O presente artigo discute a pertinência de categorias centrais para o estudo da Economia
Política da Informação, Comunicação e Cultura (EPICC) no âmbito da URSS. Para essa
classificação, o artigo reconhece a EPICC como fundamento para a práxis comunicacional do
chamado socialismo real, adotando as concepções de Bolaño (2000) que definem a comunicação
como uma forma social, assim como o constructo teórico da teoria da derivação que se desenvolveu
no âmbito da República Federal da Alemanha, durante a década de 1970. Devido à relação
intrínseca entre a forma comunicação e o capitalismo, o desafio presente neste artigo aos estudiosos
da EPC é, precisamente, o de categorizar as experiências comunicacionais circunscritas a uma
sociedade que almejava uma transição ao comunismo com o aporte teórico da EPC. Seria isso
possível?
Neste sentido, iniciaremos, a partir de uma análise bibliográfica, a exposição com a definição
da categoria dialética de “forma social”, embasados em um pequeno artigo escrito por Arthur
(2016), que relaciona o que o autor cunhou de “nova dialética” e O Capital , de Marx (2017).
Depois, aproximaremos do debate as concepções de Kurz (1999) a respeito da derrocada da
experiência socialista na URSS. COm a resolução da categorização da forma social como pertinente
à experiência socialista, partiremos a uma exposição do método da derivação das formas, aplicado à
comunicação, de Bolaño. Por fim, reconheceremos os fundamentos da práxis comunicacional russa
tal qual foram expostos pelas pesquisadoras Roth-Ey e Zakharova (2015), relacionando-as ao
conceito de forma-comunicação.
Partindo dos resultados obtidos por Arthur, para o qual a forma capitalismo foi destruída na
URSS, chegamos à conclusão de que a forma social, embora destruída, não acabou com o capital e
sua expressão, o sistema fabril, encarada pelo autor como a “forma material” do sistema. Além
disso, o caráter da divisão social do trabalho, categoria fundante do capitalismo, assim como sua
configuração técnica desprovida de autovalorização do valor, transformaram a experiência soviética
em um misto de “nem capitalismo, nem socialismo”, ou o que o autor cunhou de uma inadequação
entre forma e conteúdo. Kurz, por outro lado, compreende o sistema soviético como parte do
sistema mundial de produção de mercadorias, a despeito da coerção dos mecanismos de regulação
estatais da economia planificada soviética. A partir desses apontamentos, consideramos que a
experiência soviética constitui-se de uma expressão peculiar da forma social do sistema de
produção de mercadorias.
Como hipótese, este trabalho ressalta a intersecção entre as funções propaganda e publicidade,
cunhadas por Bolaño (2000). Já que houve uma indissociação entre a produção de mercadorias e a
lógica da acumulação de mais-valia (devido ao expurgo da concorrência), a publicidade passa a
assumir uma forma ideológica na concepção de um modo de vida ao trabalhador soviético. Ou seja,
a propalada preponderância da função propaganda devido à disseminação da produção cultural
ideológica do regime não obscureceria a função publicidade enquanto modeladora de um novo
modo de vida. Esta cumpriria uma função de circulação, ainda que a própria circulação de capital
estivesse interrompida.
A Ulepicc-Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura) realiza seu oitavo encontro excepcionalmente na modalidade virtual de 12 a 23 de outubro. O evento prioriza as atividades dos Grupos Temáticos, cada qual com uma mesa e cujas atividades ocorrem em horários diferentes. Os debates são sobre as transformações no sistema capitalista e seus impactos nos campos da informação, da comunicação e das mídias, da cultura e da produção cultural.
O 8º Encontro da Ulepicc-Brasil tem o apoio da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e os anais do evento aqui representados trazem os resumos expandidos aprovados para 8 Grupos Temáticos e para a Jornada de Graduandas/os. Os Anais do 8º Encontro da Ulepicc-Brasil têm o ISBN 978-65-88480-02-1.
Comissão Organizadora
Anderson Santos, Manoel Dourado Bastos, Fernando de Oliveira e Julliana Barra
Comissão Científica
Murilo César Ramos (UnB)
Rozinaldo Miani (UEL)
Jonas Valente (LaPCom/UnB)
Verlane Aragão Santos (PPGCOM-UFS)
Juliana Teixeira (UFPI)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
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Ivonete da Silva Lopes (UFV)