A cultura profissional é um dos pontos centrais das chamadas Teorias do Jornalismo. O conjunto de regras técnicas e procedimentais seguidos pelos jornalistas em seu trabalho são um dos elementos que influenciariam na produção da notícia e na “construção da realidade” pelo campo jornalístico. Entretanto, o status de “profissional” do trabalho jornalístico é objeto de intensa discussão teórica. O próprio termo “profissão” não tem uma conceituação clara entre sociólogos da profissão (DUBAR, 1997) que a depender da corrente teórica apresentam conceitos conflitantes entre si. Waisbord (2013, p.130) defende que os jornalistas constituem uma comunidade epistemológica “que produz um conhecimento que resulta da organização, processamento e manufatura de informação”. Considera ainda, que os jornalistas produzem uma forma de conhecimento que “infunde a percepção e seleção de um fluxo sem fim de eventos e informação. Os jornalistas articulariam definições convencionais de noticiabilidade que definem o produto distintivo e especializado do jornalismo: notícias”. O monopólio de definir quais fatos devem ser transformados em notícias e como redigi-las e apurá-las apropriadamente é que definiriam o caráter profissional do jornalismo.
O profissionalismo, ao mesmo tempo que se constitui em controle e adequação do jornalista a determinados padrões, critérios e valores presentes nas notícias (SOLOSKI, 1993), é também um modo de os jornalistas se defenderem de pressões externas à redação, vinda de grupos políticos e econômicos, que desafiam os padrões deontológicos da comunidade profissional. Waisbord e grande parte dos teóricos do jornalismo (TRAQUINA, 2004) dá ênfase exagerada ao elemento de resistência às pressões externas presentes na cultura profissional. Como lembram Figueiredo e Bolaño (2018, p.6), “a expertise dos jornalistas em redigir, apurar, e publicar notícias é utilizada em um ramo econômico que tende ao monopólio, pois produzir notícias em larga escala é uma atividade cara”. A idealização do papel do jornalismo nas democracias ajudou a aumentar o prestígio profissional dos jornalistas, mas grande parte desse prestígio é capitalizado por grandes conglomerados de comunicação para se defenderem em episódios em que sua atuação jornalística fora questionável.
Neste trabalho pretendemos discutir a hipótese, a partir do marco teórico da Economia Política da Comunicação (EPC) de que os jornalistas devem passar a se ver como parte da classe trabalhadora na busca de saídas coletivas para (1) a precarização do trabalho, (2) a qualidade do jornalismo contemporâneo e (3) a construção de um jornalismo emancipatório. O jornalista é um trabalhador intelectual cujo trabalho é subsumido ao capital de grandes conglomerados de mídia que são orientados pela racionalidade administrativa da indústria cultural, responsável por construir mediações entre o mundo da vida e os sistemas administrativo e econômico (BOLAÑO, 2000). Dessa forma, ao contrário do pensamento hegemônico, defendemos que o jornalista deve criar uma identidade como trabalhador para ser capaz de defender-se da precarização do trabalho jornalístico e, ao mesmo tempo, utilizando-se do prestígio profissional do campo, construir um jornalismo emancipado e emancipador e que sirva aos interesses da classe trabalhadora. Para atingirmos nossos objetivos faremos uma discussão teórica a partir de autores da Sociologia da Profissão, Teoria do Jornalismo e EPC.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOLAÑO, César. Indústria Cultural, Informação e Capitalismo. São Paulo: Hucitec/Pólis, 2000.
DUBAR, Claude. A Socialização. Construção das Identidades Sociais e Profissionais. Porto: Porto Editora, 1997.
FIGUEIREDO, Carlos; BOLAÑO, César. Do Profissional ao Trabalhador: A Identidade do Jornalista nas Teorias Brasileiras. In: Anais do 16º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo. São Paulo: SBPJor, 2018. Disponível em: http://sbpjor.org.br/congresso/index.php/sbpjor/sbpjor2018/paper/viewFile/1511/931. Acesso em 26 fev 2019.
SOLOSKI, Jonh. O Jornalismo e o Profissionalismo: Alguns Constrangimentos no Trabalho Jornalístico. In: TRAQUINA, Nelson (Org). Jornalismo: Questões, Teorias e “Estórias”. Lisboa: Veja, 1993. p.91-100.
TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo: Porque as Notícias São Como São. Florianópolis: Insular, 2004.
WAISBORD, Silvio. Reinventing Journalism. Journalism and News in a Global Perspective. Cambridge: Polity, 2013.
A Ulepicc-Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura) realiza seu oitavo encontro excepcionalmente na modalidade virtual de 12 a 23 de outubro. O evento prioriza as atividades dos Grupos Temáticos, cada qual com uma mesa e cujas atividades ocorrem em horários diferentes. Os debates são sobre as transformações no sistema capitalista e seus impactos nos campos da informação, da comunicação e das mídias, da cultura e da produção cultural.
O 8º Encontro da Ulepicc-Brasil tem o apoio da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e os anais do evento aqui representados trazem os resumos expandidos aprovados para 8 Grupos Temáticos e para a Jornada de Graduandas/os. Os Anais do 8º Encontro da Ulepicc-Brasil têm o ISBN 978-65-88480-02-1.
Comissão Organizadora
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