A despeito do papel crucial que as experiências dos primeiros anos de vida têm para cada sujeito e para a vida social, há certa tendência de minorar o mundo das crianças nos estudos acadêmicos. O objetivo deste texto, que tem como método a pesquisa bibliográfica, é apresentar fundamentos e propostas sobre por que e como as infâncias precisam ser tratadas pela Ciência da Informação. Neste trabalho, tomamos a criança como um ser social em construção (BENJAMIN, 2009), de linguagens, culturas e saberes próprios, por sua vez inseridos em um contexto sócio-histórico maior, partícipe de um povo. Com base na teoria crítica da sociedade (HORKHEIMER, 1980), enxerga-se as infâncias como singulares e múltiplas, constituídas e constituintes de um povo, além de indicativas do futuro que se desenha.
Avaliamos que a teoria crítica da informação (BEZERRA, 2019) constitui-se como importante forma de pensar as infâncias atuais, imersas, cada vez mais precocemente, na ubiquidade das relações com as tecnologias. Crianças e adolescentes têm participação ativa no consumo e produção de informação e o público usuário da internet entre 9 e 17 anos somou 93% em 2021 (CETIC.BR, 2022). O aumento mais significativo foi na faixa mais jovem (de 9 a 10 anos), que passou de 79%, em 2019, para 92% em 2021. Nesta faixa, surpreende também que 68% já têm perfis em redes sociais, apesar de as próprias plataformas declararem que são projetadas para adolescentes a partir dos 13 anos.
Estes ambientes operam um novo tipo de sistema econômico, que quer mudar o comportamento das pessoas monetizando dados por meio de vigilância ininterrupta (ZUBOFF, 2020). Eles transmitem a ideologia neoliberal dominante (CHAUÍ, 1980), opressora (FREIRE, 2019) e da competência individualista que cria falsas necessidades e incentiva o consumo. É uma ideologia de valores mercadológicos que tem por objetivo manter o status quo, fazendo perdurar as ideias proclamadas pelo neoliberalismo como corretas e perpetuando a desigualdade, a exploração econômica e a dominação dos mais pobres pelos mais ricos, dos oprimidos pelos opressores.
Nesse sentido, avaliamos que a criança que consome as informações das redes sem a mediação necessária para fornecer o arcabouço crítico que lhe permitirá analisar o que lê ou que compartilha pode tornar-se mais uma vítima do que Marcuse (2015) classificou como sociedade unidimensional. O pensamento unidimensional, amplamente reverberado pela expansão das tecnologias digitais e pelos seus critérios algoritmizados de relevância e filtragem, reforça a possibilidade de dominação do indivíduo.
Para pensar a práxis emancipatória, propomos o caminho da competência crítica em informação (BEZERRA, SCHNEIDER, SALDANHA, 2019) que, de mãos dadas à teoria crítica e à pedagogia crítica, visa fornecer à criança uma consciência crítica em prol de sua emancipação como indivíduo. Nessa medida, este estudo conclui que a Ciência da Informação possui importantes bases conceituais e suficiente ferramental de análise para constituir-se como suporte ao desenvolvimento de práticas emancipatórias para as infâncias contemporâneas.
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