O “Patriarcado de Mídia” e as representações liberais de lideranças femininas

  • Autor
  • Karime Peres Vilela
  • Co-autores
  • Gabriela Fernandes Silva , Rafaela Martins de Souza
  • Resumo
  •  

    Em 13 de abril de 2020, Avivah Wittenberg-Cox (2020a) escreveu o artigo “O que os países com as melhores respostas ao coronavírus têm em comum? Mulheres Líderes” para a revista estadunidense Forbes. No dia 22 de abril do mesmo ano, mais um artigo sobre o tema foi publicado na editoria dedicada a negócios e economia (WITTENBERG-COX, 2020b).

    No artigo publicado em 13 de abril, a autora procura enaltecer as qualidades que supostamente mulheres possuem para a resolução de crises. No primeiro parágrafo, há uma correlação entre a mulher e a família, como se o cuidado fosse uma disposição feminina, visto que “as mulheres estão se preparando para mostrar ao mundo como lidar com uma situação complicada para nossa família humana” (WITTENBERG-COX, 2020a). A autora descreve que, na pandemia do coronavírus, as mulheres estão revelando que possuem o que é preciso para lidar com crises e problemas nos cargos de liderança e de chefia de Estado, com o que se confirma a ideia da mulher como ente natural para o trabalho de cuidado (care).

    Buscando uma crítica desses argumentos, o presente texto tem por objetivos: a) demonstrar como o feminismo liberal está presente na mídia patriarcal; diante do que devemos b) refletir sobre os papéis relegados ao feminino dentro do capitalismo patriarcal e demonstrar como estão envoltos numa compreensão liberal de gênero. Para alcançar esses objetivos, analisaremos particularmente os artigos supracitados da revista Forbes.

    Ao longo do artigo, retomamos o debate sobre a articulação entre Economia Política da Comunicação e da Cultura e o feminismo marxista. Para isso, dedicamos atenção a alguns aspectos das abordagens de Scholz e Federici. A partir disso, destacamos o processo de desenvolvimento daquela articulação, iniciando com o artigo de Souza e Bastos (2019a) até as reelaborações de Bolaño, Bastos e Souza (2020). Particularmente, avaliamos o conceito de “patriarcado de mídia”, desde a perspectiva inaugural de Veloso (2013, 2017 e 2019), até a reelaboração de Souza e Bastos (2019b). A partir dessas primeiras formulações, num plano mais abstrato, foi possível seguirmos para uma dimensão mais concreta e proceder à análise de dois artigos publicados pela revista Forbes (WITTENBERG-COX, 2020a e 2020b). Neles, flagramos como o contexto de crise pandêmica configura um ambiente específico do patriarcado capitalista que, por sua vez, opera modulações na divisão sexual do trabalho, que redunda em particularidades da função programa e função propaganda, operando a representação de qualidades inatas das mulheres para liderarem a situação de pandemia, sem considerar (e, com isso, camuflando) o maior grau de vulnerabilidade das mulheres nessa situação histórica.

    Vimos que uma revista como a Forbes age no sentido de, ao substituir necessidades simbólicas das mulheres, promove a ideologia neoliberal e sua perspectiva de divisão sexual do trabalho.

     

     

  • Palavras-chave
  • Papel das mulheres; crise do coronavírus; representação liberal feminina
  • Área Temática
  • GT 8 – Estudos Críticos sobre identidade, gênero e raça
Voltar Download
  • GT1 – Políticas de comunicação
  • GT2 – Comunicação popular, alternativa e comunitária
  • GT3 – Indústrias midiáticas
  • GT4 – Políticas culturais e economia política da cultura
  • GT5 – Economia Política do Jornalismo
  • GT 6 – Teoria e Epistemologia da Economia Política da Comunicação
  • GT7- Estudos Críticos em Ciência da Informação
  • GT 8 – Estudos Críticos sobre identidade, gênero e raça
  • GT Especial - Homenagem a Valério Brittos
  • Jornada de Graduandas e Graduandos

Comissão Organizadora

Ulepicc-Brasil

Comissão Científica