A relação da Comédia com o Poder, a Grécia antiga e o Brasil em 2020.

  • Autor
  • Ygor Schimidel Moutinho São Mateus
  • Resumo
  •  

    RESUMO

    A comédia enquanto trabalho autoral se estabelece na Grécia do século V a.C. simultaneamente aos conflitos sociais e mudanças institucionais que consolidaram a Democracia até o momento do seu fim com a derrota para Esparta nas guerras do Peloponeso em 404. a.C. Ao contrário da tragédia, que sustentava para a população narrações míticas, com personagens desconhecidos e simbólicos, a comédia incluía personalidades reais, autoridades e pessoas importantes em suas narrativas sem nenhum tipo de restrição tratativa. Nas peças cômicas, estrategos, arcontes, demagogos e filósofos eram nomeados e insultados sem pudor ao lado de personagens fictícias. As encenações participavam diretamente da formação da opinião pública da pólis. Sua trajetória enquanto gênero permite inferir, de Cratino à Menandro, um momento original em que se conformou a relação entre a comédia e a democracia.

    Ao comparar a evolução das peças cômicas nota-se maior agressividade aos políticos durante os momentos iniciais e um tom moderado após o fim da Democracia em 404 a.C. Data considerada momento de transição da antiga (e politicamente agressiva) para a nova (e moderada) comédia (SILVA, 2020). Contraditoriamente este momento de moderação ao ataque aos líderes políticos deu lugar a uma tentativa de retratar culturalmente a vida das classes subalternizadas. O que torna possível abordar o eixo central da relação da liberdade de expressão e ofensa da comédia e seus efeitos socialmente contraditórios. Exemplificado no período analisado em que a liberdade total dos poetas resultou na difamação de figura que instituíam incentivo ao acesso ao teatro. Além disso o foco na vida dos poderosos gestou ao longo dos anos uma acentuada demanda por retratação de questões cômicas relacionadas à vida privada dos populares e suas contradições, assumindo um tom ameno para a ofensa direta. A nova comédia aparece para cumprir essa demanda simultaneamente ao retorno da oligarquia dos “trinta tirânicos” (MANFREDI, 2008).

    Nota-se com isso a relação contraditória entre cultura e atuação política na pretensão da utopia democrática, e sua relação intima com o cômico. Fato é que nos anos que seguem o século III a.C., a opinião de Platão e Aristóteles se tornou mais presente e refletida nas abordagens posteriores. O riso foi cada vez mais associado ao ataque imoral, e a moralidade mais presente atou de maneira a diluir gradualmente os espetáculos cômicos, e associá-lo a construção do diabólico, como um símbolo partido, perdido, desunido, fragmentado. Este fragmento de um espírito maior anteriormente capaz de rir, é o cômico, fruto do trabalho do poeta cômico, que só volta se torna um caco (fragmento cultural) novamente cortante para as autoridades a partir do comédia Stand-up (comédia em pé) em Nova Yorque dos anos 40 aos 60, quando a cidade vivia as contradições típicas da implementação do modo de vida capitalista moderno. Lenny Bruce (em 1963) é a confirmação desta nova era em que a ofensa as autoridades e obscenidade encontrou novamente seu lugar nas luzes do espetáculo da indústria cultural em formação.

    O objetivo do artigo é comparar a comédia antiga e seus limites democrático com os eventos ocorridos no Brasil 2020. Para o que é central não só o conceito de cultura elaborado por Furtado e posto em discussão pela EPC brasileira, como a observação do lugar do trabalhador do espetáculo cômico e seu lugar na industrialização da produção cultural no mode capitalista de reprodução da vida.   

     

  • Palavras-chave
  • História da comédia, poder, trabalho cultural, indústria cultural
  • Área Temática
  • GT4 – Políticas culturais e economia política da cultura
Voltar Download

A Ulepicc-Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura) realiza seu oitavo encontro excepcionalmente na modalidade virtual de 12 a 23 de outubro. O evento prioriza as atividades dos Grupos Temáticos, cada qual com uma mesa e cujas atividades ocorrem em horários diferentes. Os debates são sobre as transformações no sistema capitalista e seus impactos nos campos da informação, da comunicação e das mídias, da cultura e da produção cultural.

O 8º Encontro da Ulepicc-Brasil tem o apoio da Universidade  Estadual de Santa Cruz (UESC) e os anais do evento aqui representados trazem os resumos expandidos aprovados para 8 Grupos Temáticos e para a Jornada de Graduandas/os.  Os Anais do 8º Encontro da Ulepicc-Brasil têm o ISBN 978-65-88480-02-1.

  • GT1 – Políticas de comunicação
  • GT2 – Comunicação popular, alternativa e comunitária
  • GT3 – Indústrias midiáticas
  • GT4 – Políticas culturais e economia política da cultura
  • GT5 – Economia Política do Jornalismo
  • GT6 – Teoria e Epistemologia da Economia Política da Comunicação
  • GT7- Estudos Críticos em Ciência da Informação
  • GT8 – Estudos Críticos sobre identidade, gênero e raça
  • Jornada de Graduandos

Comissão Organizadora

Anderson Santos, Manoel Dourado Bastos, Fernando de Oliveira e Julliana Barra

Comissão Científica

Murilo César Ramos (UnB)

Rozinaldo Miani (UEL)

Jonas Valente (LaPCom/UnB)

Verlane Aragão Santos (PPGCOM-UFS)

Juliana Teixeira (UFPI)

César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)

Marco Schneider (PPGCI-IBICT/UFRJ e PPGMC-UFF)

Ivonete da Silva Lopes (UFV)