O cenário profissional de hoje parece estar com os dias contados. Se todas as hipóteses forem confirmadas, a expectativa é de que 54% das mais de duas mil profissões formais no Brasil sejam substituídas por robôs ou programas de computador até 2026 (ALBUQUERQUE et al., 2019).
Nesse novo contexto, quem parece levar vantagem, num primeiro momento, são as mulheres. Mais escolarizadas que os homens e com características mais difíceis de serem copiadas, as mulheres apresentam melhores perspectivas nos empregos do futuro. É partindo dessa visão feminista de Mercedes D’Alessandro que desenvolvemos uma avaliação crítica no primeiro momento do trabalho presente.
Em seguida, explicamos os “trabalhos de merda” (GRAEBER, 2018) e a “crise do valor de troca” (KURZ, 2017), essencialmente relacionados. O desemprego tecnológico junto com a ausência de políticas públicas para lidar com os problemas causados pela automação (inexistência de programas de capacitação de trabalhadores para a reinserção em outros setores, por exemplo) fazem com que surjam novos empregos sem quaisquer serventias, aqui entendidos como “empregos de merda”. Tais processos, diferentes quando analisados separadamente, parecem unir-se em um só movimento: a crise do sistema capitalista, ou “crise do valor de troca” (KURZ, 2017).
Por fim, voltamos à economia feminista, dessa vez partindo para uma perspectiva da Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura como aparato conceitual e de método para a análise da temática. No último capítulo, focamos no conceito de acumulação primitiva, que está na base tanto do argumento feminista proposto por Federici (2017) quanto na EPC formulada por César Bolaño (2000). Ao contrário do que foi apresentado no primeiro capítulo, sugerimos aqui que a digitalização das TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação), como elemento crucial das transformações no mundo do trabalho, geraram situações de agravamento do caráter patriarcal das relações de gênero.
O problema do desemprego atrelado ao desenvolvimento tecnológico é um tema antigo no debate público e na pesquisa acadêmica e envolve a maioria dos (senão todos os) empregos, inclusive os da Comunicação. A crise do sistema capitalista, por sua vez, afeta diretamente toda a população. Sendo assim, entender e estudar a situação que vivemos atualmente faz-se justificável. A Economia Política da Comunicação se mostra um instrumento de análise adequado para aspectos das transformações do mundo do trabalho. Por isso, um estudo sobre as relações entre desemprego tecnológico e economia feminista ganham novos contornos quando estudados pelo prisma da Comunicação. Para além, pensar em uma economia feminista, a fim de construir um mundo mais justo, deveria fazer parte da maioria dos estudos atuais.
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