O capitalismo, em seu processo de desenvolvimento histórico, passa por momentos em que as manifestações aparentes de suas formas se modificam e sofisticam conforme as necessidades da “autovalorização do valor”. Dentro dessas modificações aparentes é possível examinar seu período clássico como o de criação da esfera pública burguesa, segundo interpretação habermasiana. Esta esfera configuraria um segmento muito específico da sociedade em que “uma arena institucionalizada de interação discursiva” (FRASER, 1990, p. 57) era forjada como em um teatro, no qual os atores tinham suas vozes representadas. Este teatro manifestaria a “contradição interna à própria esfera pública burguesa entre o público [...] e o não-público, entre a minoria que participa da esfera pública e a grande maioria excluída” (BOLAÑO, 2000, p.73). Ele forja o início dos contextos que culminarão nos processos informacionais e culturais da forma-comunicação capitalista (BOLAÑO, 2000) em sua estrutura ideal e forma específica: a Indústria Cultural - já dentro da fase monopolista do seu desenvolvimento. Esta esfera pública burguesa, ao delimitar aqueles que terão ou não espaço para representação e fala, organiza na instância simbólica, as formações estruturais desiguais do sistema que exclui a informação de classe e de gênero. Com a ideia de consumo generalizada, as diferenças (de gênero, raça, classe) passam a ser representadas pela comunicação de massas, mas sem deixarem de ser gerenciadas e controladas pelas instituições tradicionais (MCLAUGHLIN, 2002).
O presente trabalho tem por objetivo em um primeiro momento, por meio da revisão bibliográfica, apontar o desenvolvimento da esfera pública burguesa e a crítica feminista de Nancy Fraser à exclusão de classe e gênero que se forjava nesse momento histórico. No segundo momento, pretende-se enriquecer a interpretação contingente do fenômeno por meio da contribuição totalizante da crítica da economia política da comunicação de César Bolaño e sua atualização com o exame da Indústria Cultural. Pretendemos demonstrar a importância da análise da forma-comunicação por meio das contribuições da EPC para a compreensão de desigualdades que superam os níveis da “redistribuição e do reconhecimento” (FRASER, 2006) e são fundamentadas por processos estruturantes do próprio sistema capitalista.
Pretende-se, ao fazer o paralelo entre a interpretação crítica de Fraser à esfera pública burguesa habermasiana e a contribuição de Bolaño para a totalidade da interpretação da forma-comunicação dentro da Indústria Cultural, inserir o contributo de uma teoria feminista da totalidade sobre os processos culturais e comunicacionais contemporâneos. Por meio da revisão bibliográfica, intenciona-se demonstrar como a crítica da Economia Política da Comunicação oferece um arcabouço metodológico capaz de interpretar problemas que, quando vistos apenas por seus aspectos contingentes, permanecem nebulosos para uma construção crítica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOLAÑO, C. (1993) Capital, estado, indústria cultural (Tese de doutorado). Universidade de Campinas – UNICAMP. São Paulo, SP, Brasil. Disponível em: <http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/285404> Acesso em: 20 dez. 2019.
FRASER, N. (2006). Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da Justiça numa era “pós-socialista”. Traduçao: Julio Assis Simões. Cadernos de Campo. São Paulo, número 14/15, pp. 231-239. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/view/50109/54229>. Acesso em: 19 dez. 2019.
_________. (1990). Rethinking the Public Sphere: A Contribution to the Critique of Actually Existing Democracy. Duke University Press. Social Text, No. 25/26, pp. 56-80. Disponível em: <https://www.jstor.org/stable/466240?origin=JSTOR-pdf&seq=1#page_scan_tab_contents>. Acesso em: 20 dez. 2019.
_________. (1995). What's Critical about Critical Theory? The Case of Habermas and Gender. Duke University Press. Source: New German Critique, No. 35, Special Issue on Jurgen Habermas (Spring - Summer, 1985), pp. 97-131. Disponível em: <>. Acesso em 20 dez. 2019. https://www.jstor.org/stable/488202
MCLAUGHLIN, L. (2002). Gender, privacy and publicity in ‘media event space: News, Gender and Power. Routledge. USA and Canadá. ISBN 0-203-01063-9 Master e-book.
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