Em 13 de abril de 2020, Avivah Wittenberg-Cox (2020a) escreveu o artigo “O que os países com as melhores respostas ao coronavírus têm em comum? Mulheres Líderes” para a revista estadunidense Forbes. No dia 22 de abril do mesmo ano, mais um artigo sobre o tema foi publicado na editoria dedicada a negócios e economia (WITTENBERG-COX, 2020b).
No artigo publicado em 13 de abril, a autora procura enaltecer as qualidades que supostamente mulheres possuem para a resolução de crises. No primeiro parágrafo, há uma correlação entre a mulher e a família, como se o cuidado fosse uma disposição feminina, visto que “as mulheres estão se preparando para mostrar ao mundo como lidar com uma situação complicada para nossa família humana” (WITTENBERG-COX, 2020a). A autora descreve que, na pandemia do coronavírus, as mulheres estão revelando que possuem o que é preciso para lidar com crises e problemas nos cargos de liderança e de chefia de Estado, com o que se confirma a ideia da mulher como ente natural para o trabalho de cuidado (care).
Buscando uma crítica desses argumentos, o presente texto tem por objetivos: a) demonstrar como o feminismo liberal está presente na mídia patriarcal; diante do que devemos b) refletir sobre os papéis relegados ao feminino dentro do capitalismo patriarcal e demonstrar como estão envoltos numa compreensão liberal de gênero. Para alcançar esses objetivos, analisaremos particularmente os artigos supracitados da revista Forbes.
Ao longo do artigo, retomamos o debate sobre a articulação entre Economia Política da Comunicação e da Cultura e o feminismo marxista. Para isso, dedicamos atenção a alguns aspectos das abordagens de Scholz e Federici. A partir disso, destacamos o processo de desenvolvimento daquela articulação, iniciando com o artigo de Souza e Bastos (2019a) até as reelaborações de Bolaño, Bastos e Souza (2020). Particularmente, avaliamos o conceito de “patriarcado de mídia”, desde a perspectiva inaugural de Veloso (2013, 2017 e 2019), até a reelaboração de Souza e Bastos (2019b). A partir dessas primeiras formulações, num plano mais abstrato, foi possível seguirmos para uma dimensão mais concreta e proceder à análise de dois artigos publicados pela revista Forbes (WITTENBERG-COX, 2020a e 2020b). Neles, flagramos como o contexto de crise pandêmica configura um ambiente específico do patriarcado capitalista que, por sua vez, opera modulações na divisão sexual do trabalho, que redunda em particularidades da função programa e função propaganda, operando a representação de qualidades inatas das mulheres para liderarem a situação de pandemia, sem considerar (e, com isso, camuflando) o maior grau de vulnerabilidade das mulheres nessa situação histórica.
Vimos que uma revista como a Forbes age no sentido de, ao substituir necessidades simbólicas das mulheres, promove a ideologia neoliberal e sua perspectiva de divisão sexual do trabalho.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comissão Científica