Alicerçado sobre a concepção de que o trabalho dos jornalistas nos departamentos de comunicação dos sindicatos é uma especialização do jornalismo (GIANOTTI, 1998), este estudo discute as mudanças nas rotinas de produção de notícias desse campo de atuação a partir do trabalho como elemento central de análise e a consequente crise nas relações com as direções das entidades em que atuam no contexto da reestruturação capitalista.
O movimento sindical brasileiro passou por muitas e profundas transformações, conforme descrevem Barros (2013), Santiago e Gianotti (2014) e Momesso (2008). Assim também aconteceu com a imprensa sindical, definida como um conjunto de veículos concebidos, editados, geridos e distribuídos pelo conjunto das entidades da classe trabalhadora. Partindo dos mais de 500 jornais de cunho revolucionário e autônomo do início do século XX, até a ainda precarizada e clandestina imprensa operária durante a ditadura civil-militar, foi somente após a redemocratização do país nos anos 80 que as entidades buscaram jornalistas para implementar o processo de profissionalização das redações sindicais. Por outro lado, mudanças profundas podem ser verificadas na produção de notícias pelo jornalismo brasileiro com a informatização, nos anos 80 e 90, e a convergência tecnológica advinda da internet, nos anos 2000 (FIGUEIREDO, 2019), tornando possível ser cunhada a definição de Jornalismo Flexível.
O objetivo do presente estudo, portanto, é investigar em que medida essas transformações de atuação dos jornalistas puderam ser sentidas também no jornalismo sindical. Para amparar essas discussões, utiliza-se metodologia interdisciplinar esmiuçada por Figueiredo (2019) em que a Economia Política da Comunicação encontra complemento e possibilidade dialógica nas Teorias do Jornalismo, como a newsmaking, etnográfica e também alternativas, como o Jornalismo de Resistência, conforme descreve Pena (2006).
Isso faz com que a categoria trabalho passe à centralidade desse estudo no que Figueiredo define como Teoria Crítica do Jornalismo, alinhado à proposta de Horkheimer (1980) que visa à emancipação dos sujeitos a partir de um olhar orientado pela EPC sobre a atuação dos jornalistas. Bolaño (2015) já propunha essa perspectiva metodológica ao apontar para o potencial analítico dos estudos em jornalismo e que a EPC se propunha a entender – numa perspectiva também abordada por Marques (2018) – como o trabalho intelectual dos jornalistas é subsumido e desqualificado pela emergência acelerada de novas tecnologias, devendo seus conhecimentos específicos serem postos a serviço de projetos de liberação. Para Bolaño (2008), a EPC se firma como o paradigma transversal e abrangente, construindo elos de forma não eclética com outros enfoques teóricos.
Essas formas de comunicação alternativas e populares encontram respaldo também nas análises de Lopes (2008), que em vez de enaltecer os pretensos potenciais democratizantes das novas Tecnologias da Informação e da Comunicação, defende ser preciso compreender seu caráter privado com fins de acumulação e apontar para caminhos oriundos dos movimentos sociais de resistência na direção da construção de uma comunicação que seja, efetivamente, democrática e populares – possibilidade esta que precisa superar as supostas contradições na imprensa sindical para que se efetive. É sobre essa questão que o presente trabalho visa discutir.
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