Neste trabalho, demonstramos como a produção da animação Retrato de Marielle (Portrait of Marielle) atuou como mediadora de uma jornada emocional do medo à esperança, criando conexões entre artivistas (artistas ativistas) no Brasil e no Quênia. O trabalho tem como base as atividades da rede internacional de pesquisas eVoices Redressing Marginality, voltada para a temática da utilização de tecnologias digitais para combater a marginalização social. Sugerimos que as perspectivas teóricas do feminismo interseccional (CRENSHAW, 1991) e, particularmente, de autoras brasileiras negras (RIBEIRO, 2017; AKOTIRENE, 2019) nos fornecem um caminho para essa jornada. Marcando presença nos debates sobre políticas identitárias, tais perspectivas têm sido criticadas por criar divisões em sociedades que já estão divididas. No entanto, nossa pesquisa revela que o feminismo interseccional desempenha o papel oposto, ajudando a conectar realidades de comunidades marginalizadas no Brasil e no Quênia. Isso ocorre porque o feminismo interseccional nos leva a adquirir uma compreensão das complexidades envolvidas nas múltiplas camadas de opressão, como sexismo, racismo e elitismo, entre outras. O conceito de “lugar de fala” (RIBEIRO, 2017) nos ajuda justamente porque representa um chamado para que as pessoas possam refletir sobre suas identidades e posições sociais, reconhecendo privilégios e empatizando com grupos minoritários.
Pesquisas que delineiam mapas emocionais aplicados aos fenômenos do ativismo (FLAM, 2005) tornam-se relevantes à medida em que a empatia assume um lugar de destaque. Tais perspectivas nos conduzem a uma compreensão de como as emoções podem se tornar ferramentas para manter relações de dominação ou, pelo contrário, combater sistemas opressivos de poder. Nosso objetivo é demonstrar que a animação representa uma ferramenta conceitual e metodológica, estando situada na intersecção entre arte, emoções e midiativismo. O trabalho baseia-se na experiência da realização da oficina “Retrato de Marielle”, produzida com artivistas quenianos, em Nairobi. A animação foi uma homenagem a Marielle Franco e uma forma desses artivistas conhecerem mais sobre a história e o legado dela.
Nosso trabalho adota uma abordagem etnográfica, com observações participantes durante a oficina de animação em Nairóbi e a exibição dessa animação no Rio, além de entrevistas nos dois países com artivistas e com a diretora do filme, a queniana Ng'endo Mukii. Seguimos aqui uma lógica semelhante à do próprio processo de produção de uma animação. Primeiro, coletamos imagens que retratavam a vida e a luta de Marielle. Depois, as utilizamos para contar sua história ao grupo de artivistas e solicitamos que eles, literalmente, desenhassem imagens que estabelecessem um paralelo com suas próprias vidas e realidades. Esse exercício nos revelou o quanto a cultura do medo pode assumir um caráter desmobilizador nos dois países. O Brasil e o Quênia têm elementos significativos em comum como, por exemplo, a adoção de políticas que não prezam pelas vidas de quem vive em áreas economicamente vulneráveis, justificando-a com discursos de insegurança. Com base na pesquisa, argumentamos que o artivismo é essencialmente transformador à medida em que os próprios artivistas relatavam ter testemunhado uma profunda mudança na maneira como percebiam a si mesmos e ao potencial de seu trabalho criativo.
A Ulepicc-Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura) realiza seu oitavo encontro excepcionalmente na modalidade virtual de 12 a 23 de outubro. O evento prioriza as atividades dos Grupos Temáticos, cada qual com uma mesa e cujas atividades ocorrem em horários diferentes. Os debates são sobre as transformações no sistema capitalista e seus impactos nos campos da informação, da comunicação e das mídias, da cultura e da produção cultural.
O 8º Encontro da Ulepicc-Brasil tem o apoio da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e os anais do evento aqui representados trazem os resumos expandidos aprovados para 8 Grupos Temáticos e para a Jornada de Graduandas/os. Os Anais do 8º Encontro da Ulepicc-Brasil têm o ISBN 978-65-88480-02-1.
Comissão Organizadora
Anderson Santos, Manoel Dourado Bastos, Fernando de Oliveira e Julliana Barra
Comissão Científica
Murilo César Ramos (UnB)
Rozinaldo Miani (UEL)
Jonas Valente (LaPCom/UnB)
Verlane Aragão Santos (PPGCOM-UFS)
Juliana Teixeira (UFPI)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Marco Schneider (PPGCI-IBICT/UFRJ e PPGMC-UFF)
Ivonete da Silva Lopes (UFV)