Redes Sociais, Plataformas e Ocupação Capitalista do Tempo Livre

  • Autor
  • Carlos Figueiredo
  • Resumo
  • É ponto comum entre pesquisadores do campo da Economia Política da Comunicação (EPC)  como Bolaño e Vieira (2015) e Fuchs (2015) que a Internet não é uma tecnologia essencialmente libertadora. Bolaño e Vieira (2015) e Figueiredo e Bolaño (2017) apontam que as plataformas da internet atuam a partir de uma colonização brutal do mundo vida e do tempo livre de seus usuários para coletar dados que permitirão uma venda individualizada e mais precisa de espaço publicitário, ou seja, há um processo de invasão capitalista do tempo livre. Enquanto Fuchs (2015), seguindo o insight de Smythe (1977), para quem as empresas de comunicação de massa extraem mais-valia das audiências, e apropriando-se do conceito de prosumer de Toffler (1981), considera que os indivíduos ao interagirem e comunicarem-se utilizando como suporte essas plataformas digitais trabalham gratuitamente para essas empresas. Nossa abordagem, é próxima à de Bolaño e Vieira (2015), mas consideramos necessário construir um modelo teórico que descreva como as empresas proprietárias de plataformas logram seu objetivo de colonizar o mundo da vida e se apropriar do tempo livre dos indivíduos a partir de uma racionalidade puramente administrativa.

        A internet atualmente é um espaço dominado por empresas proprietárias de plataformas que, de acordo com Dijck, Poell e Wall (2018, p.4) “são arquiteturas digitais programáveis projetadas para organizarem interações entre usuários – não apenas usuários finais, mas também entes corporativos e organizações públicas”. A matéria-prima dessas plataformas são os dados dos usuários coletados a partir das interações dos usuários e processados por algoritmos. Os algoritmos das plataformas de publicidade passam a distribuir conteúdos tendo como base os dados coletados nas interações dos usuários, que, por sua vez, são confinadas pelo design dessas plataformas.

        O uso da palavra rede nas ciências sociais foi popularizado por antropólogos sociais como Mitchell (1974) ao utilizarem a metáfora da rede e criarem métodos para análise das interações interpessoais dentro de comunidades ou grupos. Esse método de análise tinha como técnica principal de análise a etnografia, mas no decorrer dos anos foi ganhando traços quantitativos até ser utilizado pelas grandes plataformas de internet que coletam dados a partir das interações dos usuários. Esse conhecimento das redes de interação, voltadas para os mais diversos fins, permite às plataformas da internet mercantilizarem o cotidiano dos usuários e ao Estado vigiar os cidadãos e movimentos contra-hegemônicos. Pretendemos discutir a apropriação, pelas empresas proprietárias de plataformas digitais, da técnica de análise de redes sociais empregada por antropólogos como Radcliffe-Brown (2013) e Mitchell (1974) para extrair dados a partir das interações dos usuários.    Para atingirmos nossos objetivos, faremos uma discussão bibliográfica a partir de autores como Marx (1988), Bolaño (2000) e Adorno e Horkheimer (2006). Defendemos que essa técnica oriunda das ciências sociais tornou-se uma ferramenta para a colonização do mundo da vida assim como para a invasão da racionalidade administrativa em redes de solidariedade que deveriam estar a salvo da colonização tanto do Estado quanto do mercado.

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. A Dialética do Esclarecimento. Petrópolis/RJ: Vozes, 2006.

    BOLAÑO, César. Indústria Cultural, Informação e Capitalismo. São Paulo: Hucitec/Pólis, 2000.

    BOLAÑO, César RS; VIEIRA, Eloy S. The political economy of the internet: Social networking sites and a reply to Fuchs. Television & New Media, v. 16, n. 1, p. 52-61, 2015.

    FIGUEIREDO, Carlos; BOLAÑO, César. Social media and algorithms: configurations of the lifeworld colonization by new media. International Review of Information Ethics, v. 26, pp. 26-38, 2017.

    FUCHS, Christian. Against divisiveness: Digital workers of the world unite! A rejoinder to César Bolaño and Eloy Vieira. Television & New Media, v. 16, n. 1, p. 62-71, 2015.

    MARX, Karl. Economic Manuscript 1861-1863. In: MARX, Karl.; ENGELS, Friedrich. Collected Works. Vol 30. Karl Marx: 1861-1863. London: Lawrence & Wishart, 1988.

    MITCHELL, J. Clyde. Social networks. Annual review of anthropology, v. 3, n. 1, p. 279-299, 1974.

    RADCLIFFE-BROWN, A.R. Estrutura e Função na Sociedade Primitiva. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

    SMYTHE, Dallas W. Communications: blindspot of western Marxism. Canadian Journal of Social and Political Theory, v. 1, n. 3, p. 1-27, 1977.

    TOFFLER, Alvin. The Third Wave. New York: William Morrow, 1981.

    VAN DIJCK, José; POELL, Thomas; DE WAAL, Martijn. The platform society: Public values in a connective world. New York: Oxford University Press, 2018.

  • Palavras-chave
  • Redes Sociais, Tempo Livre, Plataformas Digitais
  • Área Temática
  • GT3 – Indústrias midiáticas
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A Ulepicc-Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura) realiza seu oitavo encontro excepcionalmente na modalidade virtual de 12 a 23 de outubro. O evento prioriza as atividades dos Grupos Temáticos, cada qual com uma mesa e cujas atividades ocorrem em horários diferentes. Os debates são sobre as transformações no sistema capitalista e seus impactos nos campos da informação, da comunicação e das mídias, da cultura e da produção cultural.

O 8º Encontro da Ulepicc-Brasil tem o apoio da Universidade  Estadual de Santa Cruz (UESC) e os anais do evento aqui representados trazem os resumos expandidos aprovados para 8 Grupos Temáticos e para a Jornada de Graduandas/os.  Os Anais do 8º Encontro da Ulepicc-Brasil têm o ISBN 978-65-88480-02-1.

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  • GT3 – Indústrias midiáticas
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  • Jornada de Graduandos

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