AS “EXPLOSÕES NERVOSAS” DE DILMA ROUSSEFF E O “DESCONTROLE DO ‘LEÃO’’’ JAIR BOLSONARO NAS EDIÇÕES DA REVISTA ISTOÉ

  • Autor
  • Ana Maria da Conceição Veloso
  • Co-autores
  • Patrícia Paixão de Oliveira Leite
  • Resumo
  • Este artigo visa analisar comparativamente as representações dos presidentes Dilma Rousseff (Partido dos Trabalhadores) e Jair Bolsonaro (sem partido), em duas produções da Revista IstoÉ. Utiliza, como objeto de estudo, as capas e reportagens principais das edições de 6 de abril de 2016, que tem como manchete “As explosões nervosas da presidente”, e de 1º de novembro de 2019, que traz a manchete “Bolsonaro: um ‘leão’ fora de controle”.

    Para averiguar os sentidos imersos no corpus da pesquisa, a análise qualitativa busca revelar o “sentido geral dos textos, do contexto onde aparece, dos meios que o veiculam e/ou dos públicos aos quais se destina” (HERSCOVITZ, 2010, p. 127). Faz-se uso da Análise de Conteúdo (AC) para “compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou ocultas” (CHIZZOTTI, 2006, p. 98).

    Na análise do corpus sobre Dilma Rousseff fica explícito que a revista, cuja edição antecedeu o processo que culminou com o impeachment, tenta pautar, no debate público, que a presidenta não tinha condições emocionais e políticas para continuar seu mandato. Revela-se o caráter preconceituoso da publicação, que reproduziu formações ideológicas sexistas. Inclusive, a principal personagem da reportagem, Dilma, não foi ouvida.

    Já em relação ao presidente Jair Bolsonaro, a capa do periódico e a matéria ressaltam o “destempero” do personagem e questionam sua tentativa de emplacar – perante a opinião pública - a imagem de um “rei da selva” atacado por inimigos. A produção faz alusão a um vídeo postado por ele, em redes sociais, no qual encarna a figura de um leão em combate com “hienas”, que seriam os “opositores” ao seu governo: PT, União Nacional do Estudantes (UNE), Central Única dos Trabalhadores (CUT) e até o “feminismo”, entre outros. Constatamos que o personagem é apresentado isolado, com tendências autoritárias, e que se diz vítima de teorias conspiratórias, não demonstrando capacidade em lidar com o contraditório.

    Diante de tal abordagem, é imprescindível que este estudo discuta sobre as relações entre gênero e mídia, por meio do suporte teórico de Betânia Ávila (2000; 2001), Joan Scott (1995), Richard Johnson (1999), Rachel Moreno (2009), Mercedes Lima (2009) e Michèle Mattelart (1982). Também se entende como necessário utilizar o esteio teórico da Economia Política da Comunicação, tendo como referência os estudos de Octavio Ianni (2001), César Bolaño (2000), Eduardo Granja Coutinho (2008), Marcos Dantas (2002), Vincent Mosco (1996), Venício Lima (2006), Janeth Wasco (2006), que trarão aportes do pensamento crítico - fundamento no qual este trabalho se inscreve.

    Após a análise, somos levadas a concordar com Pascual Serrano, quando o pesquisador diz: “a seleção das notícias é o argumento mais contundente para recordar que não existe a neutralidade e a imparcialidade informativa” (SERRANO, 2009, p. 25-26, tradução nossa). Guardadas as devidas especificidades dos mandatos e do contexto político no qual estavam inseridos, temos a sensação de que a revista advoga que Dilma e Bolsonaro não reúnem condições psíquicas e políticas para governar o país, mas é sobre a mulher presidenta que recai o peso da misoginia. 

  • Palavras-chave
  • Revista IstoÉ, Mídia, Gênero, Sexismo
  • Área Temática
  • GT8 – Estudos Críticos sobre identidade, gênero e raça
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  • GT7- Estudos Críticos em Ciência da Informação
  • GT8 – Estudos Críticos sobre identidade, gênero e raça
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