O presente trabalho tem como objetivo analisar a partir do marco da Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura (EPC) os modelos de mediação de trabalho intelectual de três plataformas de freelancer. Esses agentes se situam dentro do universo do que vem sendo chamado de trabalho em plataformas digitais (ALOISI e DeSTEFANO, 2022). As plataformas de freelancer se caracterizam pela coordenação da venda e compra da força-de-trabalho online, independentemente da localidade dos agentes, diferentemente de outras modalidades, como as plataformas focadas no local, onde a contratação da força de trabalho se dá em um determinado território (como no caso de transporte privado ou entrega).
O trabalho parte da EPC e da perspectiva de um período do capitalismo marcado pela reestruturação produtiva (LOPES, 2006) e pela ampliação da subsunção real do trabalho intelectual (BOLAÑO, 2000), no qual as plataformas digitais assumem novos modos de mediação das atividades sociais (VALENTE, 2021), especialmente no caso das relações laborais (WOOD, 2020). O trabalho em plataformas se manifesta tanto no caso do trabalho empregado por plataformas digitais para o seu funcionamento quanto por meio de plataformas de mediação de trabalho, que coordenam a oferta e demanda dessa mercadoria. Elas provocam uma despadronização das relações de trabalho constituídas a partir do modelo do Fordismo, retirando o vínculo empregatício e, consequentemente, a jornada de trabalho e a remuneração pré-contratadas, operando como ponta de lança de um processo de precarização das relações de trabalho (WOODCOCK e GRAHAM, 2019).
Ancorado nesse referencial e nessas preocupações, o trabalho desenvolve seu argumento a partir da seguinte interrogação: quais são os modelos de negócio e as dinâmicas de subsunção do trabalho intelectual das plataformas Freelaweb, 99Freela e Freelas? A análise foi organizada em torno de categorias como a caracterização de cada plataforma, meios de acesso dos trabalhadores e contratantes a ela, modelos de negócio, modos de contratação da força de trabalho, formas de remuneração dos trabalhadores e dos contratantes, conteúdos do trabalho. O trabalho é resultado de pesquisa conduzida pelo Laboratório de Pesquisa em Economia, Tecnologia e Políticas de Comunicação da Universidade Federal do Ceará (Telas-UFC) ao longo do ano de 2022 com plataformas de mediação de trabalho no Brasil.
O estudo identifica aspectos comuns e específicos de como cada plataforma organiza seus processos de agenciamento da compra e venda da força de trabalho. Esses agentes descaracterizam a condição e a identidade de trabalhador dos trabalhadores e coletam uma quantidade abusiva de dados com frágil garantia da proteção das informações pessoais . Elas operam em modelos de negócio de taxação dos serviços prestados, mas também com planos para obter remuneração por recursos adicionais (como ampliar a visibilidade do trabalhador). Os agentes medeiam a contratação da força-de-trabalho por meio de regras definidas cujo descumprimento enseja um conjunto de punições, não se responsabilizando por danos ou problemas experimentados pelos trabalhadores. O estudo aponta diversos mecanismos que precarizam a relação de trabalho e conformam um modelo com consequências danosas para os trabalhadores, da sua remuneração à autonomia no desenvolvimento do trabalho.
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