No livro Indústria Cultural: Informação e Capitalismo, o autor César Bolaño refaz os passos de Karl Marx, em O Capital, chegando a um estudo de base marxista para questões da Economia Política da Comunicação. A partir do método usado pelo autor de derivação das formas chega-se até a ideia de que a informação desempenha ao Capital e ao Estado duas funções específicas: a Publicidade e a Propaganda. A Publicidade acelera o processo de circulação das mercadorias e ao mesmo tempo funciona como controle ideológico ao propagar mais rapidamente o “Modo de Vida” do consumo. A função Propaganda possibilita que modelos de conduta sejam aceitos mesmo quando contraditórios, garante o poder do Estado.
Dentro da forma-comunicação também atua o que consideramos o objeto central desta pesquisa: a Função Programa - as massas são expostas a esta função emocionalmente quando se identificam com seus próprios símbolos culturais nas produções da Indústria Cultural, o termo foi definido como objeto por apresentar desdobramentos relevantes, principalmente quando analisado sob uma perspectiva de raça, apresentando o que chamamos de contradições. A identificação das massas é fundamental para o êxito da Função Programa dentro da Indústria Cultural, porém, a representação de corpos negros ainda é recente e prematura. O racismo é um pilar fundamental do sistema capitalista, assim como a comunicação. A mídia por sua vez reflete o racismo, e os interesses, das instituições – racismo que muda muito pouco com a representatividade nas produções culturais, já que acaba se tornando cortina de fumaça para que a base do capital continue sendo a exploração, sobretudo, de pessoas negras. Não representar ou representar, o objetivo continua sendo manter um sistema lucrativo construído sob exploração: a lógica da contradição do capital.
Os resultados teóricos desta pesquisa foram alcançados em cinco etapas; começando por um processo de leitura e pesquisa, fase que rendeu a escolha do termo Função Programa como objeto central. Em um segundo momento foi desenvolvido um fichamento do livro analisado, destacando as partes relacionadas ao tema, fase que estruturou a Análise e a Interpretação da pesquisa. Com a compilação dos dados as hipóteses foram desenvolvidas. Na quinta e última fase o texto foi elaborado, reunindo todos os resultados das análises e discussões. É a partir da Indústria Cultural que o trabalhador passa a ter duplo valor de exploração. Não apenas vende sua força de trabalho, mas cede sua consciência (inconscientemente) se tornando também um produto, o que se agrava quando estes trabalhadores são homens e mulheres negras. A Função Programa torna o sistema mais rápido e eficiente quando se apropria dos símbolos culturais das massas. Ao suprir as demandas emocionais dos trabalhadores a comunicação simbolicamente apaga as barreiras e ambiguidades ideológicas para o Estado e mercadológicas para o capital, barreiras e ambiguidades fundamentais para um debate efetivo sobre racismo estrutural.
A Ulepicc-Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura) realiza seu oitavo encontro excepcionalmente na modalidade virtual de 12 a 23 de outubro. O evento prioriza as atividades dos Grupos Temáticos, cada qual com uma mesa e cujas atividades ocorrem em horários diferentes. Os debates são sobre as transformações no sistema capitalista e seus impactos nos campos da informação, da comunicação e das mídias, da cultura e da produção cultural.
O 8º Encontro da Ulepicc-Brasil tem o apoio da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e os anais do evento aqui representados trazem os resumos expandidos aprovados para 8 Grupos Temáticos e para a Jornada de Graduandas/os. Os Anais do 8º Encontro da Ulepicc-Brasil têm o ISBN 978-65-88480-02-1.
Comissão Organizadora
Anderson Santos, Manoel Dourado Bastos, Fernando de Oliveira e Julliana Barra
Comissão Científica
Murilo César Ramos (UnB)
Rozinaldo Miani (UEL)
Jonas Valente (LaPCom/UnB)
Verlane Aragão Santos (PPGCOM-UFS)
Juliana Teixeira (UFPI)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Marco Schneider (PPGCI-IBICT/UFRJ e PPGMC-UFF)
Ivonete da Silva Lopes (UFV)