A RELAÇÃO SIMBIÓTICA ENTRE JORNALISMO ECONÔMICO E NEOLIBERALISMO: A PEC DO TETO DE GASTOS E O JORNAL VALOR ECONÔMICO

A RELAÇÃO SIMBIÓTICA ENTRE JORNALISMO ECONÔMICO E NEOLIBERALISMO: A PEC DO TETO DE GASTOS E O JORNAL VALOR ECONÔMICO

• Autor
• César Henrique da Silva Rezende
• Co-autores
• Guilherme Bernardi
• Resumo

• A economia é um processo e, justamente por isso, o jornalismo econômico reflete uma conexão de fatos contínuos. Um aspecto importante que caracteriza o jornalismo econômico liberal é a sua relação com a lógica capitalista. Sendo assim, existe um conflito entre servir o público com informações corretas, isentas de opinião e de ideologia, e a proximidade com a lógica do capitalismo, já que jornal é uma empresa, voltada ao lucro (KUCINSKI, 1996). Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é apontar o  papel que a imprensa desempenha em todo esse processo e com isso, se caracteriza como qualitativo e um ensaio teórico e tem o intuito de ser um trabalho embasado na perspectiva da teoria crítica. (Adorno, 2003).

  Um equívoco que deve ser desmistificado a respeito do jornalismo é a possível neutralidade que, em tese, ele deveria exercer.  Afinal, todo discurso carrega em si um caráter ideológico. Com isso, ainda que de maneira sutil, a ideologia faz parte da notícia e da forma como a informação chega ao seu destino já que é dessa forma que se constitui a produção discursiva de sentido ou seja, na construção de discursos que estão carregadas tais ideologias (Fiorin, 1990).

  No caso do Brasil, o jornalismo econômico se especializou em atender especificamente o mercado financeiro, como é o caso do jornal Valor Econômico. Analisando as edições impressas do jornal na semana de votação da PEC do teto de gastos (de 21 a 29 de novembro de 2016), o jornal se utilizou de articulistas, empresários, e especialistas para legitimar tal medida e incentivar o leitor a entender a ação como necessária para o crescimento econômico do país. Além disso, a maioria de seus articulistas concorda com medidas mais liberalizantes já que tais medidas favorecem uma ampla movimentação do capital financeiro e tem um papel dominante na economia global e na vida das pessoas, com ideais como metas de reformas estruturais, controle da inflação e austeridade fiscal. Cabe apontar que o jornal faz parte de um dos maiores conglomerados de mídia do planeta, o grupo Globo.

  Como destaca Souza (2014 p.27) “o mercado financeiro (...) necessita de uma instituição para produzir um discurso coerente e explicar seu comportamento – uma retórica que justifique. Mercados necessitam de uma linguagem própria, provida pela imprensa financeira (...) o “mercado” cobiça volatilidade como modus operandi e volatilidade é sempre subproduto desse tipo de disseminação de informação financeira”. É nesse sentido o papel que a imprensa têm desempenhado não é o de mercado de notícias e sim “notícias do mercado”(Belluzzo, 2016).

   

  Assim, ao impor a mentalidade neoliberal e enfraquecer a pluralidade de pensamentos, tais veículos apenas reproduzem aquilo no qual fazem parte e cria em torno de toda essa ideia uma verdadeira fábrica de consenso. (Chomsky, 2013). É necessário compreender antes de qualquer coisa que a imprensa assume e representa o viés do neoliberalismo e que dessa forma, ele não é um fenômeno isolado ou uma medida econômica, ele representa uma racionalidade, ou seja, a nova razão do mundo.

• Palavras-chave
• neoliberalismo, jornalismo, economia,
• Área Temática
• GT5 – Economia Política do Jornalismo

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