíduos, grupos classes e regiões. A desconsideração dessa interpretação crítica impede que se aviste o “componente de barbárie que acompanha a Modernidade” (IANNI, 1988, p. 37).

    Estamos dizendo que Ianni reconhece a hegemonia dominante ocidental na América Latina, mas não sem refletir que a hegemonia é um processo em disputa e que ideias e processos sócio, político, econômico e culturais criam inflexões ao modelo único e universalizante que busca de estabelecer por definitivo o predomínio da cultura e dos valores ocidentais, coloniais e/ou imperialistas. Deste modo, descreve que no vasto e complexo processo de ocidentalização, insere-se uma a uma e por fim todas as sociedades da América Latina. Elementos notáveis indicam os caminhos que conduziram à ocidentalização na América Latina, tais como: catolicismo, protestantismo, liberalismo, progresso, evolução secularização, racionalização, modernização, representação, legitimidade, cidadania, democracia e outras (IANNI, 1993, p.116; 1998, p.34; 2002, p.30). No campo do pensamento, características expressivas da ocidentalização na América Latina foram se definindo ao longo do século XX e podem ser identificadas nos temas relativos ao positivismo, liberalismo, marxismo, linguística, fenomenologia, entre outros, incluídas as correntes na esfera das artes como romantismo, realismo, surrealismo para citar alguns.

    Na incursão sobre as passagens para a ocidentalização na América Latina, Ianni retoma parte da produção latino-americana a fim de perceber, em diferentes obras, alusões concernentes aos indícios de ocidentalidade em “Nuestra America”. Ao que parece, para maior compreensão do processo, o intuito foi apreender o indicativo de problemas de ordem social, política, econômica e cultural, bem como, as condições e impasses da ocidentalização em marcha que constam em registro nas obras selecionadas. No acervo apresentado por Ianni, destacamos algumas obras conhecidas entre intelectuais e literatos:

                                    i.            Facundo de Domingo F. Sarmiento;

                                  ii.            Ariel de José Enrique Rodó;

                                iii.            Sete Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana de José Carlos Mariátegui;

                                iv.            O pensamento Latino-Americano de Leopoldo Zea;

                                  v.            As correntes literárias na América Latina de Pedro Henriquez Ureña;

                                vi.            Raízes do Brasil de Sergio Buarque de Holanda;

                              vii.            O Labirinto da Solidão de Octavio Paz;

                            viii.            A Pátria Crioula de Severo Martínez Peláez;

                                ix.            Caliban (Notas sobre a Cultura de Nossa América) de Roberto Fernández Retamar;

                                  x.            Canto Geral de Pablo Neruda.

     Os impasses e contradições da ocidentalidade também são conferidos no percurso investigativo de Ianni que, particularmente refere obras e autores latino-americanos das ciências sociais que se dedicaram ao estudo e desenvolveram ideias sobre desenvolvimento, subdesenvolvimento, industrialização, modernização, periferia, liberalismo, tirania, democracia e revolução, entre outras. Nessa perspectiva, considerando a seleção de obras realizada por Ianni, dentre as mais conhecidas, mencionamos:

                                    i.            A Democracia no México de Pablo González Casanova;

                                  ii.            A Revolução Burguesa no Brasil de Florestan Fernandes;

                                iii.            Classe, Estado e Nação no Peru de Júlio Cotler;

                                iv.            O Desenvolvimento do Capitalismo na América Latina de Agustin Cuevas;

                                  v.            Ideia e Questão Nacional Latino-Americanas de Ricauarte Soler;

                                vi.            A Tradição Centralizadora na América Latina de Claudio Veliz;

                              vii.            Estado e Política em Colômbia de Francisco Leal Buitrago;

                            viii.            Perfis da Revolução Sandinista de Carlos M. Vilas.

     

    Sem deixar de referir na da pesquisa de Ianni, o registro de obras de cientistas sociais europeus e estadunidenses que escreveram sobre a ocidentalidade na América Latina, tais como:

                                    i.            América Latina (Estruturas Sociais e Instituições Políticas) de Jacques Lambert;

                                  ii.            Palavra e Sangue (Política e Sociedade na América Latina) de Alain Touraine;

                                iii.            A Sociedade Problema (Reação e Revolução na América Latina) de Kalman H. Silvert;

                                iv.            O Espelho de Próspero de Richard M. Morse.

     

    Evidente que Ianni indica a heterogeneidade entre as obras naquilo que se refere ao avanço de conquistas sociais e do desenvolvimento socioeconômico. Sob essa perspectiva, avalia que os autores se diferenciam enquanto céticos, pessimistas e otimistas em relação às possibilidades de modernização, organização política dos grupos subalternos, democracia e a ideia de cidadania. A recorrência de golpes de Estado, ditaduras civis ou militares e governos tiranos na América Latina no âmbito da ocidentalidade constituem processos impeditivos ao adiantamento de projetos e conquistas sociais, políticas e culturais. O romance de Gabriel Garcia Márquez, “O General no seu Labirinto”, é mostra das contradições impostas à America Latina no sentido da ocidentalização. Destaca-se uma pequena parte do longo trecho reproduzido por Ianni:

    “Somos um pequeno gênero humano. [...] A América é ingovernável, aquele serve à revolução ara no mar, este país cairá sem remédio em mãos da multidão desenfreada para depois passar a tiranetes quase imperceptíveis de todas as cores e raças” (Garcia Márquez, 1989, p. 44, 85 e 259, apud Ianni, 1993, p. 119-120).

     A passagem no romance de Garcia Márquez é chave de uma reflexão de Ianni acerca da ocidentalidade na América Latina, não somente em relação às críticas, ironias ou descréditos de parte de alguns escritores europeus ou estadunidenses, sobretudo de características registradas por autores latino-americanos. Deste modo, escreve Ianni:

    “O que parecia o lugar do Paraíso, El Dorado, Terra Sem Males, aos poucos revelou-se um lugar problemático, surpreendente, caleidoscópico, insólito. O lugar em que os padrões e valores da cultura europeia nas versões originais ou norte-americanas, aparecem distorcidos, definhados” (Ianni, 1993, p. 120).

     No pensamento de Ianni, a realidade social nas sociedades latino-americanas podem revelar algo genuíno que confronta ordem das coisas em perspectiva hegemônica, pois, os ritmos se criam sob outro compasso: as ideias, propósitos e responsabilidades ocorrem de maneira própria oferecendo pistas para a compreensão de que não é por acaso que o catolicismo se mescla com elementos indignas e africanos, que o liberalismo acomoda forte dose de corrupção, que a democracia prospera e perece com muita rapidez. Essa característica divergente na dinâmica dos acontecimentos não é facilmente aceita ou compreendida, menos ainda pelos europeus e estadunidenses que, não raro, produzem análises em que classificam a ocidentalidade latino-americana como precária, desvirtuada ou mesmo impraticável. Nos termos do liberalismo econômico e imaginário democrático, o que a realidade revela é a não conformação às coordenadas do modelo de civilização ocidental, pois, “no vasto e intricado espelhismo em que se revela a América latina, conceitos e ideias parecem extraviados” (Ianni, 1993, p.122).

    A ocidentalização da América Latina vista deste modo, é um processo contraditório, com avanços, retrocessos e momentos de estagnação que podem ser percebido nas trajetórias do pensamento latino-americano, que revelam três grandes tendências da cultura latino-americana em sua ocidentalidade: colonialismo, nacionalismo e cosmopolitismo (Ianni, 2002, p. 4-5).  Ianni, em concordância com Mariátegui, tem a percepção de que a combinação e/ou especificação dessas tendências influenciaram não somente a literatura, mas também a produção cultural, as artes, as ciências sociais e a filosofia, o que favoreceu a composição do pensamento latino-americano com características típicas como ecletismo e exotismo.

    A história das ideias na América Latina e em particular no Brasil (IANNI, 2000; p. 57-62), acontece numa espécie de movimento de equilíbrio instável, pois, se por um lado, grupos e classes das sociedades nacionais, orientam-se no sentido de afirmar identidades, por outro lado, não é descartável a instrumentalização do pensamento latino-americano, por exemplo, na observação da orientação da ação social e a influência de ideias positivistas e evolucionistas. No entanto, concomitantemente, o pensamento latino-americano inova e reflete sobre questões nacionais, a partir de correntes de pensamento distintas daquelas que são oriundas dos países europeus ou mesmo dos Estados Unidos da América, por exemplo, na influência mútua com o pensamento cepalino, teoria da dependência, pedagogia do oprimido, entre outros.

    Nas palavras de Ianni, “no empenho de buscar a contemporaneidade, de ser contemporâneo do seu tempo, o pensamento latino-americano revela também, um contínuo ou periódico desencontro com a realidade” (Ianni, 1993, p.123). Essa formulação reconhece a força e a atração pelas ideias, conceitos e teorias europeias e estadunidenses, ao mesmo tempo em que distingue o desafino entre a realidade latino-americana e o processo de ocidentalização levado a cabo nos países acima da linha do equador, já que as contradições e os interesses distintos por parte de, e entre, nações se manifestam. Na compreensão dessa inflexão, o autor faz referência à existência de um hiato entre a realidade e a reflexão, o pensamento e o pensado, como se a realidade ocidental referisse e não referisse à realidade latino-americana.

    Sob o prisma metafórico do caleidoscópio, Ianni assinala que a realidade latino-americana ocidentalizada também pode ser vista como uma real dimensão do processo de ocidentalização e, nesse sentido, revelar que o Ocidente se constitui de dimensões dessemelhantes da realidade ocidental da Europa e dos Estados Unidos da América. Não por acaso, desde as independências, ocorrem intervenções, sanções ou mecanismos de controle por parte dos países centrais, hegemônicos, sobre os países periféricos latino-americanos, que expressam formas de indução ou imposições voltadas para os rumos do desenvolvimento socioeconômico.

    Assim sendo, em Ianni, o ecletismo no pensamento latino-americano não é apenas uma paráfrase, trata-se de um fruto forçoso do cosmopolitismo, que se insere na interlocução múltipla e interfere na capacidade de absorver criticamente ou não as chamadas culturas dominantes e construir uma visão própria. “Visão às vezes não contemporânea, temporã” (Ianni, 1993, p.131).

    Apesar disso, para Ianni, as sociedades latino-americanas seguem desenvolvendo respostas originais à ocidentalização. Para o autor, o barroco latino-americano, a teologia da libertação, a sociologia do desenvolvimento, entre outros temas e conceitos, constituem um conjunto de contribuições originais que alteram a lógica do simples espelhismo, porque, em alguma medida, alteram a composição das formas de vida e trabalho, patrimônios culturais e a noção de passado e presente.  Entre os muitos escritores, artistas e pensadores considerados por ele como inovadores ou originas, menciona: Jorge Luis Borges, Juan Rulfo, Gabriel Garcia Marquéz, Pablo Neruda, Portinari, Villa Lobos, Mariátegui, Octavio paz, Antonio Vieira, Aleijadinho e outros. Confere igualmente que “a irreverência e carnavalização podem emergir por dentro e por fora dos cânones ou paradigmas às vezes demasiadamente codificados” (Ianni, p.138).

    Em uma das suas mais belas traduções - parafraseando Caetano Veloso, Octavio Ianni escreve que na “América Latina na qual se inventam o Paraíso e Eldorado, a Civilização e a Barbárie, o escravo e o senhor, o gringo e o criolo, o homem cordial e a antropofagia, a raça cósmica e a democracia racial, a teologia da libertação e o realismo mágico, o golpe de Estado e a revolução socialista, Martin Fierro e Macunaíma, Próspero e Caliban(IANNI, 2002, p.5), se configura uma realidade geo-histórica, político-econômica e sociocultural complexa, heterogênea, contraditória e errática (IANNI, 2002, p.7). Em Nuestra America, em sua ocidentalidade, se vivencia novas formas de vida e cultura, concomitante a elaborações de ajustes que garantem certa conservação dos aportes culturais aztecas, maias, quetchuas, aymaras, guaranís, tupís e outros; bem como de culturas africanas, além das ibéricas e outras europeias; além de eslavas, árabes e asiáticas.

    Cabe notar que as inquietações relativas à “autenticidade inautenticidade-originalidade” são uma diástase para que os latino-americanos descubram, criem ou inventem outros e novos conceitos e categorias, assim como metáforas e alegorias, explorando outros sentidos de espaço e tempo, continuidade e descontinuidade, recorrência e ruptura. Significa que, sob o prisma do pensamento latino-americano, para Ianni a América Latina existe, torna-se realidade e configura-se, sem nunca parecer completa. Segue enigmática, como o pensamento, e manifesta-se em processo histórico-social e cultural de amplas proporções.

     

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

     A América Latina ocidentalizada, não supera a sua posição periférica na realidade europeia e estadunidense, nem perde importância estratégica em relação aos mesmos. De fato, para Ianni, somente as sociedades latino-americanas desenvolvem respostas originais à ocidentalização na região. Por essa razão, o uso da metáfora de um caleidoscópio no qual os espelhismos mesclam diferentes formas e dimensões da vida social e realidade histórica.

    Em nossa interpretação, a ocidentalização na América Latina na perspectiva apresentada por Ianni, corresponde à dimensão do Labirinto, constituída de influências e ingerências colonizadoras e/ou imperialistas, sem que sejam extintas ou se impeça que renasçam e se fortaleçam as heranças e resistências indígenas e africanas e suas manifestações sociais, políticas e culturais.

    Quanto à metáfora do labirinto, cabe destacar que se a metáfora permanece sendo utilizada por autores latino-americanos, os sentidos atribuídos à mesma também se modificam, considerando que para uns, a permanência da América latina no labirinto significa que apesar de se tratar de um subcontinente com possibilidades infinitas, perde-se em si mesmo e não encontra uma saída. Para outros, as sociedades latino-americanas estão aprisionadas, dentro de um labirinto periférico. Entre os otimistas ou utopistas, a busca por saídas do labirinto significa a constância por novos rumos, ou mesmo, que se trata de “un pueblo sin piernas, pero que camina,” (Calle 13, 2010, Latinoamerica).  

    No nosso entender, no pensamento de Ianni, a identificação do lugar da América Latina no chamado “mapa da civilização ocidental” é uma construção realizada em perspectiva múltipla, crítica, rigorosamente anticolonial e antiimperialista. Do mesmo modo, na consideração do pensamento latino-americano, o labirinto também pode ser visualizado no campo das ideias, no desencontro entre as palavras e as coisas, entre conceitos e significados, entre alternativas e entraves.   

     

    REFERÊNCIAS

    CALLE 13, 2010, Latinoamerica (letra da canção).

    IANNI, Octavio. SOCIOLOGIA DA SOCIOLOGIA LATINO-AMERICANA. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976.

    IANNI, Octavio. A SOCIOLOGIA E O MUNDO MODERNO. São Paulo: EDUC, 1988.

    IANNI, Octavio. O LABIRINTO LATINO-AMERICANO. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993.

    IANNI, Octavio. A questão Nacional na América Latina. p. 03-40. ESTUDOS IANNI, Octavio. AVANÇADOS, IEA/USP, Vol.02, No. 01, São Paulo, 1998.

    IANNI, Octavio. Tendências do pensamento brasileiro. p. 55-74. TEMPO SOCIAL. São Paulo: USP, 2000. 

    IANNI, Octavio. ENIGMAS DO PENSAMENTO LATINO-AMERICANO. São Paulo: IEA/USP, 2002.

     

     

  • Palavras-chave
  • Octavio Ianni, América Latina. pensamento social, ocidentalização.
  • Área Temática
  • GT9 - Pensamento Social Brasileiro e Historiografia: problemas, aproximações, possibilidades
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