Manuel Querino, um interprete negro

Manuel Querino, um interprete negro

• Autor
• Fernando Filho
• Resumo

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  Manuel Querino nasceu na cidade de Santo Amaro da Purificação em 1851, na região do Recôncavo baiano, filhos de pais libertos que foram ceifados pela grande epidemia de cólera em 1855, que dizimou uma boa parte da população escravizada e libertos pobres. Após esta tragédia, Querino foi adotado pelo Dr. Manuel Correia Garcia, homem letrado que desde cedo incutiu no jovem negro, o gosto pelas letras, a pintura e as artes em geral. No início da sua fase adulta foi recrutado para a Guerra do Paraguai (1855-1880), exercendo a função de escrevente no batalhão do Rio de Janeiro. Retornando para Salvador, se engajou na luta abolicionista e operária e em paralelo se dedicava a formação de artista e ao ensino técnico como docente em colégios daquele período. No período republicano, se tornou o primeiro vereador da capital baiana e foi sócio do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, na qual atuou em diversas comissões e aproveitando da circulação por este espaço, pode escrever uma série de artigos para a revista do instituto em que suas ideias passavam por descrever sobre a arte baiana até um papel interpretativo sobre a formação brasileira, destacando o papel positivo da cultura popular negra na contribuição destes debates. Estes textos refletem os inúmeros problemas que a população negra enfrentava no pós-abolição, entre os quais, as dificuldades de acesso ao trabalho e à educação, a manutenção ou preservação dos laços culturais, o enfrentamento ao racismo e a estigmatização e principalmente, garantia de uma cidadania.

  A fortuna teórica de Querino, pode ser divididas em duas fases, na qual, a primeira (1903-1916) em que versam sobre o papel das artes, artistas e trabalhadores manuais da sociedade baiana, como por exemplo, Artistas baianos (1906), As artes na Bahia (1909), “Contribuições para a História das Artes na Bahia” (1908,1911), “Teatro da Bahia” (1909) e “A litografia e a gravura” (1914). Já a segunda fase (1916-1922) foi marcada por uma nova orientação temática, com pesquisas de cunho socioantropológica e histórica, debatendo temas sobre a cultura, memória e oralidade do povo negro se ancorando especialmente em uma metodologia etnográfica ou em arquivos e acervos da época. Fazem parte deste período, textos como A Bahia de Outrora – vultos e fatos populares (1916), A Raça Africana e os seus costumes na Bahia (1916), “O colono preto como fator de civilização brasileira” (1918) e “Os homens de cor preta na História” (1923), e as obras póstumas A arte culinária na Bahia (1928) e Costumes africanos no Brasil (1938). Portanto, a pesquisa em andamento se propõe investigar a trajetória deste intelectual e as suas contribuições no campo do pensamento social brasileiro, estudos raciais e sociologia dos intelectuais, alargando os estudos que vêm mapeando atualmente os debates sobre autores e autoras negras que ajudaram a construir as interpretações sobre os problemas centrais da sociedade brasileira e pensar os mecanismos que fizeram muitos destes intelectuais negros não terem um reconhecimento visível na área dos estudos do pensamento social brasileiro.

   

   

• Palavras-chave
• Manuel Querino - Raça - Pensamento social - intelectuais negros
• Área Temática
• GT13 - Retomando o Pensamento Social Afro-Brasileiro: Por que agora Crítica dos intelectuais negros ao seu lugar no pensamento brasileiro

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