O presente resumo é parte de um estudo ainda introdutório sobre a importância do conceito de gênero para as discussões acerca da comunicação popular e comunitária propostas por Miani (2011). As inquietações aqui apresentadas surgiram como desdobramento de uma pesquisa de mestrado que analisou a presença de mulheres nas charges sindicais do jornal tribuna dos metalúrgicos durante os anos noventa (MIANI E SOUZA, 2021). A pesquisa apresentou como direcionamento teórico as discussões marxistas sobre o conceito de trabalho e de sindicato, bem como os estudos sobre comunicação popular, comunicação sindical e charges sindicais desenvolvidos por Miani (1990). Para as análises de gênero e de gênero no sindicato estamos amparados pelas discussões teóricas propostas por Kergoat (2010), Izquierdo (1990), Saffioti (2013), Souza-Lobo (2021), dentre outras autoras. A pesquisa apontou que as mulheres estão presentes em apenas 19% das charges produzidas no período, e são representadas, majoritariamente, como esposas e mães metalúrgicas, relegando a segundo plano a condição de trabalhadoras e de companheiras de luta. Em geral, as reflexões e as análises apontam que a participação feminina nos sindicatos, durante a década de 1990, se deu de forma secundária e desigual.
Tais resultados nos instigou a refletir teoricamente sobre as articulações em torno do conceito de comunicação popular e comunitária, entendendo que a comunicação sindical se vincula a esse eixo teórico da comunicação, se enquadrando mais facilmente a ideia de comunicação popular. A comunicação popular e comunitária apresenta basicamente dois princípios norteadores: o de ser uma comunicação produzida em oposição ao sistema capitalista, ou seja, de contra hegemonia, entendendo a palavra popular na perspectiva de classe, e a ideia de comunitário, de ser uma comunicação numa perspectiva de construir novas formas de sociabilidade, de retomada da noção de coletividade e de preocupação com a emancipação dos sujeitos.
Neste sentido, se na comunicação popular existe uma preocupação dada com a classe, há de se refletir também sobre a ideia de uma classe trabalhadora não homogênea, formada por homens e mulheres, negros e brancos, entre outros. Por esse aspecto essa pesquisa de cunho bibliográfico, ainda em fase inicial, entende que para enquadrar qualquer manifestação de comunicação produzida com pretensões populares e comunitárias deve se preocupar em oportunizar espaços de liderança e protagonismo de mulheres, para as pautas específicas do público feminino, além de propiciar um ambiente livre de machismo e misoginia para livre participação das mulheres, bem como produzir uma comunicação que se norteie também por esses mesmos parâmetros, e que, estejam, no limite, em oposição as lógicas patriarcais disseminadas na mídia hegemônica.
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