As transformações políticas e sociais que varreram múltiplos setores da sociedade brasileira na última década ainda estão sendo assimiladas – quer pela literatura especializada e seus produtores, quer pela própria sociedade e seus atores. Tendo como marco inicial simbólico as Jornadas de Junho de 2013, trata-se de uma linha temporal que assistiria ainda ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e, em um contexto cada vez mais inclinado à extrema-direita, à vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018.
Nesse contexto, o campo do futebol, com o perdão do trocadilho, se destaca como um dos cenários mais emblemáticos. A realização da Copa do Mundo em 2014 no território nacional e a onda de protestos contra o evento, o uso da camisa da seleção brasileira como símbolo dos movimentos antipetista e bolsonarista e a instrumentalização política do esporte pelo governo Bolsonaro são apenas alguns dos exemplos que ajudam a compreender a dimensão de um processo de grande complexidade. Afinal, esse cenário precisa ser entendido como uma via de mão-dupla: ao mesmo tempo que as questões sociais afetam o futebol, o futebol produz as suas próprias questões.
Um dos fenômenos produzidos no âmbito futebolístico, e que está diretamente relacionado com o contexto descrito, são os Coletivos Ativistas de Torcedores (CATs). Muitas vezes referenciados pelo termo “torcidas antifascistas”, os CATs são um dos principais atores no campo da resistência democrática e da luta contra a extrema-direita no país. Dentro e fora dos estádios, a atuação desses coletivos tem sido objeto de análise e discussão de diversos pesquisadores. Contudo, muito por conta da profundidade, complexidade e importância do objeto, seu potencial de análise ainda tem muito a oferecer para a compreensão das dinâmicas sociopolíticas brasileiras contemporâneas
Aquilo que este trabalho propõe, nesse sentido, é uma análise de viés crítico e engajado a respeito da atuação dos CATs. Para isso, será providenciado, em um primeiro momento, um enquadramento teórico, situando os coletivos no encontro dos Estudos Sociais do Esporte com a Sociologia dos Movimentos Sociais. Nessa etapa, serão mobilizados autores que têm trabalhado a respeito da ação coletiva e do ativismo torcedor, como Felipe Lopes, Caio Pinheiro e Jamie Cleland, e figuras cujo foco recai sobre as dinâmicas atreladas aos movimentos sociais, como Maria da Glória Gohn, Francesca Polleta, James Jasper, Alberto Melucci e Alain Touraine. Em um segundo momento, dois casos serão utilizados como estudos de caso: o Flamengo Antifascista e o Botafogo Antifascista. Através da análise da atuação dos dois coletivos nos últimos anos, serão discutidas temáticas que permeiam seu ativismo, como a afiliação clubística, a rivalidade, a importância da memória coletiva e as dinâmicas identitárias. Com isso, se ambiciona, em última análise, a construção de um estudo de caráter interdisciplinar que dialogue diretamente com um dos mais ativos e engajados fenômenos contemporâneos da sociedade brasileira.
O 4º Seminário de Pensamento Social Brasileiro: intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, será realizado entre os dias 2 e 6 de junho de 2025, no formato híbrido. A programação presencial será realizada nas dependências do CCHN-Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, enquanto a programação virtual será transmitida pelas páginas oficiais do evento no YouTube e pela DoityPlay. Nesta edição contaremos com Conferência de Abertura, Grupos de Trabalho (modalidade virtual) e Conferência de Encerramento. Esperamos retomar o diálogo proposto nas edições anteriores do evento (1º SPSB, 2º SPSB e 3ºSPSB) que resultaram na publicação de livros oriundos das áreas temáticas presentes anteriormente (Coleção Pensamento Social Brasileiro-Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4), publicarmos novos livros oriundos desta edição do evento e que novas conexões possam ser criadas. Com esses sentimentos de alegria e reencontro, lhes desejamos boas-vindas!