Da última década do século XX à primeira década do século XXI o mundo evoluiu tecnologicamente como se tivera passado um século. Entretanto, não deu conta de sanar questões básicas à própria necessidade humana, sobretudo em países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, formando cenários de vulnerabilidade diante da potencial capacidade de seus novos produtos tecnológicos alterarem a forma dos sujeitos verem o mundo e de agirem diante dele. Estar apto a receber, compreender, selecionar e transmitir esse volume enorme de informação requer um novo treinamento social, que vem mobilizando as principais correntes de estudos do campo da ciência da informação e da comunicação social. Bezerra (2019) adota o termo Competência Crítica em Informação para o Information Literacy, compreendendo o conjunto de habilidades que permite que os indivíduos reconheçam quando a informação é necessária e tenham a habilidade de localizá-la, avaliá-la e utilizá-la de forma eficaz (ACRL apud BEZERRA, 2019). É uma realidade, entretanto, que mesmo nações mais providas de um amadurecimento intelectual e crítico frente ao mundo têm estado à mercê da complexa rede de coleta de dados que vem transformando a sociedade em um grande tubo de ensaio, e os enredos políticos mundo afora em assunto que parece ter saído de perversas mentes do mal da ficção. É o que se pensa quando, por exemplo, a vanguardista sociedade inglesa cai nas armadilhas digitais do mundo moderno com a escolha pelo BREXIT.
O processo de integração humana não seria o mesmo sem o desenvolvimento tecnológico da comunicação um a um (cartas, telegramas, telégrafo, telefone), mas a grande contribuição para o capitalismo moderno foi a ação das comunicações em massa. O telefone celular, como hoje o conhecemos, está na fronteira desses dois modelos comunicacionais. Até bem pouco tempo, se falava ao telefone com uma pessoa de cada vez. O recurso para a realização de conferências é relativamente recente. Para a internet chegar no celular demorou alguns anos, e as primeiras gerações de smartphones chegaram apenas nos anos 2000. E foi nesse momento que o telefone celular deixou de ser telefone e se transformou definitivamente em um veículo transmídia . Ele é tudo num mesmo lugar. Continua sendo telefone, mas também é rádio, TV, jornal, telegrama, canal de envio de e-mails. Vira trabalho e entretenimento num único item. E é, sobretudo, uma câmera, um espelho preto que reflete seu detentor para o mundo. E o mundo para ele. Ao tornar-se o maior de todos os massmedia, é que passa a representar um perigo real para as relações sociais, e para a própria vida em sociedade.
O presente resumo é parte de um capítulo da dissertação Novas Interações Sociais e A Crise dos Afetos, apresentada ao PPGCI IBICT-UFRJ em 2020, que tem como proposta destrinchar os eventos de disseminação de ódio nos grupos de família de WhatsApp. Está sendo apresentado ao GT 7 por suas conexões com as temáticas vigilância digital, regime de informação, competência crítica em informação e desinformação digital em rede, entre outras questões conexas relevantes.
A Ulepicc-Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura) realiza seu oitavo encontro excepcionalmente na modalidade virtual de 12 a 23 de outubro. O evento prioriza as atividades dos Grupos Temáticos, cada qual com uma mesa e cujas atividades ocorrem em horários diferentes. Os debates são sobre as transformações no sistema capitalista e seus impactos nos campos da informação, da comunicação e das mídias, da cultura e da produção cultural.
O 8º Encontro da Ulepicc-Brasil tem o apoio da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e os anais do evento aqui representados trazem os resumos expandidos aprovados para 8 Grupos Temáticos e para a Jornada de Graduandas/os. Os Anais do 8º Encontro da Ulepicc-Brasil têm o ISBN 978-65-88480-02-1.
Comissão Organizadora
Anderson Santos, Manoel Dourado Bastos, Fernando de Oliveira e Julliana Barra
Comissão Científica
Murilo César Ramos (UnB)
Rozinaldo Miani (UEL)
Jonas Valente (LaPCom/UnB)
Verlane Aragão Santos (PPGCOM-UFS)
Juliana Teixeira (UFPI)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Marco Schneider (PPGCI-IBICT/UFRJ e PPGMC-UFF)
Ivonete da Silva Lopes (UFV)