Relações laborais flexíveis e fragilização legal dos empregos, com jornadas mais longas e salários mais baixos, têm marcado o mercado contemporâneo. Na presente sociedade, o enaltecimento do empreendedorismo e da competitividade acaba por fazer emergir um novo tipo de trabalhador, submetido ao que se poderia qualificar como “escravidão digital” (ANTUNES, 2018). Exige-se dos sujeitos a capacidade de constantemente reinventar-se e readaptar-se às demandas do mercado, com vistas a manter sempre elevados os indicadores de produtividade: como consequência, o estresse, a depressão, a ansiedade e outros adoecimentos compõem uma paisagem neuronal profundamente marcada pela constante pressão por desempenho (HAN, 2017).
Trata-se da era do chamado capitalismo de plataforma (SCHOLZ, 2016), centrado num modo de produção – liderado pelas grandes plataformas digitais, tais como Google, Facebook, Netflix, Spotify, Amazon, Uber e Airbnb – voltado para sugar o máximo de vantagem dos dados fornecidos voluntariamente pelos usuários e extrair lucros para um grupo restrito de proprietários e acionistas. Nesse contexto, quando o cerne do negócio é a oferta de serviços (por meio de aplicativos de transportes ou entrega de comida, por exemplo), a espoliação de direitos dos trabalhadores traveste-se ainda mais de uma falsa sensação de liberdade: na uberização, a pretensa democratização do consumo, que promove o acesso aos serviços na palma da mão, está alicerçada em condições de trabalho precárias e redução de mecanismos de seguridade social.
No Brasil, o crescimento deste mercado de prestação de serviços via plataformas é flagrante. A pesquisa TIC Domicílios 2018, que mede o acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) nos domicílios brasileiros e seu uso pela população, evidenciou que 32% dos brasileiros usuários de internet pediram táxis ou motoristas em aplicativos; 28% pagaram por serviços de filmes ou séries on-line; 12% fizeram pedidos de refeições em sítios ou aplicativos, e 8% pagaram por serviços de música, o que demonstra a consolidação desse modelo de negócios.
Pode-se dizer que o cenário atual tem como pano de fundo um novo regime global de mediação da informação (BEZERRA, 2017), caracterizado por formas de classificação e acesso de informação calcadas em filtragem algorítmica, protagonizadas pelas grandes plataformas digitais. Vemo-nos imersos, assim, em um grande oceano de informações, entretenimento e serviços no ambiente digital – e, por vezes, percebemo-nos dependentes desse sistema. Neste trabalho, entendemos ser crucial propor o exercício da competência crítica em informação (BEZERRA, 2019; BEZERRA, SCHNEIDER, SALDANHA, 2019; ELMBORG, 2006; SEALE, 2013; TEWELL, 2015) como uma rota para formação de um pensamento crítico, que permita aos usuários, por um lado, lançar mão dos benefícios trazidos pelas TIC (tais como o amplo acesso a informações, produtos e serviços, por exemplo), mas, por outro, desenvolver a consciência sobre as facetas obscuras e os riscos associados a seu uso (tais como a exploração de dados pessoais e a espoliação de direitos dos trabalhadores das plataformas), tornando-se capazes de buscar caminhos que viabilizem a transformação e a emancipação social.
A Ulepicc-Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura) realiza seu oitavo encontro excepcionalmente na modalidade virtual de 12 a 23 de outubro. O evento prioriza as atividades dos Grupos Temáticos, cada qual com uma mesa e cujas atividades ocorrem em horários diferentes. Os debates são sobre as transformações no sistema capitalista e seus impactos nos campos da informação, da comunicação e das mídias, da cultura e da produção cultural.
O 8º Encontro da Ulepicc-Brasil tem o apoio da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e os anais do evento aqui representados trazem os resumos expandidos aprovados para 8 Grupos Temáticos e para a Jornada de Graduandas/os. Os Anais do 8º Encontro da Ulepicc-Brasil têm o ISBN 978-65-88480-02-1.
Comissão Organizadora
Anderson Santos, Manoel Dourado Bastos, Fernando de Oliveira e Julliana Barra
Comissão Científica
Murilo César Ramos (UnB)
Rozinaldo Miani (UEL)
Jonas Valente (LaPCom/UnB)
Verlane Aragão Santos (PPGCOM-UFS)
Juliana Teixeira (UFPI)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Marco Schneider (PPGCI-IBICT/UFRJ e PPGMC-UFF)
Ivonete da Silva Lopes (UFV)