O debate sobre o cálculo econômico socialista e a EPC

  • Autor
  • Manoel Dourado Bastos
  • Co-autores
  • Gina Mardones Loncomilla
  • Resumo
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    O presente artigo se propõe a apresentar um projeto de investigação cuja meta é o de analisar criticamente o assim chamado “debate sobre o cálculo econômico socialista”, baseando-se na Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura (EPC) (BOLAÑO e BASTOS, 2020). O projeto de investigação, a partir do “método da derivação das formas” (BOLAÑO, 2015), adota a estratégia de crítica dos textos clássicos do debate (MISES, 2012; HAYEK, 2013; LANGE, 2022), bem como de incursões teóricas contemporâneas (COTTRELL e COCKSHOTT, 2022, 2019a e 2019b; MOROZOV, 2022; FERRÁNDEZ, 2022; SRNICEK e WILLIAMS, 2016; FRASE, 2020, BERNES, 2020; APOLITO, 2022; BENANAV, 2021). Desenvolve ainda estudos de experiências informacionais de planificação econômica, como a URSS (PETERS, 2016) e o Chile (MEDINA, 2011). Para o presente artigo, nos focaremos em lançar alguns argumentos sobre o debate clássico e sobre a experiência chilena do projeto Synco.

    Reconhecido em suas limitações teóricas econômicas (PAULANI, 2005 e 2008), o neoliberalismo é, de fato, uma doutrina informacional. Segundo a EPC, observamos as limitações das homologias entre as percepções sobre o conhecimento humano num sistema de preços de livre mercado e as formulações da Teoria Matemática da Comunicação e da Cibernética sobre a informação. Inicialmente Mises (2012), em 1920, e depois Hayek (2013), em 1945, abandonaram as premissas neoclássicas, passando a uma explicação doutrinária do sistema de preços característico do livre mercado. Para Mises e Hayek, o sistema de preços, definido como uma catalaxia, seria o único capaz de garantir de maneira satisfatória para cada indivíduo as informações necessárias suficientes para sua tomada de decisões, ressaltando a ordem espontânea e descentralizada do mercado como um gigante sistema capaz de processar constantemente as informações e prover toda a retroalimentação necessária, de maneira auto-organizada.

    Por outro lado, segundo os autores, toda a tentativa de promover o planejamento econômico, ao se organizar a partir de um Estado centralizado e interventor na economia, não só esbarraria na sua impossibilidade empírica de lidar com o extenso e heterogêneo conjunto de informações disponíveis nas relações econômicas, como redundaria num processo nefasto de ações políticas autoritárias, oprimindo a livre iniciativa dos indivíduos e gerando distorções. Confrontados por Lange, que em 1936 e 1937 publicou um texto, em duas partes, visando demostrar a viabilidade do cálculo econômico e cujo fundamento era justamente a economia neoclássica, Mises e Hayek estipularam especialmente nesses dois artigos os fundamentos gerais do que, anos depois, curiosamente se tornaria um projeto de política governamental, para gerenciar por dentro do Estado sua pretensa anulação como agente econômico planejador.

    Ao mesmo tempo, experiências de governos socialistas lidaram com a perspectiva de uso da cibernética para a promoção da planificação econômica, ora de maneira mais conflitiva, como na URSS (PETERS, 2014), ora de maneira mais entusiasmada, como no Chile (MEDINA, 2011), de qualquer modo com resultados promissores, mas insuficientes. Destacaremos a experiência do projeto Synco, desenvolvida durante o governo Allende a partir da cibernética organizacional de Stafford Beer, não por acaso derrubada por um golpe marcado como experiência pioneira do neoliberalismo.

  • Palavras-chave
  • forma social da comunicação; doutrina neoliberal da informação; cálculo econômico socialista
  • Área Temática
  • GT 6 – Teoria e Epistemologia da Economia Política da Comunicação
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