QUE JORNALISTA PARA QUE JORNALISMO?

  • Autor
  • Samária Araújo de Andrade
  • Resumo
  • No contexto de transformações na indústria da comunicação, impulsionada por avanços infotecnológicos digitais, perguntas aparentemente simples ou superadas voltam a emergir: o que é jornalismo? Quem é o jornalista?

    A reestruturação capitalista neoliberal, além de esvaziar o papel regulador do Estado e transferir autoridade para sistemas comerciais, nos últimos anos uniu a esses processos a ascensão das plataformas digitais – com extração e manipulação de dados, capital volumoso e interesses de mercado (ZUBOFF, 2021; VALENTE, 2019; MOROZOV, 2018; SRNICEK, 2016). Para Mosco (2017) essas plataformas comandam a “próxima Internet”, marcada pela mercantilização das instituições, corpos e consciências. E fazem isso via processos opacos, que promovem conteúdos enquanto invisibilizam outros. Wark (apud DEAN, 2021) pergunta: e se não estivermos mais vivendo no capitalismo, mas em algo pior? Estudos falam em “neofeudalismo” (DEAN, 2021).  

    Esse movimento ajuda a intensificar a desinformação. Morozov (2018, p. 11) observa que para o modelo de negócios das big techs “deixa de ser relevante se as mensagens disseminadas são verdadeiras ou falsas. Tudo o que importa é se elas viralizam”, uma vez que, dessa forma, rendem lucros.    

    Associadas ao ambiente de saturação tecnológica (SCHNEIDER, 2016; TRIVINHO, 2007) e novas formas de produção, transformações no mundo do trabalho trazem flexibilização e diminuição de emprego formal, remuneração e direitos. Silveira (2019) aponta uma expansão de aplicativos que modulam comportamentos. Os maiores grupos de comunicação também investem em empresas e serviços por aplicativos. O Grupo Globo, por exemplo, tem jogos de apostas, serviço de entrega, investimentos financeiros etc.

    As mudanças são uma constante na profissão jornalística. Ruellan (1993) fala de uma atividade fluida, com instabilidades a percorrerem modelos. No entanto, alterações recentes, se ampliam formas de produção, também se relacionam com transformações que o jornalista não controla e às quais, muitas vezes, tem reagido de modo não reflexivo e pragmático.  

    As formas mais flexíveis prometidas tendem a dispensar a presença do trabalhador. Essa presença, no entanto, não é descartada, mas vai se alojando em tarefas de menor qualificação e remuneração e se refletindo em profissionais multiplataforma, polivalentes e precarizados (GROHMANN, 2021; ANTUNES, 2013). Empresas de tecnologia cada vez mais ricas utilizam mão de obra barata e desespecializada (DEAN, 2021). Para Antunes (2013) a desespecialização é também um ataque aos saberes profissionais. 

    Todas essas condições incidem sobre o jornalismo praticado e o perfil do jornalista. Mesmo quem produz no chamado jornalismo alternativo, além da dificuldade de financiamento, é também dependente das big techs.

    Esse estudo teórico-crítico objetiva refletir sobre contextos contemporâneos que impactam num redesenho do que se entende por jornalismo e jornalista. Ele é ancorado em Economia Política da Comunicação (EPC), que instiga a compreensão dos processos de mediação social envolvendo a informação, comunicação e cultura, observados em suas relações sociais de produção (BOLAÑO, 2016). Não tecnodeterminista, ainda que avalie um possível potencial libertador da técnica (PINTO, 2005), a pesquisa se justifica pela necessidade de, num momento de discussão sobre relevância do jornalismo, apontar como conceitos centrais – jornalismo e jornalista – superficialmente resolvidos, encontram-se tensionados e em reconstrução.

  • Palavras-chave
  • Jornalismo, Jornalista, Economia Política da Comunicação, Trabalho, Mudanças infotecnológicas
  • Área Temática
  • GT5 – Economia Política do Jornalismo
Voltar Download
  • GT1 – Políticas de comunicação
  • GT2 – Comunicação popular, alternativa e comunitária
  • GT3 – Indústrias midiáticas
  • GT4 – Políticas culturais e economia política da cultura
  • GT5 – Economia Política do Jornalismo
  • GT 6 – Teoria e Epistemologia da Economia Política da Comunicação
  • GT7- Estudos Críticos em Ciência da Informação
  • GT 8 – Estudos Críticos sobre identidade, gênero e raça
  • GT Especial - Homenagem a Valério Brittos
  • Jornada de Graduandas e Graduandos

Comissão Organizadora

Ulepicc-Brasil

Comissão Científica