A assimetria entre os gêneros, embora assentada nos contextos históricos patriarcais, ganha, no sistema capitalista, particularidades e uma função determinada para a autovalorização do valor não sendo, portanto, possível tratar o problema como meramente contingencial. No presente trabalho, partirmos da forma-comunicação (BOLAÑO, 2000) como derivação expressa na Indústria Cultural e descrevemos como ela é necessariamente também patriarcal em sua regulação.
Veloso (2013, 2017) identificou o patriarcado de mídia como processos que geram sub-representação feminina nos postos destacados de emprego na mídia, com prejuízos salariais e de carreira e sub-representação no próprio conteúdo midiático produzido com menores espaços para fontes femininas, com segmentação dos espaços de fala de mulheres, com salários desiguais para a execução das mesmas funções, com as barreiras impostas para o acesso a cargos de comando e diretoria, entre outros fenômenos. Entendemos o patriarcado de mídia a partir de Veloso, mas damos um passo atrás para sua compreensão em estrutura, para além do modo contingencial e, após esta compreensão, descrevemos o processo de “feminização” (MIRANDA, 2017) dos trabalhos de mídia como um desdobramento dos movimentos de subsunção (MARX, 2016) e comodificação (GARNHAN, 1990) que caracterizam prejuízos como precariedade, instabilidade, baixos salários e relações abusivas de trabalho.
Confrontamos as teorias feministas baseadas nos operaístas italianos e a ideia de um “trabalho imaterial” (HARDT & NEGRI, 2001). Essas autoras defendem a ideia de um “trabalho de cuidado” Terranova (2000), Weeks (2007), Lynch (2007), McRobbie (2010) e Oksala (2016) como trabalhos produtivos e, cujas supostas “mercadorias” sejam embrenhadas de subjetividades. Elas dão destaque a características como a dedicação emocional e a personalização, como se tais características os imprimisse de uma peculiaridade e os distanciasse da lógica do valor, os recolocando em uma suposta esfera de “trabalho cognitivo” ou “imaterial”.
Para uma interpretação marxiana do processo, a materialidade ou imaterialidade do trabalho não é relevante. Muitos dos trabalhos definidos por essas autoras como “trabalhos imateriais de afeto”, são trabalhos de serviços como os de comissárias de bordo, de cuidadoras de idosos ou de empregadas domésticas. Retomamos a teoria do valor de Marx para a compreensão de tais equívocos. Após tal desenvolvimento teórico, temos condições de compreender os processos de “feminização” do trabalho e sua correlação com o patriarcado de mídia, sem as distorções da teoria do “trabalho do afeto” e retomando a importância da teoria do valor para a compreensão do problema. Usamos a revisão bibliográfica como metodologia para alcançar tal resultado.
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