JORNALISMO DE ESGOTAMENTO: O CANSAÇO NAS REDAÇÕES E OS IMPACTOS NA PRÁTICA JORNALÍSTICA

  • Autor
  • Gabriela Ferreira
  • Resumo
  • O estado emocional dos jornalistas de "hard news" inspirava preocupação em 61% de 200 altos executivos de mídia entrevistados nos Estados Unidos em 2018, segundo o relatório Digital News Project, do Reuters Institute. Entre os inúmeros desafios relatados pelos executivos, como atrair e reter talentos, 61% deles afirmaram que estavam preocupados ou muito preocupados com a síndrome de Burnout - ou "estresse crônico" - na definição da Organização Mundial da Saúde. Em maio, a OMS anunciou a inclusão da síndrome de Burnout na Classificação Internacional de Doenças: uma lista, baseada nas conclusões de especialistas do mundo todo, usada para verificar tendências e estatísticas de saúde. Entre os sintomas da síndrome, que se refere especificamente ao ambiente profissional, estão a sensação de esgotamento físico e emocional (exaustão, dores de cabeça, pressão alta, dores musculares) e perda da eficácia profissional, que se refletem em outros comportamentos como isolamento, ausências no trabalho, mudanças bruscas de humor, depressão, lapsos de memória, entre outros. A curva ascendente de profissionais com perfis excessivamente estressados mostram o ambiente de "alta pressão" em que trabalham os jornalistas que lidam com o noticiário diário nas grandes empresas, ditas "tradicionais".

     

    Considerando que a prática jornalística é influenciada pelas interações dos profissionais dentro do ambiente de mídias, ressignificado pelas transformações econômicas e sociais da era digital, o objetivo deste ensaio é contribuir com as reflexões sobre a complexa configuração atual do jornalismo brasileiro, dentro dos seus elementos contextualizadores. A proposta é primeiro, refletir, a partir de teóricos ligados à Economia Política da Comunicação (BOLANO, 2017; BRITOS E GASTALDO, 2006; GORZ; 2005; SENNETT, 1999; SFEZ, 1994;) as transformações geradas pelas tecnologias digitais nas dinâmicas de produção do jornalismo diário e buscar entender como a crise do modelo de negócios tem afetado o modo de produção dos noticiários nos grandes conglomerados de mídia. Em seguida, a ideia é seguir com contribuições sobre como esta nova relação do campo com processos contemporâneos resultou na precarização do trabalho. Busco ainda levantar uma discussão teórica sobre as mudanças neste novo ambiente de mídias, especialmente como a inclusão das redes sociais e a web móvel privatizada resultaram num estágio de esgotamento dos jornalistas, com impactos diretos nos conteúdos que produzem. A ideia não é sugerir um determinismo econômico por parte do ser humano, como se não lhe fosse possível escapar da realidade do trabalho, e sim buscar reflexões sobre as questões que lhe são inerentes, de cujos efeitos o profissional não consegue se proteger. Por fim, a intenção é discutir, a partir de dados levantados em pesquisas, de que maneira o aumento de preocupação em torno da síndrome de Burnout se relaciona com a implicação de mais erros jornalísticos e numa crise de credibilidade sem precedentes: jornalistas antes vistos como perseguidores da verdade, agora são acusados de distorcer fatos. Além das referências, também incluo argumentação autoral, baseada nas experiências vividas ao longo de doze anos como repórter de hard news em seis das principais redações do país. 

  • Palavras-chave
  • jornalismo, internet, estresse
  • Área Temática
  • GT5 – Economia Política do Jornalismo
Voltar Download

A Ulepicc-Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura) realiza seu oitavo encontro excepcionalmente na modalidade virtual de 12 a 23 de outubro. O evento prioriza as atividades dos Grupos Temáticos, cada qual com uma mesa e cujas atividades ocorrem em horários diferentes. Os debates são sobre as transformações no sistema capitalista e seus impactos nos campos da informação, da comunicação e das mídias, da cultura e da produção cultural.

O 8º Encontro da Ulepicc-Brasil tem o apoio da Universidade  Estadual de Santa Cruz (UESC) e os anais do evento aqui representados trazem os resumos expandidos aprovados para 8 Grupos Temáticos e para a Jornada de Graduandas/os.  Os Anais do 8º Encontro da Ulepicc-Brasil têm o ISBN 978-65-88480-02-1.

  • GT1 – Políticas de comunicação
  • GT2 – Comunicação popular, alternativa e comunitária
  • GT3 – Indústrias midiáticas
  • GT4 – Políticas culturais e economia política da cultura
  • GT5 – Economia Política do Jornalismo
  • GT6 – Teoria e Epistemologia da Economia Política da Comunicação
  • GT7- Estudos Críticos em Ciência da Informação
  • GT8 – Estudos Críticos sobre identidade, gênero e raça
  • Jornada de Graduandos

Comissão Organizadora

Anderson Santos, Manoel Dourado Bastos, Fernando de Oliveira e Julliana Barra

Comissão Científica

Murilo César Ramos (UnB)

Rozinaldo Miani (UEL)

Jonas Valente (LaPCom/UnB)

Verlane Aragão Santos (PPGCOM-UFS)

Juliana Teixeira (UFPI)

César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)

Marco Schneider (PPGCI-IBICT/UFRJ e PPGMC-UFF)

Ivonete da Silva Lopes (UFV)