NEM "ALÉM", NEM "CONTRA": MARX NO LIMITE DE MARX. Resposta à crítica de Spence ao "Fragmento sobre a maquinaria".

  • Autor
  • Marcos Dantas
  • Co-autores
  • Monique Fiqueira , Luana Bonone
  • Resumo
  • Esta comunicação visa responder criticamente ao artigo de Martin Spence “Marx against Marx: A Critical Reading of the Fragment on Machines”, publicado em dezembro de 2019 pela revista tripleC: Communication, Capitalism & Critique. Num trecho dos Grundrisse conhecido como "Fragmentos sobre a maquinaria", correspondente na edição brasileira ao tópico “Capital fixo e desenvolvimento das forças produtivas da sociedade”, Marx prossegue sua investigação sobre a incorporação de tecnologia na produção, processo que amplia o valor enquanto libera cada vez mais trabalho vivo. Tal seção apresenta o conceito de general intellect que, apesar de uma única ocorrência em todo o legado marxiano, ainda hoje suscita vivos debates pela sua originalidade e relação com aspectos evidentes do capitalismo contemporâneo. Entendemos que, por intelecto geral, Marx designa a dimensão da atividade intelectual coletiva que passava a se tornar fonte de produção de riqueza – argumento em consonância com a lógica elaborada ao longo do manuscrito. Spence, ao contrário, considera o trecho “estranho” e que diverge do restante da obra e do legado de Marx. Seu diálogo é, principalmente, com o pensamento de Antonio Negri e outros "operaístas" italianos que dão decisiva importância a esse texto na interpretação do capitalismo contemporâneo. Na nossa abordagem, sem tampouco aderir à interpretação negriana, a leitura de Spence sobre o "Fragmento" se mostra fragmentada, aliás, como também a dos "operaístas": é necessário relacioná-lo ao conjunto dos Grundrisse, bem como d'O Capital. Spence entende o processo de produção em si mesmo, ignorando sua relação intrínseca com a circulação do capital, da qual é um momento, conforme Marx frisa muitas vezes nos Grundrisse e n'O Capital. Ele também reduz o conceito marxiano de "capital fixo" a somente maquinaria, ainda que esta possa ser a sua forma mais evidente. O capital fixo é uma forma de capital cujo valor vai se transferindo pouco a pouco para a mercadoria, que só acompanha parcialmente a circulação. Marx estuda o capital fixo quando investiga a rotação do capital, não quando discute o mais-valor relativo. Por isso, o conceito não aparece no famoso capítulo 15 d'O Capital, o que leva Spence a afirmar que Marx o teria abandonado (ele parece não ter lido o livro II)... Entretanto, concordamos com Spence que a interpretação do general intellect como previsão de uma sociedade da “informação" ou do "conhecimento" deve ser criticada, pois essas perspectivas retratam uma sociedade que ainda permanece capitalista. Mesmo que especulativo, esse "Fragmento" mostra como Marx podia imaginar a superação histórica do capitalismo e está em perfeita harmonia com o conjunto do seu pensamento. Porém, não se deve, por isso, afirmar que a sociedade atual já não é capitalista porque aparentaria realizar a projeção do "general intellect". A lei do valor segue operando, embora talvez já no limite descrito por Marx ao longo da sua obra e também do "Fragmento". Esta comunicação articulará o "Fragmento" a outras passagens dos Grundrisse e d'O Capital para situar-nos nem "além" (Negri), nem "contra" (Spence) Marx, mas, sim, na sua hipótese do limite do capital, ainda não ultrapassado.

  • Palavras-chave
  • Grundrisse, Capital fixo, General intellect, Maquinaria, Trabalho
  • Área Temática
  • GT6 – Teoria e Epistemologia da Economia Política da Comunicação
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