Esta pesquisa analisa a discussão sobre o conceito de família no Legislativo brasileiro. Por meio de uma análise documental do Estatuto da Família discutimos a abordagem feita ao mesmo por parte de parlamentares conservadores.
Abordamos processo histórico e discursivo que culminou na formulação do Estatuto da Família, destacando a mobilização conservadora em torno da defesa da família tradicional e a reação a propostas que buscavam reconhecer diferentes formas de organização familiar, especialmente aquelas que incluíam uniões homoafetivas. Há décadas, parlamentares conservadores demonstravam resistência a avanços nas pautas de gênero e sexualidade, entendendo políticas de diversidade como ameaças à ordem moral.
O conceito de "família" no Brasil é marcado por uma construção ideológica que remonta à ascensão da família nuclear burguesa, dominante desde a modernidade, e se entrelaça com a história da colonização e a estrutura patriarcal. O debate sobre a família tem se intensificou no cenário político, especialmente com a proposta do Estatuto da Família (PL 6.583/2013), que define a família como a união entre homem e mulher, excluindo outras formas de arranjo familiar, como uniões homoafetivas.
As discussões parlamentares revelam uma crescente sacralização do espaço legislativo e uma articulação conservadora que visa reverter avanços nas pautas de direitos humanos e reconhecimento das diversidades. A agenda conservadora de uma direita parlamentar ascendente tem sido central no Congresso, com destaque para a Frente Parlamentar Evangélica, que se consolidou após as Jornadas de Junho de 2013.
Analisamos o contexto político brasileiro entre 2011 e 2015, destacando a ruptura do consenso participativo e a ascensão de movimentos conservadores, com especial ênfase no papel das manifestações de 2013. A oposição ao governo Dilma Rousseff, até então dissociada da opinião pública, se reorganizou após esses protestos, em um cenário global de ascensão da direita populista. A atuação de Eduardo Cunha como presidente da Câmara e sua estratégia de obstrução ao governo contribuiu para a crise de governabilidade do PT, exacerbada pela crise econômica e escândalos de corrupção, como a Operação Lava Jato.
Esse momento de fragilidade política foi acompanhado pela crescente polarização e pelo desgaste das alianças no Congresso, incluindo a relação tensa entre o