Quando pensamos em um regime democrático, é provável que nos venha à mente um regime em que exista não apenas liberdade, mas garantias institucionais a essa liberdade. Liberdade de expressão, de escolha, de voto etc. A liberdade é garantida no regime graças às suas instituições mantenedoras como os poderes judiciário, legislativo e executivo e, para além do aparato público, a imprensa. Imaginamos que as instituições democráticas balizam a liberdade de forma que eventuais abusos que sejam cometidos em nome da própria liberdade sejam devidamente reprimidos. Por exemplo, a Constituição Brasileira garante a liberdade de expressão, porém a mesma não pode ser usada para incentivar discursos de ódio, como apologia ao nazismo, ao racismo e até mesmo o negacionismo científico em tempos de pandemia. Nos encontramos em um cenário considerado por muitos cientistas políticos como "pósdemocrático", ou seja, em que as instituições democráticas cumprem mais um papel normativo do que atuante, devido em muito ao avanço do neoliberalismo e sua lógica operacional sobre todas as esferas da vida cotidiana. Some-se a isso uma sobrecarga informacional, possibilitada pelas novas mídias e redes sociais e seu apelo a velocidade, parece ser cada vez mais difícil para o cidadão filtrar e refletir criticamente acerca da enorme quantidade de informações que recebe a todo momento. A hiperinformação, uma das formas de desinformação, pode oferecer um excesso de conteúdo com o objetivo de retorno financeiro através do engajamento, mas é também uma forma de oferecer informação nem sempre completamente mentirosa, mas pasteurizada, homogênea, sem apelo ao raciocínio crítico e muito mais voltada às emoções e opiniões já formadas, muito mais cristalizando preconceitos do que informando e promovendo reflexão. Será que a torrente incessante de informações pasteurizadas esteja muito mais a favor de angariar adesão ao neoliberalismo do que superá-lo, nem que para isso precise flertar com o perigo de promover abertura e legitimação para ideias autoritárias e discursos de ódio? Dentro desse contexto de hiperinformação em um ambiente pós-democrático, seria possível afirmar que o excesso de informação, mais do que mascara discursos autoritários e de ódio, mas também os torna mais palatáveis às pessoas uma vez que "vence pelo cansaço" sem o devido posicionamento das instituições responsáveis por defender os direitos humanos? E seria possível que as instituições conseguissem investigar cada ataque de discursos de ódio em meio a esse ambiente desregulado e hiperestimulante que é a internet? O problema da desinformação segue em diversas frentes e ainda que não consigamos superálo completamente, fato é que o fortalecimento da democracia e a real valorização da liberdade de expressão devem ser caminhos a serem traçados. E isso tem passado cada vez mais pelo cultivo da solidariedade e empatia por meio de inclusão e diversidade. Apenas em uma sociedade que enxergue e respeite o “outro” como igual é que poderemos pensar em avanços que proponham melhorias e bem-estar coletivos.
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