A detecção de incêndios vegetacionais na Planície Costeira do Rio Grande do Sul a partir do registro de carvão vegetal macroscópico em testemunho de sondagem na turfeira de Águas Claras, município de Viamão, Estado do Rio Grande do Sul, objetivou estabelecer causas de caráter climático e/ou antrópico para a ignição desses eventos. A turfeira de Águas Claras compõe a Unidade de Conservação Refúgio da Vida Silvestre Banhado dos Pachecos e representa grande biodiversidade, incluindo espécies ameaçadas de extinção. As análises do carvão vegetal macroscópico foram realizadas em estereomicroscópio e em microscopia eletrônica de varredura (MEV), e permitiram caracterizar incêndios de superfície, de baixa intensidade e curta duração respectivamente no Pleistoceno superior (aproximadamente 25400 anos AP) e no Holoceno superior (1590-1515 cal anos AP). Ficou afastada a vinculação antrópica para a ignição do incêndio pleistocênico, tendo em vista que as populações pré-coloniais instaladas no Rio Grande do Sul iniciaram o processo ocupação territorial em torno 12000 anos AP. É remota também, a possibilidade de vinculação do incêndio holocênico a atividade antrópica, dado que as populações pré- coloniais que habitavam a região nesse período estão incluídas no grupo de caçadores-coletores-pescadores de paisagens abertas (Tradição Umbu) e Guaranis, caracterizados pela preferência em habitar na proximidade de corpos d’água, identificados pelos vestígios de terra preta e muitos fragmentos de cerâmica. As características culturais desses grupos mostram um padrão alimentar derivado da pesca, da caça de pequenos animais e coleta de vegetais, utilizando o fogo apenas para fogueiras domésticas, proveniente da coleta de madeira tombada em torno da área onde estavam estabelecidos, não indicando incêndios de maior escala, normalmente relacionados ao desflorestamento para a agricultura. O incêndio holocênio pode estar relacionado ao fenômeno La Niña (ENSO) no Hemisfério Sul, caracterizados por resfriamento polar, aridez nas faixas tropicais/temperadas e importantes modificações na circulação atmosférica.
Comissão Organizadora
SIEPEX-UERGS
Adriana Leal Abreu
Diego dos Santos Chaves
Fabiano Perin Gasparin
Alexandro Cagliari
Carla Gonçalves Dellagnese
Viviane Maciel Machado Maurente
Andréa Miranda Teixeira
Celso Maciel da Costa
Comissão Científica