O regime vetorialista de Mckenzie Wark

  • Autor
  • Victor Barcellos
  • Resumo
  • “E se isso não fosse mais capitalismo, mas algo pior?” (WARK, 2016, p. 43, tradução nossa). A partir dessa provocação Mckenzie Wark, professora de Mídia e Cultura da The New School, apresenta seu conceito de vetorialismo. Na visão de Wark o capitalismo, enquanto regime de produção em que a classe burguesa detém os meios de produção, vem cedendo lugar para o denominado vetorialismo, em que a classe vetorialista exerce poder através do controle sobre os vetores de informação. A estratégia de controle dessa nova classe dominante consiste na apropriação da informação produzida coletivamente através dos mecanismos de propriedade intelectual.

    Com tal hipótese, a autora não pretende afirmar que o regime capitalista tenha se extinguido. Na verdade, defende que a classe pastora (detentora de terras), a classe capitalista (detentora de capital) e a classe vetorialista (detentora dos vetores de informação) coexistem na contemporaneidade, ora colaborando e ora conflitando entre si. Sendo que cada uma delas possui sua respectiva classe dominada: os agricultores, os trabalhadores e os hackers. Seu argumento é o de que essas três classes correspondem a três fases do processo de comoditização do mundo, em que a propriedade vai se tornando cada vez mais abstrata. Em sua concepção, pastoralismo era sólido, o capitalismo líquido e o vetorialismo é gasoso; cumprindo a profecia marxiana de desmanchar no ar tudo que era sólido (WARK, 2015). 

    Assim, o que pretende propor é que no seio da classe capitalista surgiu uma nova classe dominante, que liberada das limitações da anterior pôde levar a exploração a novos níveis. Isso porque requer das classes dominadas não mais um período determinado de tempo nas fábricas, mas corpos inteiramente disponíveis a todo tempo. E já não adianta parar a produção como forma de resistência, pois um vetor pode ser facilmente movido para outro lugar onde a produção segue eficiente. Então, os compromissos que a classe capitalista foi obrigada a ceder aos trabalhadores após séculos de luta e a implementação de um Estado de bem-estar-social são contornados pela classe vetorialista, que apresenta interesse nos espaços nacionais de produção e consumo apenas na medida em que são mais rentáveis do que os outros disponíveis (WARK, 2013). 

    Com o conceito de vetorialismo, Wark se aproxima das teorias que se propõem a investigar as transformações ocorridas no capitalismo contemporâneo, em especial após a introdução das tecnologias digitais de informação e comunicação. Entretanto, insiste que se trata de fato de um novo modo de produção, e com isso se distancia de uma série delas ao recusar as visões que adjetivam o capitalismo, e portanto ainda pressupõem sua predominância. Então, sem pressupor que de fato estejamos no regime de produção vetorialista, nosso objetivo é o de partir dessa proposta para refletir sobre a disputa apropriação e a comunização da informação na sociedade contemporânea. Para tanto, apresentaremos revisão de obras da autora que tratam do conceito e em seguida realizar inferências sobre o lugar da informação na produção, esperando com isso contribuir para o pensamento crítico sobre o tema. 

  • Palavras-chave
  • Vetorialismo; Informação; Regimes de produção
  • Área Temática
  • GT7- Estudos Críticos em Ciência da Informação
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A Ulepicc-Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura) realiza seu oitavo encontro excepcionalmente na modalidade virtual de 12 a 23 de outubro. O evento prioriza as atividades dos Grupos Temáticos, cada qual com uma mesa e cujas atividades ocorrem em horários diferentes. Os debates são sobre as transformações no sistema capitalista e seus impactos nos campos da informação, da comunicação e das mídias, da cultura e da produção cultural.

O 8º Encontro da Ulepicc-Brasil tem o apoio da Universidade  Estadual de Santa Cruz (UESC) e os anais do evento aqui representados trazem os resumos expandidos aprovados para 8 Grupos Temáticos e para a Jornada de Graduandas/os.  Os Anais do 8º Encontro da Ulepicc-Brasil têm o ISBN 978-65-88480-02-1.

  • GT1 – Políticas de comunicação
  • GT2 – Comunicação popular, alternativa e comunitária
  • GT3 – Indústrias midiáticas
  • GT4 – Políticas culturais e economia política da cultura
  • GT5 – Economia Política do Jornalismo
  • GT6 – Teoria e Epistemologia da Economia Política da Comunicação
  • GT7- Estudos Críticos em Ciência da Informação
  • GT8 – Estudos Críticos sobre identidade, gênero e raça
  • Jornada de Graduandos

Comissão Organizadora

Anderson Santos, Manoel Dourado Bastos, Fernando de Oliveira e Julliana Barra

Comissão Científica

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Rozinaldo Miani (UEL)

Jonas Valente (LaPCom/UnB)

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Juliana Teixeira (UFPI)

César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)

Marco Schneider (PPGCI-IBICT/UFRJ e PPGMC-UFF)

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