O projeto de uma rede de computadores interconectados foi concebido no âmbito das Universidades, Centros de Pesquisa e por meio das instituições governamentais, sobretudo em suas atividades ligadas ao exército. Todavia, o que ocorre nos anos 1990 é um processo de apropriação dessas redes por entidades privadas, empresas que outrora não queriam despender um alto investimento para o desenvolvimento dessa tecnologia, passa a controlá-la dada a febre de privatizações no setor. A internet, nessa altura, era vista com gana pelos especuladores financeiros que apostavam na tecnologia como uma espécie de “nova economia”, essas aplicações nas empresas “de garagem” transformou-as em grandes corporações. (BOLAÑO & VIEIRA, 2014; CASTELLS, 2003; O’REGAN, 2021).
Entre os anos 1998 e 2000 o setor tecnológico correspondeu a 20% das ações que eram negociadas na bolsa, as avaliações do mercado eram altas, muito mais do que efetivamente o ramo poderia oferecer naquele momento. A forma de rentabilidade das redes era um desafio para aqueles empresários da tecnologia, uma vez que o caráter gratuito da internet impossibilitava a monetização pelas vias mais comuns à época. (OFEK & RICHARDSON, 2003; TARRIT, 2012). Em vista do parco entendimento de como se procedeu a rentabilidade desses empreendimentos, que ocasionou em uma bolha financeira no primeiro momento, e hoje situam-se entre as empresas mais rentáveis do mundo, uma investigação mais aprofundada se faz necessária.
A priori, a publicidade como matriz de financiamento não foi bem aceita, mesmo pelos empresários, e se mostrou um grande fracasso. As taxações de acesso aos sites só fizeram com que o usuário se afastasse dessas plataformas. Assim, o mercado não sabia como se rentabilizar e as apostas superestimadas desencadearam uma queda brusca das ações dessas empresas chamadas “PontoCom” em março de 2000. No mês seguinte a Nasdaq teve o seu pior tombo histórico, os títulos prosseguiram em declínio até 2001. O desajustamento do mercado foi visto como uma compensação da valorização indiscriminada daquelas firmas. Ainda assim, pouco tempo depois da bolha explodir, os investidores em capital de risco voltaram a financiar startups na esperança de encontrar um “novo Google”. Apenas isso, no entanto, não garantiria o sucesso das empresas da internet no século XXI, elas tiveram que retomar a ideia dos anúncios que agora eram feitos por uma segmentação dos espectadores, esse foi o início do que se chama hoje de “capitalismo de vigilância”. (ZUBOFF, 2020; GAITHER & CHMIELEWSKI, 2006)
A bolha das PontoCom fez com que a internet, outrora um ambiente de liberdade, fosse reconfigurada em prol de sua mercantilização, as conexões humanas foram monetizadas, pois era essa interação que as pessoas mais estavam interessadas dentro da rede. Assim, as empresas passaram a usar a plataforma como meio ao qual a finalidade era enviar mensagens publicitarias (de empresas, pessoas e, eventualmente, políticos) visando somente sua rentabilidade e, para isso, utilizaram-se de invasão de privacidade e mecanismos de algoritmos (HERSCOVICI, 2021; SNOWDEN, 2019; NETO, 2021). Isso se coaduna com o capitalismo contemporâneo em que todas instâncias da vida humana são transformadas em mercadoria (DARDOT & LAVAL, 2016).
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