Analisar a representação da figura feminina na produção audiovisual brasileira permite-nos, muitas vezes, reconhecer e entender as posições ocupadas pelas mulheres na sociedade ao longo dos séculos. Como afirma Beauvoir (1949, p. 15), “o presente envolve o passado e no passado toda a história foi feita pelos homens”; no Brasil, essa narrativa não seria diferente. Observamos um país que foi invadido e posteriormente construído a partir de um contexto extremamente patriarcal e misógino, realidade que se agravou durante a Ditadura Militar, momento em que o conservadorismo e a ideia de poder do homem sobre o corpo, desejos e liberdade da mulher passaram a ser ainda mais reforçados e difundidos pela sociedade e pelo próprio Estado.
Deste modo, o presente estudo tem como objetivo compreender como se deu a representação das mulheres na minissérie Anos Rebeldes (1992) e na supersérie Os Dias Eram Assim (2017), ambas veiculadas pela Rede Globo de Televisão e contextualizadas no período da Ditadura Militar (1964 - 1985). Apesar de serem produzidas com 25 anos de diferença, as séries se assemelham em aspectos como o período histórico em que acontecem, as questões de gênero abordadas, e a narrativa construída em torno de dois jovens que se apaixonam (Maria Lúcia e João Alfredo em Anos Rebeldes; e Alice e Renato em Os Dias Eram Assim).
Será realizada uma análise comparativa das séries no que diz respeito aos aspectos sócio-políticos, padrões de comportamento, relações de gênero, violência, opressões - discutidos por Butler e Beauvoir - e a maneira como as personagens principais agem diante das adversidades que giram em torno do “ser mulher” no contexto patriarcal, misógino e autoritário da Ditadura brasileira. Buscaremos ressaltar as semelhanças e diferenças entre os perfis que traçaremos destas duas mulheres. Para embasar a tese, serão utilizados conceitos fundamentais de autores que estudam e discutem cultura e sociedade, dramaturgia e questões de gênero e suas opressões: Simone de Beauvoir, Judith Butler; Renata Pallottini, François Laplantine e Alexis Nouss.
Considerando sua capacidade de representação de uma sociedade, a ficção seriada se consolida no Brasil enquanto um espaço e veículo de debate de questões sociais, como notamos em inúmeras séries da Rede Globo - Assédio, Anos Rebeldes, Segunda Chamada, etc -. Deste modo, para além de observar as representações do feminino nas duas séries, buscaremos, através do estudo, ressaltar a relevância da temática de ambas para as discussões da contemporaneidade, sendo possível, a partir das produções audiovisuais, questionar comportamentos e estereótipos prejudiciais à autonomia da mulher.
A Ulepicc-Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura) realiza seu oitavo encontro excepcionalmente na modalidade virtual de 12 a 23 de outubro. O evento prioriza as atividades dos Grupos Temáticos, cada qual com uma mesa e cujas atividades ocorrem em horários diferentes. Os debates são sobre as transformações no sistema capitalista e seus impactos nos campos da informação, da comunicação e das mídias, da cultura e da produção cultural.
O 8º Encontro da Ulepicc-Brasil tem o apoio da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e os anais do evento aqui representados trazem os resumos expandidos aprovados para 8 Grupos Temáticos e para a Jornada de Graduandas/os. Os Anais do 8º Encontro da Ulepicc-Brasil têm o ISBN 978-65-88480-02-1.
Comissão Organizadora
Anderson Santos, Manoel Dourado Bastos, Fernando de Oliveira e Julliana Barra
Comissão Científica
Murilo César Ramos (UnB)
Rozinaldo Miani (UEL)
Jonas Valente (LaPCom/UnB)
Verlane Aragão Santos (PPGCOM-UFS)
Juliana Teixeira (UFPI)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Marco Schneider (PPGCI-IBICT/UFRJ e PPGMC-UFF)
Ivonete da Silva Lopes (UFV)