“E se isso não fosse mais capitalismo, mas algo pior?” (WARK, 2016, p. 43, tradução nossa). A partir dessa provocação Mckenzie Wark, professora de Mídia e Cultura da The New School, apresenta seu conceito de vetorialismo. Na visão de Wark o capitalismo, enquanto regime de produção em que a classe burguesa detém os meios de produção, vem cedendo lugar para o denominado vetorialismo, em que a classe vetorialista exerce poder através do controle sobre os vetores de informação. A estratégia de controle dessa nova classe dominante consiste na apropriação da informação produzida coletivamente através dos mecanismos de propriedade intelectual.
Com tal hipótese, a autora não pretende afirmar que o regime capitalista tenha se extinguido. Na verdade, defende que a classe pastora (detentora de terras), a classe capitalista (detentora de capital) e a classe vetorialista (detentora dos vetores de informação) coexistem na contemporaneidade, ora colaborando e ora conflitando entre si. Sendo que cada uma delas possui sua respectiva classe dominada: os agricultores, os trabalhadores e os hackers. Seu argumento é o de que essas três classes correspondem a três fases do processo de comoditização do mundo, em que a propriedade vai se tornando cada vez mais abstrata. Em sua concepção, pastoralismo era sólido, o capitalismo líquido e o vetorialismo é gasoso; cumprindo a profecia marxiana de desmanchar no ar tudo que era sólido (WARK, 2015).
Assim, o que pretende propor é que no seio da classe capitalista surgiu uma nova classe dominante, que liberada das limitações da anterior pôde levar a exploração a novos níveis. Isso porque requer das classes dominadas não mais um período determinado de tempo nas fábricas, mas corpos inteiramente disponíveis a todo tempo. E já não adianta parar a produção como forma de resistência, pois um vetor pode ser facilmente movido para outro lugar onde a produção segue eficiente. Então, os compromissos que a classe capitalista foi obrigada a ceder aos trabalhadores após séculos de luta e a implementação de um Estado de bem-estar-social são contornados pela classe vetorialista, que apresenta interesse nos espaços nacionais de produção e consumo apenas na medida em que são mais rentáveis do que os outros disponíveis (WARK, 2013).
Com o conceito de vetorialismo, Wark se aproxima das teorias que se propõem a investigar as transformações ocorridas no capitalismo contemporâneo, em especial após a introdução das tecnologias digitais de informação e comunicação. Entretanto, insiste que se trata de fato de um novo modo de produção, e com isso se distancia de uma série delas ao recusar as visões que adjetivam o capitalismo, e portanto ainda pressupõem sua predominância. Então, sem pressupor que de fato estejamos no regime de produção vetorialista, nosso objetivo é o de partir dessa proposta para refletir sobre a disputa apropriação e a comunização da informação na sociedade contemporânea. Para tanto, apresentaremos revisão de obras da autora que tratam do conceito e em seguida realizar inferências sobre o lugar da informação na produção, esperando com isso contribuir para o pensamento crítico sobre o tema.
A Ulepicc-Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura) realiza seu oitavo encontro excepcionalmente na modalidade virtual de 12 a 23 de outubro. O evento prioriza as atividades dos Grupos Temáticos, cada qual com uma mesa e cujas atividades ocorrem em horários diferentes. Os debates são sobre as transformações no sistema capitalista e seus impactos nos campos da informação, da comunicação e das mídias, da cultura e da produção cultural.
O 8º Encontro da Ulepicc-Brasil tem o apoio da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e os anais do evento aqui representados trazem os resumos expandidos aprovados para 8 Grupos Temáticos e para a Jornada de Graduandas/os. Os Anais do 8º Encontro da Ulepicc-Brasil têm o ISBN 978-65-88480-02-1.
Comissão Organizadora
Anderson Santos, Manoel Dourado Bastos, Fernando de Oliveira e Julliana Barra
Comissão Científica
Murilo César Ramos (UnB)
Rozinaldo Miani (UEL)
Jonas Valente (LaPCom/UnB)
Verlane Aragão Santos (PPGCOM-UFS)
Juliana Teixeira (UFPI)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Marco Schneider (PPGCI-IBICT/UFRJ e PPGMC-UFF)
Ivonete da Silva Lopes (UFV)