Consideramos fãs aqueles que vivenciam, junto ao consumo, um processo interativo, transformativo e participativo. Isso implica em trocas sociais características - não só com os ídolos, mas também com toda uma comunidade de iguais, os chamados fandoms. Dentre essas trocas estão produções independentes, voluntárias e quase sempre espontâneas, como criações artísticas inspiradas no objeto idolatrado (fanfictin, fanfilm, fanart etc.), conteúdos que facilitem o acesso dos demais consumidores (legendagem e traduções em geral, fansites com informações relevantes e categorizadas, resenhas etc.) ou manifestações organizadas visando a divulgação ou “defesa” do ídolo.
Teóricos dos Estudos de Fãs, muito baseados em pesquisadores anglo-saxões de viés mercadológico (com destaque significativo para as publicações de Henry Jenkins), analisam essas interações através da economia do dom (gift economy), onde a busca por capital social dentro do fandom acarreta em produção e circulação de criações de alta qualidade que podem ser desfrutados por toda a comunidade. Como essas práticas agregam valor ao texto original, a ser aproveitado e incorporado pela indústria, passam a ser denominadas de “trabalhos de fãs” (fanworks ou fanlabor) (STANFILL & CONDIS, 2014). Cabe salientar, porém, que não há, na esmagadora maioria das vezes, qualquer relação contratual ou financeira entre produtor e fãs; e que estes sequer se reconhecem como explorados por aqueles (CHIN, 2014).
A perspectiva usada por tais teóricos se aproxima da interpretação de “trabalho” proposta por Christian Fuchs (2012), autor da linha crítica da Economia Política da Comunicação (EPC), que defende que, com a evolução da subsunção do trabalho intelectual devido às TIC, as fronteiras entre produção e consumo tornam-se turvas. Assim, incorpora a ideia de prosumer de Alvin Toffler, onde, nas redes digitais (para onde se volta quase unanimemente os pesquisadores dos Estudos de Fãs), quem produz (producer) é o mesmo que consome (consumer).
Todavia, acreditamos ser esta uma interpretação equivocada do conceito de trabalho presentes na obra de Marx. Nos alinhamos à proposta de Bolaño & Vieira (2014, p. 79), também na linha da EPC, porém com o entendimento de que a atividade virtual do usuário consumidor é “matéria bruta” para o trabalhador intelectual (programador, desenvolvedor, analista de sistema, etc.), esse sim exercendo um trabalho produtivo e sendo explorado por ele. Neste sentido, a atividade do fã está longe de ser considerada “trabalho”, ainda que, de fato, beneficie a Indústria Cultural e, portanto, seja absorvida pela mesma (VIEIRA, 2015).
Buscando dar continuidade à aproximação entre Estudos de Fãs e EPC, iniciada em nossas respectivas dissertações (VIEIRA, 2015; AMADO, 2020), discutiremos possíveis categorizações para as atividades dos fãs dentro da perspectiva crítica e qual tipo de “exploração” ocorre nessa dinâmica. Adicionalmente, visamos dar continuidade ao debate acerca da categoria “trabalho”, central à EPC atualmente.
A Ulepicc-Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura) realiza seu oitavo encontro excepcionalmente na modalidade virtual de 12 a 23 de outubro. O evento prioriza as atividades dos Grupos Temáticos, cada qual com uma mesa e cujas atividades ocorrem em horários diferentes. Os debates são sobre as transformações no sistema capitalista e seus impactos nos campos da informação, da comunicação e das mídias, da cultura e da produção cultural.
O 8º Encontro da Ulepicc-Brasil tem o apoio da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e os anais do evento aqui representados trazem os resumos expandidos aprovados para 8 Grupos Temáticos e para a Jornada de Graduandas/os. Os Anais do 8º Encontro da Ulepicc-Brasil têm o ISBN 978-65-88480-02-1.
Comissão Organizadora
Anderson Santos, Manoel Dourado Bastos, Fernando de Oliveira e Julliana Barra
Comissão Científica
Murilo César Ramos (UnB)
Rozinaldo Miani (UEL)
Jonas Valente (LaPCom/UnB)
Verlane Aragão Santos (PPGCOM-UFS)
Juliana Teixeira (UFPI)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Marco Schneider (PPGCI-IBICT/UFRJ e PPGMC-UFF)
Ivonete da Silva Lopes (UFV)