Na última década, o desenvolvimento e barateamento das tecnologias de informação e comunicação (TICs), paralelamente a ampliação do acesso à internet, abriram possibilidades de apropriação e produção que desafiam – e questionam – autoridades, corporações e o próprio capitalismo. Transmissões em tempo real, publicações de textos, criação e edição de vídeos, imagens e sons são realizados por sujeitos comuns, em qualquer lugar, através de ferramentas simples, principalmente, smartphones. Essa nova dinâmica traz consigo esperanças de um acesso mais igual e democrático à comunicação, que aos poucos vai demonstrando seus revezes.
No Brasil, redes sociais e sites noticiosos figuram entre os mais acessados pela população. O Facebook é o canal por onde 44% dos brasileiros têm acesso à informação na rede (PBM, 2015). Discutir o papel de plataformas – como Google e Facebook – na regulação do conteúdo acessado no ambiente virtual não é objetivo deste trabalho, porém é importante considerar que, diante das políticas adotadas e dos interesses (privados) dessas companhias, a aparente neutralidade e igualdade na rede é ilusória (MONTIEL e MACHARIA, 2018; MOROZOV, 2013).
O sucesso ou fracasso de um determinado conteúdo é diretamente influenciado pelos recursos materiais e simbólicos de seu emissor. Dessa forma, as instituições privadas tendem a manter ou até ampliar (em nível global) suas vantagens competitivas. Não por acaso, os sites de notícias mais acessados no país (Globo.com, 1º; G1, 2º) são do Grupo Globo, o maior conglomerado de mídia do Brasil. Em seguida, ainda entre os cinco primeiros, aparecem os sites Uol (Grupo Folha); portal R7 (Record TV); e o site Terra, de propriedade do grupo espanhol Telefônica (PBM, 2015). A estrutura já conquistada por essas empresas permite que elas administrem suas vantagens e ampliem seus mercados. Tal estrutura é composta por agências de notícias, emissoras de rádio e TV, editoras e/ou redações de jornais e revistas, porém não se reduz a isso. Materializa-se, principalmente, por meio das relações de poder que estabelece com outros setores do capital e com o próprio Estado (BOLAÑO, 2000), além do poder simbólico construído e reconstruído constantemente, a partir do qual legitima seu poder.
Faz-se necessário discutir e dimensionar o poderio da mídia hegemônica, visto que é a partir desse sistema que se constroem as iniciativas de contestação. Busca-se com este trabalho ilustrar um quadro amplo do sistema brasileiro de mídia, marcado pelo controle majoritariamente privado e super concentrado dos meios, no qual atores políticos e midiáticos se confundem (AIRES e SANTOS, 2017). Entendemos que as disputas entre meios alternativos e hegemônicos de comunicação envolvem forças assimétricas, mas que se influenciam mutuamente. Utilizamos como instrumentos a revisão bibliográfica, a pesquisa documental e entrevistas, realizadas entre 2017 e 2019, com ativistas de coletivos independentes de mídia. A partir da provocação colocada por John Downing, que critica a ambiguidade do termo alternativo para designar a mídia não hegemônica, nosso objetivo é responder a questão colocada por ele: alternativo ao quê? (DOWNING, 2002). Em relação a quem (ou ao quê) a mídia independente se constrói como alternativa?
A Ulepicc-Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura) realiza seu oitavo encontro excepcionalmente na modalidade virtual de 12 a 23 de outubro. O evento prioriza as atividades dos Grupos Temáticos, cada qual com uma mesa e cujas atividades ocorrem em horários diferentes. Os debates são sobre as transformações no sistema capitalista e seus impactos nos campos da informação, da comunicação e das mídias, da cultura e da produção cultural.
O 8º Encontro da Ulepicc-Brasil tem o apoio da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e os anais do evento aqui representados trazem os resumos expandidos aprovados para 8 Grupos Temáticos e para a Jornada de Graduandas/os. Os Anais do 8º Encontro da Ulepicc-Brasil têm o ISBN 978-65-88480-02-1.
Comissão Organizadora
Anderson Santos, Manoel Dourado Bastos, Fernando de Oliveira e Julliana Barra
Comissão Científica
Murilo César Ramos (UnB)
Rozinaldo Miani (UEL)
Jonas Valente (LaPCom/UnB)
Verlane Aragão Santos (PPGCOM-UFS)
Juliana Teixeira (UFPI)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Marco Schneider (PPGCI-IBICT/UFRJ e PPGMC-UFF)
Ivonete da Silva Lopes (UFV)