A economia política da comunicação é um esporte de combate: pensamento crítico e luta epistemológica no pensamento comunicacional

  • Autor
  • Carlos Figueiredo
  • Resumo
  •  

    Este trabalho apresenta uma crítica ao caráter anódino tomado por grande parte dos estudos que reivindicam seguir o marco teórico da Economia Política da Comunicação (EPC). Para tal, realizamos uma crítica ao papel das ciências sociais expresso por Pierre Bourdieu no documentário A Sociologia é um esporte de combate (CARLES, 2001) a partir do conceito de Luta Epistemológica de César Bolaño (2015) e de uma comparação entre método científico e a disciplina corporal (BOLAÑO, 1999) exigida para a prática de esportes de combate.

    Uma quantidade expressiva de estudos que defendem seguir o marco teórico da EPC postulam a regulamentação governamental a partir de políticas públicas como principal estratégia do campo progressista para resolução dos impasses envolvendo a comunicação no modo de produção capitalista. Os estudos acerca de políticas públicas de comunicação — parte do campo crítico comunicacional — possuem como base epistemológica os estudos de políticas públicas (public policies) e a economia industrial heterodoxa como base epistemológica.

    Não negamos a importância de políticas públicas que possam minorar as tendências capitalistas à concentração das empresas de comunicação no funcionamento de regimes democráticos, ainda que burgueses. Entretanto, esses estudos apresentam um tipo particular de realismo capitalista (FISHER,2020), ou seja, a incapacidade de pensar soluções para além deste modo de produção. Parafraseando Ruy Braga (2003), tais estudos sofrem de uma nostalgia do fordismo, momento histórico em que os sistemas de comunicação, devido à correlação de forças existente na época, eram fortemente regulamentados nos países centrais.

    Acreditamos que essa tendência retira o potencial crítico da EPC, transformando o subcampo em um “esporte de combate” reativo, papel que Bourdieu, no documentário citado, defende para a Sociologia. Defendemos a Economia Política da Comunicação como um esporte de combate ofensivo em que a principal tática é “caminhar para frente” em direção ao oponente, confrontando-o. Dessa forma, o método materialista-histórico deve ser encarado como uma disciplina intelectual assim como as diferentes artes marciais são encaradas como disciplinas do corpo, seja para contra-atacar, defender-se, ou atacar o oponente. Portanto, o marxismo traz em seu bojo um método de superação, e não de conciliação, mesmo “quando usa a própria força do oponente” tem como objetivo superá-lo totalmente.

    Como tanto Bourdieu (1983) quanto Bolaño (2015) defendem a luta epistemológica traz em seu interior uma luta epistemológica. Simpson (2015) demonstra como a formação do campo comunicacional nos EUA, no pós-Guerra favoreceu os estudos administrativos em comunicação cujos pesquisadores como Lasswell, Lazarsfeld e Wilbur Schramm tiveram forte financiamento do Pentágono por participarem de estudos sobre propaganda militar e guerra psicológica. Tal conjuntura permitiu que teóricos como Adorno, Horkheimer e mesmo Charles W. Mills fossem relegados a uma posição secundária nos estudos sobre comunicação. Atualmente, a luta epistemológica do campo crítico é contra o que Bolaño chama teorias pós-modernas, da qual grande parte dos estudos culturais contemporâneos fazem parte. Defendemos, portanto, que os pesquisadores ligados EPC adotem estratégias de subversão epistemológica (BOURDIEU, 1983) ao invés de buscarem soluções no interior do capitalismo como se este não pudesse ser superado.

  • Palavras-chave
  • Luta epistemológica, Realismo Capitalista, Esporte de Combate
  • Área Temática
  • GT 6 – Teoria e Epistemologia da Economia Política da Comunicação
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