As mudanças no ambiente de negócios do jornalismo, originadas pelo advento da internet, foram aceleradas pela atuação mercantil do duopólio formado por Google, Facebook, conglomerados de tecnologia que colonizam o ambiente digital com seus modelos algorítmicos de distribuição de conteúdo calcados no capitalismo de vigilância (ZUBOFF, 2015). Este último opera a partir da monetização de dados extraídos do monitoramento de comportamentos de usuários nas plataformas digitais de interação social regidas por essas companhias. A combinação da atuação desses atores com a hiperconexão no consumo de informação trouxe novos contornos e disputas entre a mídia tradicional e os operadores dessas plataformas, assim como propiciou o surgimento de outras iniciativas midiáticas, ora embaladas pela ideologia empreendedora californiana, digital e neoliberal (BARBROOK & CAMERON, 1995), ora pelo ativismo progressista, e, em boa parte, criadas por jornalistas egressos dos veículos de referências em níveis de precarização que os levou à necessidade de empreender. Startup jornalística, segundo Becker e Waltz (2017), se constitui como “um grupo de pessoas ou uma organização de pequeno porte, com hierarquias flexibilizadas, com vistas a gerar produtos e serviços inovadores em condições de riscos e incerteza”. Sennett (1999) pontua que as mudanças do novo capitalismo não libertaram as pessoas e muitas das vezes, o indivíduo pode ser obrigado a improvisar a narrativa de sua própria vida. Para Bolaño (2013), a comunicação “é uma estrutura de poder e, portanto, em qualquer sociedade, quem controla a comunicação intervém numa esfera de poder importante”. O objetivo deste artigo, que parte de uma pesquisa que desenvolvemos estruturada sobre os conceitos da Economia Política da Comunicação, é mostrar como se dá a reconfiguração do ambiente de produção de notícias a partir desses novos empreendimentos e da influência desse capitalismo informacional (SANTOS, 2001). Também trazemos o debate sobre se, a partir dele, há possíveis saídas para um jornalismo sustentável voltado ao interesse público. Como metodologia partimos da análise de informações coletadas em entrevistas semiestruturadas com jornalistas de algumas dessas startups no Brasil e na autointitulada “incubadora de iniciativas midiáticas” Espacio.co, baseada em Medellin, Colômbia. A escolha deste último objeto de estudo se deu justamente pelo fato de a cidade de Medellin viver desde os anos 2000 um movimento de surgimento de empreendimentos de tecnologia e ser apontada como uma das cidade mais inovadoras da América do Sul. Além de entrevista semiestruturada e presencial realizada com editor da empresa em novembro de 2019, analisamos projetos desenvolvidos pela Espacio.co, como um portal com notícias de tecnologia e o segundo maior jornal em língua inglesa da Colômbia. Como resultados e conclusões deste trabalho identificamos a influência dessa ideologia empreendedora em encaixes de produção de jornalismo com outros produtos de comunicação voltados para empresas, assim como também o surgimento de uma visão mais crítica de alguns desses jornalistas empreendedores em relação ao papel do capitalismo informacional. Estes resultados reiteram a necessidade de pesquisa no campo da EPC para acompanhamento desses empreendimentos e das relações que estabelecem entre si, com os veículos tradicionais e as plataformas de tecnologia.
A Ulepicc-Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura) realiza seu oitavo encontro excepcionalmente na modalidade virtual de 12 a 23 de outubro. O evento prioriza as atividades dos Grupos Temáticos, cada qual com uma mesa e cujas atividades ocorrem em horários diferentes. Os debates são sobre as transformações no sistema capitalista e seus impactos nos campos da informação, da comunicação e das mídias, da cultura e da produção cultural.
O 8º Encontro da Ulepicc-Brasil tem o apoio da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e os anais do evento aqui representados trazem os resumos expandidos aprovados para 8 Grupos Temáticos e para a Jornada de Graduandas/os. Os Anais do 8º Encontro da Ulepicc-Brasil têm o ISBN 978-65-88480-02-1.
Comissão Organizadora
Anderson Santos, Manoel Dourado Bastos, Fernando de Oliveira e Julliana Barra
Comissão Científica
Murilo César Ramos (UnB)
Rozinaldo Miani (UEL)
Jonas Valente (LaPCom/UnB)
Verlane Aragão Santos (PPGCOM-UFS)
Juliana Teixeira (UFPI)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Marco Schneider (PPGCI-IBICT/UFRJ e PPGMC-UFF)
Ivonete da Silva Lopes (UFV)