O espaço da TV aberta no Brasil é cada vez mais religioso. Atualmente, cerca de metade da emissoras nacionais de canal aberto podem ser classificadas como religiosas - isto é, são propriedade de líderes ligados direta ou indiretamente a igrejas, especialmente cristãs, embora concentrada em um número reduzido de entidades (CUNHA, 2017). A concentração da verba publicitária na Rede Globo fragiliza a pluralidade da TV aberta e favorece um ambiente em que parte das emissoras tem grandes dificuldades financeiras. O que torna o investimento da verba das entidades religiosas ainda mais significativo para o entendimento da dinâmica recente do mercado de comunicação no país. Em entrevista ao repórter Maurício Stycer, Marcelo Carvalho, um dos donos da RedeTV!, foi categórico: “se eu não vender horário para igreja, quebro!” (CARVALHO, 2017). Emissoras como a Bandeirantes enfrentam situação similar e são altamente dependentes deste tipo de ilegalidade. Além da expansão do conteúdo que chega às telas dos aparelhos de TV via compra de espaço na programação em emissoras de abrangência nacional e regional, expande-se também a propriedade de empresas concessionárias por igrejas no país. Os métodos para veiculação e posse deste tipo de conteúdo indicam o uso indevido de outorgas, já que pressupõem arrendamento de programação e evidenciam clara omissão do poder público na fiscalização da radiodifusão. São numerosas as denúncias que indicam irregularidades como falsidade ideológica e fraudes na expansão das emissoras próprias da Rede Record (NASCIMENTO, 2019), por exemplo, bem como vínculos entre religião e criminalidade e religião e extremismo (CUNHA, 2014; CUNHA et al, 2017). Os impactos desta concentração são significativos, uma vez que a expansão das redes tem implicado em um fenômeno ainda pouco analisado que se refere a ruptura de barreiras estético-produtivas, em que o conteúdo veiculado passa a atender finalidades exigidas por lei pretensamente “informativas, educativas, artísticas e culturais” que potencializam suas finalidades religiosas e especialmente políticas. Ademais, identificamos a ruptura de barreiras político-institucionais já que as bancadas religiosas são cada vez mais fortes nos espaços representativos e determinantes para a compreensão da ascensão da extrema direita no Brasil. Nosso objetivo é analisar as estratégias dos conglomerados de comunicação de atuação nacional (ou seja, aqueles que estão presentes nas cinco regiões do país), e estão sob domínio de entidades religiosas, a saber: RecordTV e RecordNews, ligadas a Igreja Universal do Reino de Deus; Rede Vida, TV Aparecida, TV Canção Nova, TV Evangelizar é preciso, Século XXI e TV Pai Eterno, ligadas a Igreja Católica; TV Novo Tempo, ligada a Igreja Adventista; Boas Novas, ligada à Assembleia de Deus; TV Mundial, ligada a Igreja Mundial do Poder de Deus; Gênesis, ligada a Igreja Sara Nossa Terra; RIT, ligada a Igreja Internacional da Graça de Deus; e Boa Vontade TV, espírita. Metodologicamente, pretendemos aplicar a matriz da espacialidade proposta por David Harvey (2006), visando apresentar os espaços materiais destas redes, seus espaços de representação - analisando vínculos políticos em diferentes camadas de poder - e a representação dos espaços, através de levantamento da programação.
A Ulepicc-Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura) realiza seu oitavo encontro excepcionalmente na modalidade virtual de 12 a 23 de outubro. O evento prioriza as atividades dos Grupos Temáticos, cada qual com uma mesa e cujas atividades ocorrem em horários diferentes. Os debates são sobre as transformações no sistema capitalista e seus impactos nos campos da informação, da comunicação e das mídias, da cultura e da produção cultural.
O 8º Encontro da Ulepicc-Brasil tem o apoio da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e os anais do evento aqui representados trazem os resumos expandidos aprovados para 8 Grupos Temáticos e para a Jornada de Graduandas/os. Os Anais do 8º Encontro da Ulepicc-Brasil têm o ISBN 978-65-88480-02-1.
Comissão Organizadora
Anderson Santos, Manoel Dourado Bastos, Fernando de Oliveira e Julliana Barra
Comissão Científica
Murilo César Ramos (UnB)
Rozinaldo Miani (UEL)
Jonas Valente (LaPCom/UnB)
Verlane Aragão Santos (PPGCOM-UFS)
Juliana Teixeira (UFPI)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Marco Schneider (PPGCI-IBICT/UFRJ e PPGMC-UFF)
Ivonete da Silva Lopes (UFV)