Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa realizada no âmbito do Observatório da Diversidade Cultural, com o apoio do CNPq, que teve como objetivo analisar a participação social na área da cultura nos níveis federal, estadual e municipal, buscando compreender suas lógicas, discursividades e efetividades. Buscamos compreender como se deu a participação social na construção de instrumentos/mecanismos centrais no modelo existente pelo menos até 2016, para a construção de políticas públicas de cultura no Brasil, em Minas Gerais e em Belo Horizonte. O trabalho empírico analisou três processos. A consulta virtual para a revisão das Metas do Plano Nacional de Cultura, iniciado em 2014 e realizado entre setembro de 2015 e fevereiro de 2016; o segundo, o processo de construção do Plano Estadual de Cultura de Minas Gerais, realizado entre 2015 e 2017; e o terceiro, o processo de construção do Plano Municipal de Cultura de Belo Horizonte, realizado entre 2013 e 2015. Nos três casos os mecanismos de participação ocorreram por diferentes meios e espaços, tanto de modo presencial como virtual. A pesquisa envolveu, além de revisão teórica e conceitual sobre a questão da participação social e construção de políticas públicas, com ênfase na perspectiva de Leonardo Avritzer, a análise documental de atas e relatórios produzidos nos três processos, além da realização de entrevistas com participantes do processo e análise de dados nas plataformas de e-participação.
Se a questão da participação social é estudada de forma consistente em áreas como a saúde e a educação, no campo da cultura, ainda são poucas as contribuições sobre como se dá e quais os seus resultados. A pesquisa realizada pretendeu contribuir com a compreensão do complexo desafio referente à qualidade e efetividade dos mecanismos utilizados para a participação social; com a compreensão do perfil do engajamento social individual e coletivo nos processos; e com a compreensão da capacidade ou não de agendamento nas políticas públicas no período investigado. A análise aponta para uma dupla questão: o imperativo na defesa dos mecanismos de participação social existentes no país e sustentados pela Constituição Brasileira, mas também a necessidade de se renovar, aprimorar e ampliar tais mecanismos. Tal inferência resulta das análises da participação nas instâncias de consulta e deliberação, tanto a partir de aspectos quantitativos (ou seja, a quantidade de cidadãos e cidadãs que participam desses processos) como também qualitativos (estes referentes à qualidade e à efetividade participativa e como esta participação se traduz em políticas públicas). Além do desafio de saber qual a qualidade e a efetividade destes processos de participação social, a reafirmação e renovação de tais modelos e práticas se mostra urgente pelo fato de que tais mecanismos se encontrarem apenas parcialmente institucionalizados, o que vem permitindo uma ação de esvaziamento e desmonte no atual governo brasileiro.
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A Ulepicc-Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura) realiza seu oitavo encontro excepcionalmente na modalidade virtual de 12 a 23 de outubro. O evento prioriza as atividades dos Grupos Temáticos, cada qual com uma mesa e cujas atividades ocorrem em horários diferentes. Os debates são sobre as transformações no sistema capitalista e seus impactos nos campos da informação, da comunicação e das mídias, da cultura e da produção cultural.
O 8º Encontro da Ulepicc-Brasil tem o apoio da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e os anais do evento aqui representados trazem os resumos expandidos aprovados para 8 Grupos Temáticos e para a Jornada de Graduandas/os. Os Anais do 8º Encontro da Ulepicc-Brasil têm o ISBN 978-65-88480-02-1.
Comissão Organizadora
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Comissão Científica
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Jonas Valente (LaPCom/UnB)
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