Esta proposta de artigo dá início à investigação da hipótese de que a recente onda de aquisições de veículos jornalísticos da área econômica por instituições financeiras representa um marco no processo de subordinação do jornalismo econômico brasileiro à visão de mundo do capital financeiro. Desde 2011 tivemos pelo menos três publicações compradas por instituições do mercado financeiro: a Infomoney, Exame e a InvestNews que pertencem a XP inc, BTG Pactual e Nubank, respectivamente. Da era de financeirização do noticiário, estudada por Puliti (2013), estaríamos adentrando numa nova fase, na qual se produz o que aqui chamamos de noticiário da financeirização – marcado pela predominância quase absoluta de temas financeiros sobre os de viés socioeconômico, pouca pluralidade de fontes de informação e pontos de vista, subordinação aos interesses do mercado. Trata-se de perspectiva alinhada com a visão neoliberal e que nunca irá considerar o mercado financeiro como possível agente de problemas econômicos. Como ponto de partida para o debate, apresentamos um panorama das recentes aquisições de veículos econômicos por instituições financeiras e um levantamento exploratório do teor desses veículos.
O artigo justifica-se por considerarmos ser um momento novo do jornalismo econômico no Brasil, no qual as empresas do mercado especulativo não só influem sobre a mídia com pautas e fontes (PULITI, 2013), mas que agora comandam publicações importantes do cenário econômico do país e tomam as decisões editoriais sobre o que é publicado.
Dessa forma, trazemos como questão a influência do fenômeno das aquisições de sites por empresas financeiras sobre o jornalismo produzido nestes espaços e sobre o jornalismo de modo geral. Para responder a esse problema, faremos um breve histórico do jornalismo econômico nacional e, no aspecto teórico, o debate será feito sob o olhar da Economia Política da Comunicação e da Economia Política do Jornalismo. Para tanto, recorremos a Vicent Mosco (2016) para compreender o grau de controle no conteúdo da imprensa pelos donos dos veículos, consideramos ainda que apesar disso o jornalismo é um lugar de disputa e que as notícias são construídas a partir das relações entre os agentes envolvidos na produção noticiosa (TRAQUINA, 2005).
A análise exploratória será feita de maneira qualitativa e consistirá em verificar as homepages dos sítios eletrônicos da Infomoney, Exame e InvestNews. Serão analisadas suas estruturas, assuntos abordados, a divisão em editorias ou tags e publicidade. A partir do que for observado discutiremos como esses sites se configuram como espaços onde a hegemonia atual do capitalismo financeiro exerce seu domínio, ainda que tomemos esse lugar como um campo de disputa.
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