Diversidade e mercadorização de pautas sociais: a representação de pessoas transexuais na mídia brasileira

  • Autor
  • Chalini Torquato
  • Resumo
  • Como parte das contradições do Capitalismo, a lógica de mercado que produziu novas ferramentas de comunicação abriu espaço também para formas mais autônomas de construção de sentidos, favorecendo a disseminação de ideias alternativas. Essas disputas de narrativas afetam as relações de poder na constituição de significados e fortalecem o questionamento de valores e normatividades construídos cotidianamente pela mídia tradicional, revelando a violência simbólica praticada às diferentes vivências, na medida em que estabelece tanto o que é normal, quanto o que não é. Na medida em que o desconhecido sobre a alteridade é historicamente moldado pelos discursos midiáticos, portanto, é fundamental exercitar o olhar crítico sobre o condicionamento de visões de mundo e como tem sido permeado por estereótipos (MERSKIN, 2011) e parcialidades de grupos dominantes. Os indivíduos consumidores desse cenário de complementaridade de informações por variados meios passam, então, a se tornar mais atentos e exigentes por conteúdos mais diversos. Tal fenômeno tem impactando notavelmente a produção midiática, algo sentido na medida em que começam a pipocar conteúdos que versem um maior respeito à diversidade, ou seja, uma adaptação que a dinâmica produtiva sofre a partir da demanda, dentro da lógica da competitividade. Para analisar tal fenômeno, a presente pesquisa tem como enfoque escolhido os conteúdos relativos à população transexual na mídia brasileira, buscando observar se as pautas sociais deste grupo minoritário estão de fato encontrando eco nessas produções, ou se podem ser entendidos como uma apropriação de seus temas, como parte do processo de “mercadorização” (MOSCO, 2009). Para avançar neste debate, busca-se uma revisão bibliográfica a partir da Economia Política da Comunicação (EPC) numa perspectiva de gênero (MEEHAN; RIORDAN, 2002; DEPLHY, 2015; FRASER, 2009; KOLLONTAI, 2011; LUGONES, 2019; STEEVES; WASKO, 2002); combinando-a com estudos de identidade, raça, perspectivas decoloniais, contrassexualidade, problematizando regime heteronormativo e opressão sistematizada (PRECIADO, 2015; CURIEL, 2015; LORDE, 2019). A interferência desses aspectos na produção de conteúdo de mídia, em estereótipos (MERSKIN, 2011) e na representação de pessoas transexuais é analisada a partir de pesquisas referentes a conteúdos publicitários, jornalísticos e de entretenimento (MONTOVANI; FREITAS, 2018; MALTA et. al, 2018). Entre as principais conclusões está a observação do quanto as representações midiáticas têm cedido a uma normatividade para construir narrativas mais aceitáveis para o olhar do grande público, tendendo a não confrontar padrões dominantes. A presente pesquisa é justificada, entre outras, por resgatar uma visão feminina da EPC, tradicionalmente negligenciada. Além disso, ela faz parte de um esforço maior de avançar na construção de laços integradores para a percepção de fenômenos sociais midiáticos contemporâneos dentro do sistema capitalista (WASKO, 2006).

    Referências

    CURIEL, Ochy. La descolonización desde una propuesta feminista crítica. in Feminismo siempre: descolonización y despatriarcalización de y desde los feminismos de Abya Yala. ACSUR-LAS SEGOVIAS, 2015.

    DELPHY, Christine.  O inimigo principal: a economia política do patriarcado. Rev. Bras. Ciênc. Polít. [online]. 2015, n.17.

    FRASER, Nancy. Feminismo, capitalismo e a astúcia da história. Mediações, Londrina, v. 14, n.2, pp. 11-33, Jul./Dez. 2009.

    KOLLONTAI, Alexandra. A nova mulher e a moral sexual. Expressão popular, 2011.

    LORDE, Audre. Idade, raça, classe e gênero: mulheres redefinindo a diferença. In HOLANDA, H.B. Pensamento feminista: conceitos fundamentais. Rio de janeiro: Bazar do tempo, 2019

    LUGONES, María. Rumo a um feminismo decolonial. In Hollanda, Heloísa Buarque de (org.). Pensamento feminista: conceitos fundamentais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019.

    MALTA, Renata B.; OLIVEIRA, Gardênia S.; NETTO, Nilson D.B. A representação de pessoas trans na publicidade: um estudo de recepção. In TORQUATO, Chalini; CARRERA, Fernanda. Mídia e Diversidade: caminhos para reflexão e resistência. Campina Grande: Xeroca!, 2018.

    MEEHAN, R. Eileen; RIORDAN, Ellen (EDS.). Sex & Money: Feminism and Political Economy or Media. Minneapolis-MN: University of Minnesota Press, 2002.

    MERSKIN, Debra L. Media, minorities and meaning: a critical introduction. New York: Peterlang, 2011

    MONTOVANI, Denise; FREITAS, Viviane. Quando a mídia pauta a transexualidade: abordagens controladas de contra-discursos. In TORQUATO, Chalini; CARRERA, Fernanda. Mídia e Diversidade: caminhos para reflexão e resistência. Campina Grande: Xeroca!, 2018. 

    MOSCO, Vincent. The Political Economy of Communication. 2 ed. London: Sage, 2009.

    PRECIADO, Paul. O que é Contrassexualidade? Territórios de Filosofia. 2015.

    WASKO, Janet. Estudando a Economia Política dos Media e da Informação. In SOUSA, Helena (org.). Comunicação, Economia e Poder. Porto: Porto editora, 2006. Pp. 29-60.

  • Palavras-chave
  • Representação midiática, transexualidade, mercadorização, gênero, diversidade.
  • Área Temática
  • GT8 – Estudos Críticos sobre identidade, gênero e raça
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A Ulepicc-Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura) realiza seu oitavo encontro excepcionalmente na modalidade virtual de 12 a 23 de outubro. O evento prioriza as atividades dos Grupos Temáticos, cada qual com uma mesa e cujas atividades ocorrem em horários diferentes. Os debates são sobre as transformações no sistema capitalista e seus impactos nos campos da informação, da comunicação e das mídias, da cultura e da produção cultural.

O 8º Encontro da Ulepicc-Brasil tem o apoio da Universidade  Estadual de Santa Cruz (UESC) e os anais do evento aqui representados trazem os resumos expandidos aprovados para 8 Grupos Temáticos e para a Jornada de Graduandas/os.  Os Anais do 8º Encontro da Ulepicc-Brasil têm o ISBN 978-65-88480-02-1.

  • GT1 – Políticas de comunicação
  • GT2 – Comunicação popular, alternativa e comunitária
  • GT3 – Indústrias midiáticas
  • GT4 – Políticas culturais e economia política da cultura
  • GT5 – Economia Política do Jornalismo
  • GT6 – Teoria e Epistemologia da Economia Política da Comunicação
  • GT7- Estudos Críticos em Ciência da Informação
  • GT8 – Estudos Críticos sobre identidade, gênero e raça
  • Jornada de Graduandos

Comissão Organizadora

Anderson Santos, Manoel Dourado Bastos, Fernando de Oliveira e Julliana Barra

Comissão Científica

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Rozinaldo Miani (UEL)

Jonas Valente (LaPCom/UnB)

Verlane Aragão Santos (PPGCOM-UFS)

Juliana Teixeira (UFPI)

César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)

Marco Schneider (PPGCI-IBICT/UFRJ e PPGMC-UFF)

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