Economia Política das Agências de Notícias: noções estruturantes e metodologia de pesquisa

  • Autor
  • Pedro Aguiar
  • Resumo
  •  

    Este artigo delineia algumas linhas-guias para o estudo crítico de agências de notícias como objeto de pesquisa pela perspectiva da Economia Política da Comunicação, aplicada em sua vertente da Economia Política do Jornalismo. Com base nos referenciais já propostos por Boyd-Barrett, Rantanen, Innis e outros, são listadas particularidades (em contraste com o jornalismo praticado em veículos de comunicação) e categorias de análise para o estudo dessas organizações pela EPJ. Adicionalmente, busca-se superar as marcas de colonialidade latentes em muitos dos textos de referência nesta área, oferecendo exemplos e referenciais derivados de epistemes do Sul Global, como Silva Jr. (2006), Jansen (2010) e Xin (2012).

    Em plano privilegiado, as investigações sobre a economia política das agências de notícias preocupam-se com suas relações econômicas e institucionais, tanto entre elas próprias quanto delas com outros atores das indústrias da comunicação (veículos de mídia, operadoras de telecomunicações, fornecedores de tecnologia), com entidades de outros setores (bancos e sistema financeiro em geral, órgãos multilaterais) e com o Estado.

    Em segundo lugar, estudos sobre rotinas de produção, exploração do trabalho e relações de classe dentro e fora das redações das agências de notícias (como, por exemplo, a estreita relação entre os donos de agências e a burguesia procedente do setor financeiro como clientela, desde Paul Reuter no século XIX até Michael Bloomberg no século XXI) também figuram entre os interesses desta linha, como se vê no trabalho de Czarniawska (2011).

    A pesquisa pioneira de Boyd-Barrett (1980), conduzida em paralelo aos debates sobre a Nova Ordem Mundial da Informação Comunicação (NOMIC) que culminaram no Relatório MacBride da UNESCO naquele mesmo ano, abordou as agências de notícias como operadores econômicos na indústria do jornalismo. As categorias de análise com que trabalhou, na ocasião, eram:

    a)     propriedade e controle;

    b)     receita e despesas;

    c)     clientes;

    d)    força de trabalho e bureaux (sucursais ou delegações);

    e)     serviços;

    f)      regionalização de serviços jornalísticos;

    g)     relações entre agências e clientes.

    Em um trabalho abrangente e pouco lembrado, na mesma época, Salinas (1984) considerou também a escala de operações (transnacional, regional supranacional, nacional, regional infranacional, local) e a orientação dos serviços (mídia estrangeira, mídia nacional, setor financeiro, aparatos do Estado), ressaltando sua relação estreita com o capital.

    Finalmente, o prisma conceitual da economia política das agências de notícias pressupõe a categoria da totalidade, como faz Boyd-Barrett com o nexo global-local, em diálogo direto com as obras de Wallerstein (1974) e Mattelart (1994), nos respectivos conceitos de sistema-mundo e comunicação-mundo. Na prática, isto significa ressaltar a necessidade de compreender as operações destas organizações dentro de um marco global em que se relacionam com (ou são afetadas por) agências transnacionais e toda a rede institucional que as acompanha. Análises atomizadas sobre agências particulares em mercados nacionais, tomados como isolados, pouco contribuem para o entendimento de tais empresas pela Economia Política do Jornalismo.

    Desenha-se, enfim, um quadro geral de referência que possa servir de orientação para outras pesquisas críticas que se debrucem sobre agências de notícias a partir da Economia Política do Jornalismo e da Comunicação.

     

  • Palavras-chave
  • agências de notícias; economia política do jornalismo; atividades-meio do jornalismo; economia política da comunicação internacional
  • Área Temática
  • GT5 – Economia Política do Jornalismo
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