Muito embora o movimento feminista tenha nascido das revoluções burguesas do final do século XIX, impulsionado pela luta de mulheres brancas e burguesas em defesa do sufrágio universal, foram as mulheres socialistas que aprofundaram o caráter revolucionário e emancipador do conjunto da humanidade. Em 1843, Flora Tristan, escritora e ativista socialista franco-peruana, defendeu, antes mesmo de Marx e Engels, a criação de uma organização internacional que unisse todos os operários do mundo. Em seu livro União operária (1843) ela “aborda o direito das mulheres e examina a natureza da relação entre homens e mulheres dentro da família da classe operária” (ARRUZZA, 2019, p. 35). Foi a partir da Comuna de Paris (1871) e também da Revolução Russa (1917) - com a contribuição da única líder revolucionária russa, teórica do marxismo e membra do partido bolchevique, Alexandra Kollontai -, que se consolidou a maior parte da agenda de luta pela emancipação das mulheres, conhecida até hoje. Autores como Charles Fourier (1808), que estabeleceu a ligação entre a repressão econômica e a repressão sexual feminina e utilizou a condição da mulher como barômetro para o nível de desenvolvimento social, e Flora Tristan (1843), que construiu a compreensão dos vínculos entre exploração econômica e a opressão feminina, além de Marx que, em 1844, tratou do tema nos Manuscritos econômico-filosóficos: “Na relação com a mulher, como presa e criada da volúpia comunitária expressa-se a degradação infinita na qual o homem existe para sim mesmo” (MARX , 2004, p. 104), influenciaram o pensamento feminista , socialista ao reunirem “os ideais de igualdade social, o fim de qualquer exploração e a completa emancipação das mulheres” (ARRUZZA, 2019, p. 38). Assim como Clara Zetikin foi fundamental para a construção do movimento feminista socialista na Alemanha, por anos organizando outras mulheres dentro da social-democracia alemã, o foi também no âmbito da Segunda Internacional (1889), que aprovou que as operárias da indústria recebessem pagamento igual para trabalho igual ao dos homens. É, portanto, a partir dessa tradição socialista que propomos um reencontro das teorias marxistas com as teorias feministas dentro da Economia Política da Comunicação (EPC), dando atenção à análise das múltiplas opressões, explorações e identidades de gênero em uma análise marxista das relações sociais no capitalismo, isto é, como gênero e classe entrelaçam-se nas relações de produção e reprodução capitalista para dar origem a uma realidade complexa; integrar contradições como a opressão das mulheres e a opressão racial dentro da análise marxista da sociedade de classes e, portanto, superar a separação e hierarquização de opressões, ao mesmo tempo que contesta as abordagens com base na interseccionalidade, como enunciado no breve artigo de Bárbara Foley (2019). Esforços já têm sido realizados nessa direção, como observado em Bastos; Souza (2019) e Bolaño; Bastos; Souza; Herrera (2022), com importantes repercussões sobre o tratamento das questões pelas lentes do marxismo atual, em diálogo com autoras como Silvia Federici e Rosita Scholz, realçando o tipo de apropriação realizada por estas do aparato teórico e metodológico de Marx.
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